Garimpando talentos para o futebol

20 de Agosto de 2025

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Garimpando talentos para o futebol
Quando uma das filhas do professor de Educação Física e ex-jogador de futebol Gilberto Tavares Conrado disse que queria estudar em Fernandópolis, sem querer mudou a vida de toda a família. Hoje, o próprio Gilberto e sua esposa Ivana também cursam Fisioterapia na FEF. A família toda – os filhos são Gilberto Jr.,Tamires e Isabela – mora na cidade. Gilberto, agora, firmou uma parceria com o clube Vila Nova, da 1ª Divisão do futebol goiano, para selecionar garotos com talento para o futebol em Fernandópolis e região. Gilberto, que está com 47 anos e trabalha no projeto “Escola da Família”, conta nesta entrevista um pouco de sua vida e da experiência que realizará em abril, em busca de futuros craques.

CIDADÃO: O que o trouxe a Fernandópolis?
GILBERTO: Surgiu uma oportunidade para a minha filha cursar Fisioterapia na cidade. Isso, por volta de setembro de 2008. Minha filha prestou uma prova em Caldas Novas, organizada pela Unicastelo. Foi aprovada e convidada a fazer o curso. No fim, acabou não sendo formada a turma. Eu tinha vindo com minha esposa e a filha – isso, já em janeiro - para conhecer a cidade. Antes de ir embora, vi o cartaz da FEF, onde também há o curso. Ficamos sabendo que o vestibular tinha sido no dia anterior. O diretor da época disse que, se pudéssemos ficar na cidade até o dia seguinte, a prova seria aplicada à minha filha. Depois, viu o meu currículo e da minha esposa, constatou que éramos formados em Educação Física e nos falou que, se quiséssemos fazer o curso de Fisioterapia, nem teríamos que fazer prova por ter curso superior. Isso foi no dia 30 de janeiro de 2009. Haveria também um discurso, por serem três pessoas da mesma família no mesmo curso. Eu disse à minha esposa: “Isso não está acontecendo por acaso. Estou vendo a mão de Deus nesse processo!” Eu e a Ivana tínhamos um sonho antigo de fazer esse curso, da época de solteiros. Depois casamos, vieram os filhos e não tivemos mais oportunidade. Vinte anos depois, aconteceu tudo isso e estamos aqui em Fernandópolis justamente por isso: porque Deus nos permitiu essa oportunidade.
CIDADÃO: Por que vocês estavam morando em Caldas Novas?
GILBERTO: Nós tínhamos comprado uma fazenda no Tocantins, e Caldas Novas ficava no caminho que eu fazia para ir até essa fazenda. Algum tempo antes, eu tinha trocado um sítio em Guaíra por uns imóveis em Caldas Novas. Eu saía de Guaíra, dormia em Caldas Novas e completava a viagem no dia seguinte, pela Belém-Brasília. Na volta, fazia a mesma coisa. Um dia falei para minha esposa: “Isso está ficando cansativo e perigoso, vamos mudar para Caldas Novas?” E nós fomos para lá, sem conhecer ninguém.
CIDADÃO: Você jogou futebol, não é?
GILBERTO: Sim, comecei em janeiro de 81 no Botafogo de Ribeirão Preto. Os olheiros do clube foram a Ipuã, minha terra natal, ver “um jogador que estava se destacando” Eu nem sabia que era eu. Fiquei no Botafogo até março de 1984, quando machuquei o joelho, fiz duas cirurgias, não sarei e não pude seguir a carreira. Eu tinha só 19 anos. Aí fui estudar Educação Física na Unaerp de Ribeirão Preto.
CIDADÃO: Vamos falar do projeto do Vila Nova de Goiás, que você está representando em Fernandópolis e região. O Vila Nova é um clube que realmente tem estrutura?
