O estilo centralizador do prefeito de Fernandópolis, Luiz Vilar de Siqueira, desgastou de forma lenta e gradual as relações políticas que, em 2008, lhe propiciaram a chegada ao poder.
Fotos da campanha daquele ano mostram deputados, vereadores, empresários poderosos enfim, gente de vários matizes políticos sorrindo ao lado do candidato. Certamente, a produção de fotos assim seria impossível em 2011.
Desde o início, Vilar chamou tudo para o seu controle. Determinou que qualquer declaração à imprensa, por seus secretários mesmo que se trate de mera informação técnica ou funcional tem que passar pela assessoria de comunicação. A medida, nitidamente castradora, constrange o primeiro escalão da administração.
O prefeito começou seu mandato gozando do privilégio de ter uma Câmara submissa aos seus projetos. A cada semana, seu líder no Legislativo entupia o Palácio 22 de Maio com projetos do Executivo que eram votados a toque de caixa, com dispensa das formalidades legais.
Esses projetos eram chamados de Dez para as Oito, porque o líder do prefeito chegava com eles à Câmara dez minutos antes do início da sessão. Eles acabavam sendo aprovados sem passarem pelas comissões e sem serem analisados a fundo, como manda o figurino.
Aos poucos, porém, vozes descontentes se fizeram ouvir na Câmara, e hoje Vilar tem dificuldades de manejar o jogo político da forma que gostaria. Correm pelos bastidores informações de que, bem ao seu estilo, estaria pressionando aliados e adversários, mas ele sabe que, em 2012, será inevitável que o dique se rompa.
DEPUTADOS
Num país cuja política tributária é a de concentrar os recursos advindos dos impostos nas mãos do Estado e principalmente da União, é essencial para o administrador municipal manter uma vasta rede de relacionamentos com parlamentares estaduais e federais, secretários de Estado e até ministros, para fazer funcionar a política do chapéu na mão.
De olho na perspectiva do advento da Zona de Processamento de Exportações, o prefeito se aproximou do deputado petista Devanir Ribeiro, que, inegavelmente, muito o ajudou. Essa proximidade, entretanto, afastou Vilar de seus compromissos com o candidato Rodrigo Garcia, do seu partido, o DEM. À boca pequena, os democratas consideram o prefeito de Fernandópolis fora do partido.
Foi exatamente essa postura que redundou numa pífia votação em Fernandópolis para o influente deputado que pôs a prêmio a cabeça de Vilar nas hostes partidárias.
A par disso, seu outro deputado federal Julio Semeghini optou por assumir a Gestão Pública no governo de Geraldo Alckmin. Sem o tucano, o prefeito terá que costurar novos acordos. A falta de companheiros políticos se estende à Assembléia Legislativa, onde a influência do prefeito parece se restringir a Analice Fernandes, do PSDB que, por sinal, anda sumida de Fernandópolis.
EXPÔ
Por mais que se tente dissimular, é visível a crise entre Vilar e seu vice, Paulo Biroli. Quando Biroli, irritado com uma decisão judicial, decidiu abdicar da presidência da Expô, o prefeito pronunciou apenas um anódino Lamento! e aceitou a carta demissionária do então presidente da festa.
Caso quisesse mesmo manter seu vice à frente da Expô, Vilar teria rasgado a carta e dito à imprensa que iria até o fim com o presidente que havia nomeado. Mas esse, definitivamente, não é o estilo do ex-cespiano.
OPOSIÇÃO
Foram muitas as atitudes discricionárias nesses 800 dias que tornaram o prefeito antipático à população. Ele proibiu que o trenzinho de Natal aquele que transporta crianças fizesse ponto no centro da cidade, inviabilizando o projeto, que dava sustentação financeira à Associação Antialcoólica; arranjou cizânia com Henri Dias, presidente da influente OAB; impediu que Renato Colombano, presidente que levou o Fefecê a fazer boa campanha em 2009, permanecesse no cargo no ano seguinte.
Ainda ensaiou uma desastrada queda-de-braço com Votuporanga no início de seu governo, o que custou a Fernandópolis o AME.
Assim, várias facções oposicionistas brotaram com naturalidade algumas, do seio do próprio movimento que o guindou à cadeira do Executivo.
A Associação de Amigos do Município, que na campanha de 2008 e no início do mandato vestiu abertamente a camisa vilarista, anda calada e discreta. Talvez reavaliando as estratégias anteriormente traçadas.
O isolamento político do prefeito é tão evidente que ele não compareceu à posse dos deputados estaduais na última terça-feira. Enquanto isso, o prefeito Junior Marão, de Votuporanga, marcava presença ao lado de vários empresários de sua cidade; o mesmo fizeram os prefeitos de Populina, Mira Estrela e Santa Fé do Sul, vereadores de Macedônia e uma infinidade de políticos da região.
O povo last but not least não esconde sua revolta. O eleitor da periferia, onde o prefeito nunca foi bem votado, critica o descaso administrativo para com os seus problemas. Blindado por seus assessores mais próximos, Vilar nem deve saber desse fenômeno, pelo menos em sua plena extensão. Afinal, ele não é figurinha fácil nos bairros pobres da cidade.