O “Ligeirinho” assume equipe de esportes da Difusora

20 de Agosto de 2025

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O “Ligeirinho” assume equipe de esportes da Difusora
Quando Erisvan Gomes Feitosa vivia em Barra do Corda, no interior do Maranhão, ele sequer conhecia um aparelho de rádio. Como o mundo gira e a Lusitana roda, o garoto baixinho e franzino virou Ivan no Sul Maravilha, apaixonou-se pelo meio de comunicação e hoje chefia a equipe de esportes da Rádio Difusora de Fernandópolis. Nesta entrevista, Ivan fala da infância pobre, de figuras antigas da cidade e de seus planos para o rádio esportivo. Casado com Ana Maria e pai de Daiane Cristina, Renan e Denise Caroline, o “cabra arretado” filho de seu Antonio e dona Maria, aos 51 anos, já entendeu que, às vezes, é preciso levar desaforo para casa. Só às vezes, claro.

CIDADÃO: Como foi que você veio parar em Fernandópolis?
IVAN: Vim em maio de 1970. Meu pai já estivera nas regiões de Pereira Barreto e Mirandópolis entre 1952 e 1956. Depois, voltou para o Ceará, casou-se com minha mãe e, em 1969, minha avó faleceu. Meu pai dizia que a única coisa que o segurava no Nordeste era minha avó. Assim, viemos embora, meu pai entrou no serviço de vigilância e foi designado para Santa Fé do Sul, mas permutou com um primo e veio para Fernandópolis.
CIDADÃO: Qual foi a primeira impressão de um garoto nascido e criado em Barra do Corda, no Maranhão, ao se deparar com a realidade do Sudeste?
IVAN: O choque cultural foi muito grande. Não é vergonha dizer que eu nunca havia visto um rádio, por exemplo. Morávamos na atual Travessa Geraldo Fileti e tinha um vizinho proprietário de um rádio Semp. Eu via aquilo e não conseguia entender como é que o homenzinho que estava falando cabia dentro do rádio! Coincidência ou não, passei a me interessar por rádio, música e jornais – eu sempre gostei de ler. Havia outras confusões. Eu chamava galinha d’angola de capote e zombavam de mim. Tudo era diferente. Quando chegamos, sofri muito com o frio, nós chegamos em maio, numa época de frio. Nós não tínhamos agasalhos. A família Pessuto fez uma arrecadação de agasalhos entre os funcionários do banco onde meu pai trabalhava. Eu não conseguia dormir com o frio.
CIDADÃO: Você estudou no Maranhão?
IVAN: Vim a freqüentar escola só em Fernandópolis. Minha mãe, que era professora primária, nos ensinou o abecedário em casa mesmo. Tinha uma cartilha. Minha primeira escola foi a “Professor Ivonete Amaral da Silva Rosa”.
CIDADÃO: Onde foi seu primeiro emprego?
IVAN: Como bom garoto pobre, comecei como engraxate. Fazia ponto na hoje “Praça Dr. Fernando Jacob”. Um dos meus clientes era o saudoso Jathir Martins de Souza, o “Capeta”. Todo sábado eu engraxava o sapato dele, e ele me dava dois cruzeiros. O saudoso Zé Maria não nos deixava engraxar dentro da padaria (risos). A gente tinha um medo danado dele! O Adelino era mais tranqüilo. Depois, trabalhei numa indústria de artefatos de cimento, do Del Pino. Aí entrei na Fermasa, meu patrão era o Nilson Baracat. Adquiri uma doença respiratória por causa do uso de solupan para lavar veículos. Uma vez, lavei um LTD Landau, era a maior novidade em automóveis, quem comprou foi o Raul Gonçalves. Mais tarde, meu pai me arranjou com o gerente Gregório um emprego de pacoteiro no Pastorinho, e lá fiquei dois anos. Foi aí que o meu sangue quente causou o primeiro prejuízo. Briguei com o chefe do depósito e fui demitido.
CIDADÃO: De que maneira o rádio entrou na sua vida?
IVAN: Tive um professor de Estudos Sociais que um dia perguntou à classe quem teria condições de arranjar um gravador para fazermos um trabalho escolar. Eu era muito falante, arranjei emprestado um gravador tipo “tijolão” e fui o responsável por entrevistar os colegas. Era fã do Roberto Silva, repórter de campo da Rádio Bandeirantes, integrante daquela grande equipe do Fiori Gilioti: Mauro Pinheiro, Zé Paulo de Andrade, Luiz Augusto Maltoni, J. Háwila...Comecei a brincar de repórter, tomei gosto. Como disse, eu gostava muito de ler, e lia na Fernandópolis Lotérica, onde o Fernando expunha os jornais de esporte. Nessa época, me alistei para servir o Exército. Tinha saído do Pastorinho e estava aprendendo o ofício de pintor. Em 1978 fui chamado para o Tiro de Guerra. Tinha intenção de fazer o curso de Sargentos, mas não havia concluído o segundo grau. Voltei para a pintura. Em 86 casei e passei a trabalhar por conta própria. O gosto pelo rádio continuava vivo, às vezes visitava estúdios. Tinha muita amizade com o Livio Vono. Você sabe que o plantão esportivo é o “patinho feio” do rádio, ninguém quer fazer. Na época, na Rádio Cultura o plantão era feito em revezamento pelo Fred Jorge e o Jeferson Fernandes. A equipe esportiva era formada pelo Vono, Paulo Alves e Alaerte Vidali. O Vono me chamou pra fazer um teste. Trabalhei dois domingos com o Vono e o Fred. No terceiro domingo, o Vono me disse: “Caburé, hoje você vai fazer o plantão sozinho!”