Na virada do milênio, o jovem cirurgião plástico Humberto Regis de Paula Faleiros, formado pela Unesp de Botucatu onde também fez residência médica na sua especialidade rumou para a Europa, para cursar pós-graduação em micro-cirurgia em Bordeaux, na França. Mais de dez anos depois, agora aos 40 anos, Humberto acaba de retornar de nova viagem ao Velho Continente só que, desta vez, ele foi para ensinar técnicas recentemente desenvolvidas aos colegas franceses. O sucesso da empreitada acabou criando um convênio entre cirurgiões franceses e o curso de Medicina da Unicastelo, cujos alunos terão a possibilidade de estudar em hospitais do sul da França. Casado com Mariângela, pai de Mariana e Amanda, o Beto Faleiros, como o chamamos, é hoje Mestre em cirurgia pela Unesp, membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica e professor de cirurgia plástica na faculdade de Medicina de Fernandópolis.
CIDADÃO: Qual foi o motivo da sua recente viagem à França?
HUMBERTO: Depois que voltei da França, no final de 2000, venho mantendo contatos com a comunidade médica de lá. Inclusive, dois cirurgiões plásticos franceses vieram para cá, tempos atrás, para um estágio aqui em Fernandópolis. Lá, não se tem tanta experiência em cirurgia estética como no Brasil, que é o berço dessa cirurgia. Somos o segundo país em cirurgia estética, só perdendo para os EUA. O profissional brasileiro é considerado habilidoso e criativo. A cirurgia plástica brasileira é reconhecida mundialmente. Na França, não existe essa cultura do corpo, a vaidade. A cirurgia estética não é tão desenvolvida quanto no Brasil, principalmente algumas cirurgias novas, como a prótese glútea, com implante de silicone na região glútea. Na nossa região, eu sou o cirurgião com maior experiência nessa cirurgia, pois comecei a fazer em 2002. Não é uma cirurgia fácil como a da prótese de mama: exige uma técnica mais apurada e conhecimento anatômico, pois ali está o nervo ciático, que pode ser lesionado. Depois que comecei a fazer, aos poucos os casos aumentaram. Colegas da região me encaminham alguns pacientes. Na França, só um cirurgião faz esse tipo de intervenção veja, num país com 60 milhões de habitantes há só um cirurgião que pratica essa operação. Ele tem cerca de 80 casos. Por esse motivo, me convidaram para ir lá e fazer uma cirurgia demonstrativa e ministrar uma conferência.
CIDADÃO: O seu francês ainda está afiado?
HUMBERTO: Até que está. Incrível como a gente não esquece! Na verdade, a origem da língua é a mesma da nossa latina. Isso aconteceu no dia 11 de março, fiz a cirurgia no Centro Hospitalar da Costa Basca, no serviço do Dr. Vincent, em Bayonne. São três cidades próximas: Bayonne, Anglet e Biarritz. Ficam no sul da França, na Costa do Atlêntco e perto dos Pirineus. O Dr. Vincent, cirurgião que permaneceu um mês comigo aqui em Fernandópolis e gostou bastante me convidou para essa participação. Fui muito bem recebido, diferentemente de quando fui pela primeira vez: afinal, ninguém me conhecia. Desta vez, vieram cirurgiões de Bordeaux, Toulouse, Biarritz, até um belga assistiu à cirurgia e à conferência. Depois, quiseram ver outros casos meus, inclusive de cirurgias de abdome, mama, nariz, face. Tive que dar outra conferência, só para o pessoal do hospital. O melhor de tudo é que eles se interessaram em fazer um intercâmbio, que já está acertado. Mandaremos um residente da cirurgia geral da Medicina da Unicastelo. Eles fornecerão alojamento no Centro Hospitalar e um salário em torno de mil euros. O residente, se quiser, poderá ficar lá até por um ano. Em contrapartida, eles mandarão os residentes de cirurgia plástica para ficar conosco e se aprofundarem na cirurgia estética.
CIDADÃO: Essa contrapartida que compete a Fernandópolis inclui salário ou alguma ajuda de custo?
