Luta contra a AIDS enfoca as garotas de 15 a 24 anos

20 de Agosto de 2025

Compartilhe -

Luta contra a AIDS enfoca as garotas de 15 a 24 anos
Hoje começa o carnaval, e tudo parece se voltar para a festa. Entretanto, a alegria de alguns é a preocupação de outros. Nesta época, surgem as campanhas que visam a alertar para os excessos no consumo de bebidas alcoólicas, o risco das drogas, a velocidade nas estradas e, como não poderia deixar de ser, o alerta para o sexo sem proteção.
Este ano, o alvo da campanha do Ministério da Saúde são os jovens de até 24 anos, principalmente do sexo feminino. Serão para elas os jingles, panfletos e outras mensagens nos meios de comunicação.
Segundo dados oficiais, a cada oito meninos de 13 a 19 anos contaminados com o vírus HIV, há 10 meninas dessa faixa etária na mesma situação. Em estados como a Paraíba, por exemplo, havia quatro garotos e 15 meninas contaminados no ano de 2009. No Rio de Janeiro, no mesmo ano, foram registrados 54 meninas e 28 meninos soropositivos.
Por isso, o Ministério da Saúde elegeu as jovens mulheres como foco principal de uma campanha que incentiva o uso da camisinha, até hoje a única barreira cientificamente comprovada capaz de evitar a transmissão do vírus por meio da relação sexual. E para garantir o uso do preservativo, o órgão anunciou a distribuição de 84 milhões de camisinhas, o que representa 26 milhões a mais que no ano passado.
Segundo o médico infectologista Marcio Gaggini, de Fernandópolis, mesmo sendo inúmeras as fontes de informação, essa geração de jovens ignora o preservativo. “Além do sentimento de invencibilidade comum nessa faixa etária, no caso das meninas a camisinha é deixada de lado tão logo o relacionamento pareça "estável". O preservativo também vem sendo deixado de lado no sexo casual, uma prática cada vez mais frequente quando o que importa é o prazer, aqui e agora”, disse o médico.
CAMPANHA
Ousadia para falar às jovens na faixa etária de 15 a 24 anos sobre prevenção às DST, Aids e hepatites. Esse é o tom da campanha do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde para o carnaval de 2011, lançada no dia 25, na quadra da Escola de Samba do Salgueiro, no Rio de Janeiro.
A ideia é que as mulheres possam incentivar o parceiro a usar a camisinha nas relações. A medida visa tê-las como aliadas da Saúde para sensibilizar a geração atual a se cuidar e fazer sexo protegido. A campanha também foca os testes de HIV.
“As meninas entre 15 e 19 anos estão entre os grupos mais vulneráveis ao HIV/aids. Por isso, a campanha busca dialogar com essas mulheres e meninas. Para fazermos esta campanha, pesquisamos o que elas sentem. E elas sentem que, se pedem para usar camisinha, vão ser mal vistas. Têm medo de perder o namorado e o carnaval”, disse o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, no lançamento. “Usar camisinha não é desrespeitoso. Não existe nada mais desrespeitoso do que perder a vida”.
Alinhadas com o Dia Internacional da Mulher, as mensagens da campanha sugerem mudança de hábito na forma como a população lida com questões como confiança e entrega. Entre os fatores que fazem com que a mulher abandone o uso de preservativos estão mitos relacionados à falsa percepção de segurança nos parceiros: à necessidade de provar que ama o parceiro ou que confia nele, à idealização romântica, ao julgamento pela aparência, à vontade de se entregar.
A campanha exalta a participação das jovens na negociação do uso do preservativo, demonstrando que o insumo pode ser um aliado na relação. Veiculadas nos meios de comunicação durante a maior festa popular brasileira, as peças serão voltadas principalmente às mulheres de baixa renda.
SINTOMAS

A AIDS não se manifesta da mesma forma em todas as pessoas. Entretanto, os sintomas iniciais são geralmente semelhantes e, além disso, comuns a várias outras doenças. São eles: febre persistente, emagrecimento, diarréia, dor de garganta, dores musculares, manchas na pele, gânglios ou ínguas embaixo do braço, no pescoço ou na virilha e que podem levar muito tempo para desaparecer.
Com a progressão da doença e com o comprometimento do sistema imunológico do indivíduo, surgem doenças oportunistas, tais com doenças pulmonares e neurológicas.