. Gelei. Era um jogo do Fefecê em Taquaritinga. Naquele ano, o último jogo do torneio foi em Fernandópolis, contra o Mirassol. O Alaerte teve que viajar e veio narrar o grande Marcos Alberto, de saudosa memória. O Vono me apresentou ao Marcão, e ele me disse. “É isso aí garoto, vai em frente, o rádio não dá muito dinheiro, mas é apaixonante”. No final da transmissão, o Marcão, com aquele sotaque carioca, disse: “E no nosso QG esportivo, o garoto Ivan Gomes, que deu um show de informações. Você tem muito futuro, foi um prazer trabalhar ao seu lado!” Ora, aquilo me encheu de moral, afinal foi uma força de um dos grandes talentos do rádio brasileiro. Só que em 1988 a equipe acabou.
CIDADÃO: Aí você voltou ao ofício de pintor?
IVAN: Eu queria ficar no rádio. Um dia, participei de uma reunião na ACIF em que estava o Adenir Alves. Disse a ele que tinha trabalhado na Cultura e que gostaria de ter uma chance na Difusora. O Adenir me mandou ir à rádio, e me apresentou o Cabreirinha, o César e o Darci, cuja esposa, Didiô, tinha sido minha professora. Entrei em março de 1989 na Difusora, e o campeonato do Fefecê começaria naquele mês. O time foi formado em 15 dias pelo presidente Chafik Sales, era aquele time do Helênio, do Cláudio. Teve uma passagem interessante. Num treino, o Chafik viu o Cláudio dar um bico para a lateral e falou: “Vou mandar esse zagueiro embora, não serve”. O técnico Henrique Passos falou: “Não faça isso, ele é bom jogador!”. Cláudio ficou, sob a responsabilidade do técnico, e foi o maior zagueiro do campeonato daquele ano. Esse time tinha o Iraci, o Cidinho, o Tavares, o Joel, um volante carioca que fez o gol da vitória na estréia, lá em Taquaritinga. O goleiro era o Dorimar, que precisou ser operado e aí veio o Sergio Gomes. Esse era o cenário do meu início na Difusora.
CIDADÃO: Nesses 22 anos, qual foi a grande alegria e qual foi o grande sufoco?
IVAN: A alegria aconteceu em 1992, na final da Libertadores, São Paulo e Newel’s Old Boys. Foi a primeira vez que pisei no Morumbi. Fui muito gozado pela equipe, afinal eu era o “Paraíba”, o caipira. Eles me gozaram durante 550 km. Só que fiz, modéstia à parte, um grande trabalho, entrevistei o Rojas, o presidente do São Paulo, Pimenta Mesquita, o Raí, o Antonio Carlos e até mestre Telê Santana. A tristeza foi perder a festa do título de 1994, por causa de uma pane no carro provocada pela chuva. Perdemos o jantar no Morada do Sol, com a delegação do Fefecê. E o sufoco aconteceu em Cotia, num jogo contra a Central Brasileira, quando levei um chute nas costas do vice-presidente daquele time. Mas não afinei, xinguei o cara, bati boca, quase mandei o microfone na cabeça dele, e a polícia teve que me dar garantia para trabalhar.
CIDADÃO: Com a aposentadoria do Vono, você assume o comando da equipe de esportes da Difusora. Quais são seus planos?
IVAN: Se estou no rádio, devo ao Livio Vono. E, se tenho uma longa carreira na Difusora, devo ao Cesar e ao Darci. O Cesar sempre me dá muitos conselhos, ensina que devo aprender a ser tolerante e a controlar meu sangue quente. O comando da rádio decidiu confiar em mim para chefiar a equipe. Nunca quis ser chefe. Você me conhece, sabe que estou falando a verdade. Eles me colocaram as condições, fiz minhas ponderações e vamos em frente. Nossos planos envolvem transmissões de campeonatos de futebol amador, como a Copa Brasilândia, e profissional, como o campeonato paulista da 1ª Divisão e da Segundona, onde está o Fefecê, além de torneios de vôlei e outros eventos. A equipe tem o Eduardo Pavaneli, o Jota Machado, narrador, o Marco Aurélio no plantão e o Wilson Borgato, operador de áudio. A rádio está acertando com um grande narrador – precisamos de dois narradores. Isso ainda está em negociação.
CIDADÃO: E você, fará o quê nessa equipe?
IVAN: Sou coordenador de esportes. E também repórter, claro, porque no rádio do interior a gente tem que jogar nas onze!