Eles superaram dramas pessoais e ajudam outros jovens

20 de Agosto de 2025

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Eles superaram dramas pessoais e ajudam outros jovens
Um dos projetos mais encantadores que existem em Fernandópolis é o “Sonhadores”. Concebido por Marcos Vilela, o projeto reúne jovens através da música e de conceitos de civismo e cidadania. Hoje, o grupo – que realizou suas primeiras reuniões debaixo de uma árvore – cresceu, ganhou adeptos entre empresários e autoridades e leva sua palavra otimista a quem dela precisa. Mais importante ainda, o “Sonhadores” tem jovens que são verdadeiros exemplos de vida. Eles superaram dramas pessoais, como é o caso da garota Vitória de Araujo Ponciano, de 14 anos, estudante da 8ª série do JAP. Vitória, um dia, descobriu um nódulo no pescoço, mas não desanimou. Foi à luta, encarou o tratamento e, com sua música e sua alegria, tem sabido passar por cima da doença. Ou então, Ariane Eduarda Carvalho de Oliveira, de 12 anos e alegria esfuziante. Ariane, que está na 7ª série da Escola Carlos Barozi, conseguiu o que mais queria: a reconciliação de seus pais. Outro grande exemplo de superação é Wellinson da Silva Tozatti, 16, que passou por cima de uma terrível tragédia familiar – perdeu pai e mãe – foi criado pelos avós maternos e é hoje o regente da orquestra dos “Sonhadores”. Na noite de quinta-feira, a orquestra tocou para os internos da “Casa Abrigo” de Fernandópolis, levando uma palavra de otimismo e um abraço fraterno. Os três jovens aqui citados nasceram em Fernandópolis. Isso é significativo.
Vitória
CIDADÃO: Na sua vida, qual foi o grande problema que você enfrentou?
VITÓRIA: Já passei por muitos obstáculos para chegar onde estou. Passei por duas cirurgias. Faço tratamento no Hospital do Câncer de Barretos. Foi uma longa história. Quando eu tinha 12 anos, surgiu um nódulo no pescoço, sobre a carótida. Minha mãe viu, ficou preocupada e me levou à AVCC. Fui encaminhada a Barretos. Fiquei muito triste, porque a ideia que se faz é: Barretos – câncer – morte. Eu pensava assim. Depois de certo tempo, fiz a cirurgia. Os médicos descobriram que o nódulo era benigno. Foi nesse meio tempo que o “Sonhadores” entrou na minha vida. A partir daí, eu me senti importante e vi que meu problema não era a coisa mais importante do mundo. Eu poderia superá-lo. Vi um violino e me apaixonei por ele. Comecei a aprender a tocar. Nesse período, surgiu outro nódulo, mas ele desapareceu durante a série de exames. Continuei tocando e entrei rapidamente para a orquestra. Os professores se impressionaram como uma pessoa que não sabia nem pegar no violino, poderia aprender tão rápido. Estou muito feliz e agradeço a Deus por estar sempre no meu caminho e não me deixar desamparada. Em Barretos, vi grandes dramas que me fizeram aprender a valorizar a vida. Como disse Charles Chaplin, “A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso, cante, chore e dance antes que a peça termine – e termine sem aplausos”. A gente só deve se arrepender daquilo que não fez.
CIDADÃO: O que o “Sonhadores” representa na sua vida?
VITÓRIA: Uma família que me acolheu. Há muito amor nas relações entre as pessoas, você se sente útil. É bom se sentir importante para um grupo de pessoas que gosta de você como você é.
CIDADÃO: A sua vida melhorou depois que entrou para o projeto?
VITÓRIA: Muito, porque o projeto é essencial para indicar o melhor caminho para os jovens. Às segundas e quartas, vai me dando uma felicidade de saber que tem reunião. Hoje, sou apaixonada por música clássica, e devo isso ao projeto.
CIDADÃO: O que você quer ser quando crescer?
VITÓRIA: Eu quero fazer algo relacionado à área da saúde, com especialização em tratamento do câncer. Se Deus me der essa graça, quero trabalhar no hospital de Barretos.
CIDADÃO: Cite uma pessoa que você admira.
VITÓRIA: O médico. Ele é um profissional que tem um grande objetivo. Aquilo que ele faz é muito importante. Meu médico está há seis meses nos Estados Unidos e estou morrendo de saudade dele, porque ele é também um amigo.
