No dia 27 de novembro do ano passado, a fernandopolense Naiara Caroline Pereira, de 22 anos, embarcou na maior experiência de sua vida. Sozinha, ela voou para Londres, onde, por dois meses, fez um curso avançado da língua inglesa. Aluna e funcionária da Escola Wizard de Fernandópolis, Naiara deixou os pais Sandra Eli Leite Pereira e Cláudio Izidoro Pereira -, o irmão Pepeu e os amigos em troca de aprendizado no exterior. Passou o Natal quase só, apenas uma amiga brasileira estava com ela naquele dia frio de Londres, e o aniversário (20/01) longe de casa. Em troca, recebeu muita informação sobre sua área específica de interesse a Publicidade e Propaganda, curso que faz na Unifev -, novas amizades e, constatou depois, uma insuspeitada maturidade que a acompanhará pelo resto da vida.
CIDADÃO: Você acaba de retornar de uma viagem de dois meses a Londres. O que motivou essa viagem?
NAIARA: A vontade de aperfeiçoar meu inglês, principalmente. Fui fazer um curso de línguas para negócios, é uma área que me atrai. Queria também conhecer outra cultura e trazer novidades para a escola.
CIDADÃO: O que você faz na Escola Wizard?
NAIARA: Trabalho na administração, e procuro ainda desenvolver alguns trabalhos novos com os alunos, como esse curso na área de negócios. Creio que essa é uma área onde ainda existe déficit em Fernandópolis. O inglês que aprendi em Londres é voltado para vocabulários e expressões gramaticais usuais em negócios. Você aprende até como enviar corretamente um e-mail de negócios, como se expressar numa ligação telefônica ou na apresentação de um projeto comercial, etc. Você tem ainda noções do inglês na economia. Foi bastante proveitoso. Eu estudava o dia inteiro, depois à tarde ia conhecer museus, fazer visitas. Depois, viajei para Roma e Paris, para conhecer essas cidades.
CIDADÃO: Você viajou sozinha?
NAIARA: Sim. Fiquei em home stay, na casa de uma turca, onde os costumes eram completamente diferentes. A casa era pequena em Londres, parece que a maioria das casas é pequena, por causa do frio e o bairro era cheio de romenos, turcos, indianos, uma verdadeira torre de Babel. No dia em que cheguei, fazia muito frio. Eram umas 15h, mas naquela época do ano às 16h já é noite. Fui bem acolhida, mas tive que me adaptar às diferenças. Por exemplo: não podia entrar de sapato na casa. Depois do banho, tinha que enxugar o banheiro, abrir a janela para sair a umidade e não abrir a porta do banheiro enquanto a janela estivesse aberta, por causa do frio. No café da manhã, era pão e chá. Tive um choque cultural naquela cidade enorme, tive que aprender a andar de metrô e de ônibus. Levei uma semana pra me situar, para entender plenamente que estava num país estrangeiro. Depois, mudei-me para a casa de uma boliviana no bairro de Wimbledon, que era bem melhor. Mudei também porque fiz uma amiga brasileira e ela estava lá, fizemos o curso juntas. A comida era latina, já estava mais próxima dos nossos costumes. Levava 40 minutos de metrô até o centro de Londres, eu morava no que chamam de Zona 3.
CIDADÃO: Quanto ao aprendizado no curso, propriamente dito, você teve mais dificuldades do que esperava ou você acabou se surpreendendo com a facilidade no aprendizado?
NAIARA: Olhe, no princípio bate um pânico, porque você sabe que está sozinha. Mas a verdade é que aprendi muita coisa nova, e acabei tendo mais facilidades do que esperava. Lá, você descobre que tem um vocabulário extenso. Entrei no curso intermediário e terminei no avançado. Evoluí bastante e as professoras consideraram bom o meu desempenho. Achei que fosse ter mais dificuldades. Afinal, o pessoal que faz o curso que fiz normalmente já trabalha na área de marketing, comércio exterior. Às vezes, são as próprias empresas que mandam o funcionário para lá, para aprender. Vi muitos casos assim. Alguns deles ficam seis meses, outros ficam um ano, há casos em que a empresa investe em três anos de preparação do funcionário!
CIDADÃO: E quanto ao seu interesse mais direto, que é publicidade e propaganda, o curso correspondeu à expectativa?
