Cláudio Ricardo Boutros, paulista de São Caetano do Sul, tem se mostrado uma grata surpresa da cena política. Há doze anos morando em Fernandópolis, onde foi chefe de gabinete da ex-prefeita Ana Bim, ele revelou capacidade de articulação e visão de futuro. Casado com Vanda e pai de Victoria, Boutros é formado em Química e tem experiência em representação comercial. Agora, foi nomeado assessor do deputado federal João Dado, eleito pelo PDT. Na entrevista, Boutros defende a luta conjunta dos parlamentares alinhados com a região.
CIDADÃO: Quando e por quê você veio para Fernandópolis?
BOUTROS: Vim porque resolvi sair dos grandes centros e viver com mais segurança, dando mais qualidade de vida à minha filha. Até sinto falta da cidade grande, gosto daquela agitação, mas precisava buscar mais qualidade de vida para a minha família. Conheço Fernandópolis há 30 anos, Sempre vinha para cá, ia à Lagoa Santa. Minha cunhada mora em Fernandópolis há mais de 40 anos. No momento da opção, claro que procuramos ficar perto de alguém com quem você tem um vínculo de sangue. Hoje, tenho muitos amigos aqui.
CIDADÃO: Como foi essa passagem de químico para comerciante e de comerciante para político?
BOUTROS: Olhe, costumo dizer que político todo mundo é. É preciso fazer a política da boa vizinhança, de bom pai, bom amigo. A política é um exercício muito bom, e quem tem facilidade e vocação pode enveredar pela política no sentido estrito. Trabalhando com relações públicas, aprendi muito, e sempre fui de falar, conversar bastante. Além disso, eu morava no ABC paulista, e aquela época era a do movimento político-sindical, com a polícia reprimindo as manifestações. Eu e meus amigos discutíamos muito as questões políticas, participávamos dos comícios e assembléias. Mas eu nunca tive um partido. Só que corri de cavalaria, corri de cachorro, sei o que é atravessar em velocidade o largo do Paço Municipal de São Bernardo com gente gritando: Corre, senão os cavalos te atropelam. Quem viveu nessa época criou um instinto político muito bom. Um anseio por mudanças. Quando vim para Fernandópolis, acabei sendo convidado para ser chefe de gabinete. Até então, vi o exercício dessa função de forma profissional, e fui lá tentar fazer o melhor possível. Não tinha experiência de chefia de gabinete nem conhecia toda a mecânica de uma prefeitura. É como o vereador dizer que sabe como funciona uma prefeitura ele não sabe. A dinâmica é totalmente peculiar. Entrei, procurei estudar e ler tudo, fiz amizades muito boas com gente como o deputado Dado, ingressei no PDT.
CIDADÃO: Em 2006, a representatividade parlamentar na região noroeste era bem pequena. Em 2010, elegemos vários deputados. Como você analisa esse quadro? A região partiu para o voto distrital de fato?
BOUTROS: Acredito no seguinte: a conscientização do povo é um processo evolutivo, diário. A política está ficando mais aberta e solidária, no sentido da atuação e do trabalho. E, quando a política é transparente, deixa de existir o deputado ou senador de tal cidade. Passa a existir o representante da região. Fiquei feliz, por exemplo, com a eleição dos dois senadores paulistas: isso demonstrou uma maturidade política do povo, ao escolher dois fiéis da balança. Teremos dois representantes um que é a favor do governo paulista (Aloysio Nunes), que vai ajudar o Estado de São Paulo e outra (Martha Suplicy) que é a favor do governo federal e vai apoiar os interesses de São Paulo. Essa maturidade advém do exercício político do dia a dia. O povo está aprendendo que o deputado, ao destinar uma verba para um município, ele não está fazendo favor para ninguém, está é cumprindo sua obrigação, já que é um gestor, responsável por empregar bem os recursos. A situação é difícil com a atual política de distribuição dos recursos. Veja o caso do repasse do Fundo de Participação dos Municípios: com a diminuição dos recursos, municípios pequenos ficaram literalmente inadministráveis. Um município que recebia, por exemplo, 80 ou 100 mil do FPM, de repente passou a receber 20 mil.
CIDADÃO: Mas a proporção é tudo isso?
BOUTROS: Teve lugar em que foi pior. Como vou assumir uma função política no partido ser a liderança responsável pela nossa região, em 18 municípios tive e tenho contato direto com muitos prefeitos. Os números assustam. As folhas de pagamento estouravam os orçamentos, as prefeituras entravam em colapso.