Ariane
CIDADÃO: Qual foi a sua grande tristeza?
ARIANE: Na realidade, não tenho tido nenhuma tristeza, porque meus pais me dão todo o apoio e incentivo, em tudo o que vou fazer. Tristeza mesmo eu tive quando eles se separaram, mas acabaram voltando, graças a Deus, e isso foi uma grande vitória para mim. Somos muito unidos. Eu vou sempre à igreja, e agradeço por isso. Só tenho a agradecer aos meus pais.
CIDADÃO: Por que você entrou para o projeto “Sonhadores”?
ARIANE: Fui convidada pelo Marcão, que me contou como era o trabalho. Alguns colegas de escola já estavam lá, me contavam das atividades.
CIDADÃO: Você toca dois instrumentos, não é? Por que escolheu violão e violino?
ARIANE: Eu amo a música! Sinto muita curiosidade de aprender a tocar novos instrumentos, fazer novas conquistas. Comecei no violino porque é um instrumento que bate na alma e faz a gente expressar os sentimentos. Dá para perceber nosso estado de espírito pela maneira como você toca. É uma forma de expressão. Também sempre tive vontade de tocar violão porque permite cantar e tocar ao mesmo tempo. Aí, já fui fazer logo dois instrumentos.
CIDADÃO: Quem é uma pessoa que você admira?
ARIANE: Admiro o Dr. Evandro Pelarin. Creio que, sem ele, o sucesso do nosso projeto seria muito difícil. No começo de tudo, o Marcão tinha que levar os meninos para o Beira-Rio. Quando o Dr. Pelarin conheceu o projeto, ajudou de várias maneiras. E também admiro muito o Marcão. Ele teve uma grande idéia ao criar o projeto, que ajuda tantos jovens. Nosso futuro certamente será melhor a partir dos “Sonhadores”.
CIDADÃO: O que você quer ser no futuro?
ARIANE: Ô pergunta difícil! (risos). Queria ser tanta coisa. Talvez eu seja advogada, delegada, quem sabe juíza. Talvez eu seja musicista, veterinária. Quem é do “Sonhadores” tem que sonhar alto!
Wellinson
CIDADÃO: Você foi criado por quem?
WELLINSON: Pelos meus avós maternos.
CIDADÃO: Como chegou ao projeto “Sonhadores”?
WELLINSON: Uma vez, o Marcos chamou uns quatro garotos (eu era um deles) e disse que queria criar um projeto social. Passamos a chamar a molecada do bairro para as reuniões, que eram debaixo de uma árvore. Saíamos dali de perto do Shopping e íamos pro Beira-Rio. Brincávamos descalços, porque ninguém tinha chuteira. O Téda (empresário de Fernandópolis) sempre fazia caminhada por ali e pagava uns refrigerantes para nós. Não podíamos ver o Téda que já pedíamos um fardo de refrigerante (risos). Aí, pensamos em pedir apoios e patrocínios. O Marcos foi com o filho dele ao Fórum para falar com o Dr. Evandro. Depois, o Dr. Evandro contou que ao ver o Marcos pensou que era um ex-presidiário que iria pedir pra soltar algum amigo dele (risos). Depois, viu que não era isso. O Marcos contou do projeto e o Dr. Evandro falou que no sábado seguinte iria ver a reunião. Nesse dia, ele levou um monte de chuteiras para a molecada. Ele virou voluntário do projeto, e vieram outros.
CIDADÃO: O que o “Sonhadores” representa para a sua vida?
WELLINSON: Muita coisa. Ele me ajudou bastante, porque sem ele, eu provavelmente estaria na rua. Meu avô e minha avó sempre me deram bons exemplos, mas não sei se saberia me comportar, sem o projeto.
CIDADÃO: Você tem um dom natural para a música. Há quanto tempo você toca?
WELLINSON: Comecei a fazer aulas no CRAS perto da minha casa. Fiz quatro anos, mas a maioria do que sei aprendi sozinho. Procurava na Internet... Ainda não sei o que vou ser no futuro, mas talvez seja músico, mesmo.
CIDADÃO: Quem você admira?
WELLINSON: Meu avô, Arlindo Luiz da Silva. É um homem trabalhador, que me criou e ensinou muita coisa boa. Por causa dele sou feliz, graças a Deus.