HUMBERTO: Isso está sendo discutido com a Unicastelo. Já falei com o Dr. Luiz Gustavo, que é o chefe da residência, e com o Dr. Ademir, coordenador da Medicina. Tudo está sendo preparado para oferecer condições dignas para esses profissionais franceses. Precisamos de alojamento para eles. Se bem que o brasileiro é muito receptivo, e teno certeza que logo eles serão chamados pelos colegas daqui para morarem juntos, essas coisas (risos).
CIDADÃO: De que forma a direção da Unicastelo recebeu esse projeto?
HUMBERTO: A universidade foi super receptiva. Adoraram a idéia, e consideraram esse intercâmbio como muito importante para a instituição. Isso ajudará a consolidar a Medicina da Unicastelo como um bom curso de graduação e de residência médica.
CIDADÃO: O Brasil é a Meca da cirurgia plástica. Até onde isso tem a ver com o sol, a praia, a exposição do corpo, diferentemente do que acontece na Europa, onde o inverno e o outono são rigorosos?
HUMBERTO: Acho que há dois fatores: o climático aqui não faz frio e as pessoas usam menos vestimentas, o que promove uma exposição maior do corpo, o que fomenta o segmento da vaidade, o culto ao corpo, diferente do europeu, que anda cinco ou seis meses por ano encapotado. O outro fator é racial, étnico: o Brasil é uma mistura de etnias, e é um povo alegre, aberto, que gosta de cantar e dançar. Isso leva a uma maior relação interpessoal e fomenta o desejo de ser esteticamente bonito. E aí entra o conceito do que é belo. Aconteceu uma coisa legal nessa viagem á França: mostrei imagens de alguns casos de prótese glútea e de enxerto de gordura hoje, a gente aumenta bumbum com a própria gordura corporal, é feita uma lipoaspiração, seleciona-se as células gordurosas e injeta-se em outras regiões, principalmente a glútea. A técnica de seleção dessa gordura tem melhorado e os resultados idem. Bem, mostrei as imagens dos resultados e algumas mulheres francesas que participavam da conferência disseram: Esse bumbum é muito grande para nós!. Então, aí entra o que é belo, o conceito de beleza. Para nós, mulher bonita é a de cintura fina, bumbum grande enfim, tipo Juliana Paes. Para os franceses, o padrão é outro. Curioso é que na primeira conferência que aconteceu no dia 11 à tarde as enfermeiras presentes consideraram o bumbum muito grande. À noite, na segunda conferência, essas enfermeiras foram novamente, e disseram: Ué, parece que já não estou achando tão grande... (risos). Veja como os conceitos se alteram e as pessoas vão aos poucos aceitando mudanças.
CIDADÃO: Nos aos 70 e 80, praticamente todo artigo que se lia sobre cirurgia plástica, especialmente nas revistas, era canalizado para a mulher. Parecia que só a mulher fazia plástica, e o homem só fazia a reparadora. Hoje, o homem ficou mais vaidoso?
HUMBERTO: Há 20 ou 30 anos, quando o homem fazia uma lipo, por exemplo, ele ao contava para ninguém, tinha medo de que duvidassem de sua masculinidade. Hoje, isso mudou. Muitos artistas fazem procedimentos estéticos e divulgam isso. O jogador Ronaldo fenômeno recentemente fez uma lipoaspiração. O culto ao corpo chegou ao sexo masculino. Já fiz prótese de bumbum em homem. É uma mudança de mentalidade, influenciada pela TV. O fato de um homem ser vaidoso não interfere na sua masculinidade. Todo mundo tem vaidade, ninguém gosta de olhar no espelho e sentir pena de si mesmo.
CIDADÃO: Qual é o grande vilão do envelhecimento precoce?
HUMBERTO: O principal vilão é o sol. Veja as partes expostas ao sol: mãos, face, o V do decote da camisa. Compare com as outras partes: as que foram banhadas pelo sol são mais envelhecidas. É importantíssimo evitar excessiva exposição aos raios ultravioleta. O sol é importante para a formação óssea, para a produção de vitamina D, mas sempre em horários em que os raios ultravioleta não estejam tão aflorados, que é até as 9h e depois das 16h. Sou contra o hábito de ficar lagarteando ao sol. Isso contribui para o envelhecimento precoce, expõe a pessoa ao risco de câncer de pele e à formação de rugas.