NAIARA: Sim. Diria que na comunicação em geral. Todas as manhãs, nós recebíamos jornais toda manhã, pegávamos as chamadinhas, debatíamos. Outra coisa que estava sempre em pauta eram os termos mais usuais no marketing.
CIDADÃO: O que achou dos jornais sensacionalistas ingleses?
NAIARA: Vi três tipos de jornais afinal, eram free, ou seja, distribuídos gratuitamente no metrô. Dois eram distribuídos de manhã, o City A.M., que é de negócios, e o Metro, que é mais do noticiário geral, falava das crises do Reino Unido, da bolsa de valores, da crise mundial. Além disso, havia o noticiário do casamento do príncipe, a tentativa frustrada de levar a Olimpíada para Londres. No fim da tarde, havia o Evenning Standard, com o resumo do que rolou no dia.
CIDADÃO: Em relação ao seu lado turista, do que foi que você gostou mais em Londres?
NAIARA: Andei na London Eye, que é a maior roda gigante do mundo. Foi emocionante. Fui ao Big Ben. Um momento legal foi a virada do ano na London Eye, onde fazem uma queima de fogos que é famosa, no Reveillon. Havia várias pessoas com bandeiras do Brasil. Era uma forma de comunicação, os brazucas se aproximavam e trocavam ideias. Foi bacana. Estive também no marco de Greenwich, o fuso zero do mundo. Tirei o certificado (risos) de que estive na divisa do mundo ocidental e o oriental. Fiz passeio de barco, uma delícia. Além disso, tem os museus e as livrarias, como a British Library, enorme, cheia de livros, linda. Lá, você vê as pessoas lendo, tomando café, estudando. É muito legal. Às vezes, eu ia lá para estudar para as provas.
CIDADÃO: Você, brasileira, teve dificuldades com a famosa pontualidade britânica?
NAIARA: Lá, se o aluno chega atrasado, não entra na sala de aula. Realmente, os ingleses são muito pontuais e organizados, o metrô, por exemplo, é limpíssimo, as pessoas esperam as outras saírem para depois entrar, tudo isso no maior silêncio. Na escada rolante do metrô, o lado direito é mantido livre para quem tem mais pressa e precisa acelerar o passo. A segurança é muito grande, você pode andar com a câmera fotográfica pendurada no pescoço e o celular na mão. Até o notebook você pode carregar. Não dá medo. As pessoas são muito educadas. Não são amigáveis, como os cariocas, por exemplo, mas são atenciosas se você pede informações, e dão mil desculpas se não sabem informar o que você perguntou. As professoras desejaram muita sorte para mim, forneceram seus emails, no final do curso, mas não tem aquela coisa de contato físico, de abraços. Nosso jeitão latino não tem vez por lá. Ah, esqueci de dizer duas coisas: que estive na troca da guarda no Palácio de Buckingham, e que vi a neve pela primeira vez. Da neve, não gostei. E estive, claro, em Abbey Road, onde era o estúdio dos Beatles. Eu e minhas amigas fizemos a foto famosa, passando em fila indiana pela faixa de pedestres.
CIDADÃO: Valeu a pena?
NAIARA: Nossa! Faria de novo! Enquanto eu viver, não encontrarei meios suficientes para agradecer aos meus pais por essa oportunidade que me proporcionaram. Amadureci, aprendi, fiz amizades com gente do mundo inteiro.
CIDADÃO: Você falou em amadurecimento. Foi um curso intensivo, um rito de passagem da adolescência para a fase adulta?
NAIARA: Foram dois mês que valeram por muitos anos, eu sinto que cresci. Tive que me superar em muitos momentos. Ninguém acreditava que eu pudesse me virar na Europa, porque quando fui fazer cursinho em Jundiaí, acabei ficando doente, tive que voltar. Esse foi um grande desafio, saí daqui sozinha, fiz escala em Madri, enfim sobrevivi. Na volta, em 1º de fevereiro, percebi o meu amadurecimento. Meus pais estavam me esperando no aeroporto, e minha mala extraviou e acabou ficando em Madri, só chegou no outro dia. Todo mundo ficou nervoso com isso, apenas eu dizia: Calma, gente, a minha mala vai chegar, sim!. Creio que aprendi a ter esse controle nessa viagem.