CIDADÃO: O deputado João Dado tem, evidentemente, noção da rixa histórica entre Fernandópolis e Votuporanga. Qual é a posição dele diante desse fato?
BOUTROS: O Dado é neto do fundador de Pedranópolis, imagine o que ele tem de parente nesta região inclusive em Fernandópolis. A proposta dele, no outro mandato, quando foi eleito por Votuporanga, que investiu bastante no seu nome, foi ser deputado de Votuporanga. Político agradece os votos obtendo verbas, atuando, trabalhando por seus eleitores. Agora a história é outra. Aliás, o dado vem ajudando Fernandópolis há quatro anos, só que isso não é divulgado. Tenho conversado com o pessoal dos outros partidos, e acredito que uma das primeiras verbas que chegaram quando o prefeito Vilar assumiu foi obtida pelo Dado: uma verba de R$ 120 mil que tinha ficado no orçamento da União de 2008 foi liberada e logo no começo de janeiro tinha a liberação concluída.
CIDADÃO: Essa reunião com integrantes de outros partidos a que você se referiu tinha qual objetivo?
BOUTROS: Nessa reunião, o Dr. Raul, do PMDB, não pôde ir. Quem convocou essa reunião foi o prefeito Vilar, através de sua chefe de gabinete. Acho que ele tomou a atitude certa. Sou assessor de deputado federal, com escritório em Fernandópolis. O Fausto Pinato é assessor de deputado federal o Dimas Ramalho, do PPS. O prefeito sabe que desde antes da eleição existe um vínculo entre o Dado e o Dimas, quem não viu, foi porque não quis. Vilar nos pediu que trabalhemos pela cidade, porque ele tem recursos para buscar fora, e o Dado hoje é da base aliada do governo. Nosso partido é ligado ao PT. Eu, como assessor, tenho bom relacionamento com o Robinho e o Teixeira, do PT local. Então, o quadro apresenta o Devanir Ribeiro, o Vacareza, o Dimas, o Dado quatro deputados de peso, dispostos a ajudar Fernandópolis. Três deles são diretamente ligados ao governo federal e um deles, o Dimas, ao governo do Estado. Dimas tem ótimo relacionamento com o governo de Alckmin. Então, essa proximidade entre os líderes dos partidos locais, essas conversas, são a bem de Fernandópolis. Dissemos ao prefeito que fique tranqüilo porque faremos o que for preciso para ajudar. O Vilar vai precisar desses parlamentares, inclusive porque o Julio Semeghini assumiu uma gestão de governo e não estará em Brasília para tratar dos interesses do município. Queiram ou não queiram, nós perdemos um deputado da região, com o Julio indo para o governo estadual. Outra coisa: a eleição de 2012 está longe, a cidade não pode esperar. Quando chegar a hora, cada um verá os interesses do seu partido, mas é hora de trabalhar. Não podemos viver de expectativas. A cidade tem tudo para crescer e se estabilizar.
CIDADÃO: A Creusa Nossa fez um discurso conciliatório ao assumir a presidência da Câmara, e o prefeito agora chama a oposição para conversar. Isso é amadurecimento ou é só estratégia?
BOUTROS: Alguns órgãos de imprensa divulgam certas coisas e se esquecem do quadro de dois anos atrás. De todos os que estavam sentados na mesa na reunião com o prefeito, eu era o único que não estava do lado do Vilar na campanha. Esses jornalistas falaram que o prefeito chamou os partidos e tal, como se fossem todos oposicionistas. Ora, eles estavam no palanque do Vilar em 2008. É preciso fazer esse reparo. Agora, o trabalho das nossas vereadoras na Câmara, por exemplo, sempre foi de apoio aos projetos de interesse da cidade. Nós, esse grupo que se uniu para discutir a luta por coisas boas para a cidade, já vem conversando há tempos. O discurso da Creusa resume nosso jeito de trabalhar: nós sempre apoiamos as coisas positivas. Essa ligação entre o pessoal do PMDB, o Dr. Raul e o Dr.Henri; o Fausto Pinato, do PPS, o Renato Colombano e outros companheiros tem por objetivo manter a pluralidade, exercitar plenamente a democracia e usufruir do nosso inalienável direito de assumir representação política.