ASSIM PEGA:
-Sexo vaginal sem camisinha
-Sexo anal sem camisinha
-Uso da mesma seringa ou agulha por mais de uma pessoa
-Transfusão de sangue contaminado
-Mãe infectada pode passar o HIV para o filho durante a gravidez, o parto e a amamentação
• Instrumentos que furam ou cortam, não esterilizados.
ASSIIM NÃO PEGA:
-Sexo, desde que se use corretamente a camisinha
-Masturbação a dois
-Beijo no rosto ou na boca
-Suor e lágrima
-Picada de inseto
-Aperto de mão ou abraço
-Talheres e copos
-Assento de ônibus
-Piscinas, banheiros ou pelo ar
-Doação de sangue
-Sabonete, toalha ou lençóis
FERNANDÓPOLIS

Em Fernandópolis a situação não é diferente: 0,5% da população é soropositiva. O número é de 268 pacientes, sendo que 149 fazem o uso de medicamentos. O CADIP (Centro de Atendimento Doenças Infectos Parasitas) faz o acompanhamento completo da pessoa, com atendimento psicológico, médico e farmacêutico.
“O CADIP conta com uma equipe multidisciplinar para garantir o bom atendimento ao paciente. Quando o exame dá positivo, o momento é de muita angústia, não só da parte do paciente como da equipe do CADIP”, explicou o médico. Gaggini disse ainda que o tratamento é completo. “Quando o paciente recebe a notícia, ele passa por enfermeiros e psicólogos”, revelou.
Além do CADIP, a população pode recorrer ao GADIP (Grupo de Apoio aos pacientes com doenças Infecto- Parasitárias).

DEPOIMENTO DE UM SOROPOSITIVO

“Eu me infectei com um namorado, há mais de três anos. Eu trabalhava em uma farmácia e por estar na área da saúde ouvia muita coisa sobre esse assunto e por isso até cheguei a alertá-lo algumas vezes para que usássemos preservativos, tentei conversar sobre o HIV, mas ele não quis saber. Ele era muito machista, achava que nunca ia acontecer e que eu deveria confiar nele. Eu comecei a manifestar os sintomas sem saber que estava infectada.
Tive duas pneumonias, um resfriado atrás do outro, cheguei a procurar um médico para ver se minha imunidade não estava baixa, mas nunca alguém me pediu um exame de HIV. Acho muito importante informar que muitos médicos são completamente desinformados sobre AIDS. Por exemplo, já ouvi médicos dizendo que só é possível pegar AIDS quando o homem tem uma ejaculação completa, o que não é verdade: aquela primeira gotinha de líquido seminal já é suficiente para infectar a parceira. Outra balela que já ouvi de médicos é que o coito interrompido seria suficiente para evitar a infecção.
Durante quatro anos, fui ‘cobaia’ de todos os tipos de antibióticos. Como eu tinha gripes e resfriados sérios praticamente a cada dois meses, com febre alta e tudo mais, eu resolvi me tratar diretamente com um pneumologista. Depois de tanto tempo eu comecei a brincar que, se uma pneumonia não me matasse, eu teria câncer pelo efeito da radiação, tantos eram os raios X de pulmão que tive de fazer durante esse período. Também tive vários furúnculos, que tratei com dermatologista. Tudo isso já eram sintomas do HIV e nenhum médico pediu um exame de HIV durante todo esse tempo.
Um belo dia, eu fui dormir me sentindo bem e, no dia seguinte, acordei com 40 graus de febre, incapaz de me levantar da cama, mas sem nenhum sintoma de gripe. Pedi à minha irmã que fosse me ajudar e, alarmada, ela entrou em contato com o médico que a atendia. Ele recomendou que eu fosse internada e, no hospital, descobriram que eu estava com pneumonia dupla. Fui para a UTI e sequer conseguia respondia às perguntas do médico. Lá, o médico observou que um dos meus furúnculos não havia se curado completamente e pediu uma biópsia. Foi durante essa biópsia que descobriram que eu estava com infecção por HIV em estágio avançado.
Eu não quis contar à minha família como havia contraído o HIV, eles nunca souberam desse meu relacionamento e não vi motivos para contar quatro anos após o fim do namoro. Então, aproveitei para ‘encaixar uma transfusão de sangue’ em uma cirurgia que tive de fazer alguns anos antes para justificar o contágio.
Assim que eu comecei o tratamento conheci a F., que hoje é uma grande amiga que também tem o vírus do HIV. Eu nunca me senti culpada por estar doente. Quando eu soube que estava infectada, meu maior desejo foi o de conhecer outras pessoas com o mesmo problema.
Falar que não tenho problemas com essa doença é mentira, o preconceito infelizmente existe e é inevitável, às vezes eu tenho preconceito de mim, quando corto a mão ou me machuco não permito socorro de ninguém e mesmo sabendo que a AIDS não se transmite somente por um toque, abraço ou aperto de mão não me permito pegar bebês no colo ou coisas assim.
Hoje, se eu pudesse dar um presente às mulheres seria um conselho: cuidem-se e se deem o valor, se o seu parceiro as pressionar dizendo que a AIDS é coisa de homossexual, ou que você não confia nele, não caia nessa conversa fiada, previna-se, cuide-se e principalmente se ame”, desabafou a soropositivo K.R.N, hoje com 29 anos.