GILBERTO: Olha, sou de uma época do Botafogo de Ribeirão em que o clube possuía uma grande estrutura na base, e que revelou grandes jogadores como Raí, Marco Antonio Boiadeiro, Chiquinho, Paulo Egídio, Toninho Cajuru e outros. Vejo assim: a estrutura do Botafogo daquela época é parecida com a estrutura atual do Vila Nova. Para nós, do estado de São Paulo, é pouco conhecida. Sei que o Goiás tem mais nome, além de uma ótima estrutura, mas posso garantir que a estrutura física e o grupo de profissionais do Vila Nova são excelentes. Os avaliadores são experientes e conhecem o ofício. O estilo do Vila Nova, 30 anos depois, lembra muito o do Botafogo daquela época. É isso que eles querem fazer aqui, comigo, em Fernandópolis. Vou levar o que aprendi no futebol para esse trabalho, com a retaguarda do Vila. Os dirigentes me disseram que se tudo funcionar bem, aqui no noroeste paulista, nós poderemos ampliar o projeto até o Mato Grosso do Sul.
CIDADÃO: O projeto tanto pode acontecer em Fernandópolis quanto em outras cidades da nossa região, não é?
GILBERTO: Sim, isso dependerá de logística. Precisamos definir o local onde a avaliação será feita. Os dirigentes garantiram que toda a parte de material esportivo será fornecida sem custo. Eles apostam no potencial da região e no próprio projeto. Estou vendo isso como um benefício para a cidade e região. Aliás, quero explicar uma coisa: o trabalho com os meninos que forem selecionados acontecerá aqui, em Fernandópolis, conduzido por mim, ou, quem sabe, por outra pessoa no futuro, se o clube entender que isso é o melhor a fazer. Quando o garoto sair daqui, com 16 ou 17 anos (nunca antes disso) já pronto para jogar no Vila Nova, se ainda não tiver um contrato profissional terá alojamento, alimentação, ajuda de custo, condições para prosseguir os estudos. Os clubes, normalmente, não assinam compromissos com os pais ou responsáveis por garotos nessa faixa etária, porque os custos são muito altos – as exceções acontecem, é claro, quando se trata de um jogador excepcional. Por isso, o nosso projeto visa a trabalhar o garoto na sua região de origem, morando em casa, com a família.
CIDADÃO: Em princípio, a avaliação dos atletas da região está marcada para os dias 7, 8 e 9 de abril, e vocês divulgarão o local na próxima semana. Mas, afinal, o que vai acontecer nesses três dias?
GILBERTO: Serão avaliadas as condições técnicas do jogador – o dom para o futebol; o biótipo, que é importante; e a formação do garoto, sua base familiar, escolar, moral. Na verdade, o Vila Nova tem uma filosofia diferenciada daquilo que é usual no futebol brasileiro. O clube valoriza o ser humano, o cidadão. A escola, a educação, a alimentação, são preocupações primeiras do clube. Eles sabem que o grande profissional, em qualquer área de atividade humana, só alcança o sucesso pleno se preencher todos esses requisitos. Talento só, não adianta, porque se fosse assim, haveria milhões de talentos por aí, em todas as áreas, o brasileiro é altamente talentoso. Muita gente acaba não se destacando porque pecou na formação moral – e o jogador de futebol não foge à regra. Às vezes, um garoto promissor nem chega ao time profissional porque enveredou pelo caminho da droga, do álcool, da boemia e até do crime. Não foi uma pessoa correta, que abraçou a oportunidade que lhe estava sendo dada. O jovem tem que entender que, se ele tem um dom de Deus, precisa trabalhar duro para desenvolvê-lo.
CIDADÃO: Você é religioso?
GILBERTO: Sou, pertenço à comunidade evangélica, mas me converti, em Caldas Novas, à Igreja Videira, cuja sede é em Goiás e hoje já existe no Brasil todo.
CIDADÃO: Qual faixa etária esse projeto do Vila Nova atingirá?
GILBERTO: Os meninos nascidos de 1991 até 2003. Em princípio, seria de 1992 até 2000, mas eu ponderei pela extensão da faixa etária porque quero firmar a franquia não só pelos jogadores que serão observados agora, mas também dentro da idéia de trabalhar a médio e longo prazo. Não gosto do termo “peneira”, porque quando você peneira algo, os objetos maiores ficam por cima. Mas nem sempre os maiores são os melhores. Não considero esse um sistema adequado. O critério, sempre, deve ser o da avaliação ampla, que não se faz da noite para o dia.