Uma parada cardiorrespiratória matou Maria Augusta Moraes, de 76 anos, no último dia 23 de dezembro. Dona Maria teve dez filhos, cinco deles deficientes mentais. Viúva, ela cuidava sozinha do quinteto Antonio, João, Rubens, Almira e Edcarlos.
Na edição especial de 11 de dezembro, CIDADÃO traçou o perfil de Dona Maria, uma mulher que jamais se queixava das dificuldades nem da missão que Deus me deu: segundo ela, a lã não pesa ao carneiro.
Na entrevista à repórter Patricia Seba, ela garantiu que amava os filhos doentes tanto quanto amava os sadios. Nunca me passou pela cabeça viver longe deles, interná-los num asilo ou coisa assim, declarou.
A casa da família fica em frente ao Postinho de Saúde do Jardim Ipanema, e isso sempre significou para a matriarca a certeza de contar com a ajuda dos funcionários nas situações de emergência especialmente em relação ao filho mais velho, Antonio, que além da deficiência mental tem problemas físicos graves.
Outro apoio imprescindível era o filho Rui, que mora na Brasilândia, mas sempre que podia aparecia para ajudar, lavando roupas, dando banho nos irmãos, carpindo o quintal e fazendo diversos serviços.
Dona Maria contava também com algumas pessoas que periodicamente doavam alimentos e roupas, além da assistência constante de Sebastião Arcanjo de Azevedo, integrante do Movimento Vicentino (vide Box).
Depois da publicação da matéria, a família ganhou muitas cestas básicas, mas Dona Maria não pôde desfrutar disso: no dia 17, sofreu o ataque cardíaco, ficou seis dias internada na UTI da Santa Casa e faleceu na antevéspera do Natal.
Tião, um anjo da guarda que chora
Ele até tem anjo no nome: Sebastião Arcanjo de Azevedo, 62 anos, é membro do Movimento Vicentino de Fernandópolis. Há 15 anos, numa de suas andanças de trabalho (é cobrador), conheceu por acaso uma família que iria mudar sua vida.
Ao se deparar com dona Maria e os filhos, surpreendeu-se ao saber que ela cuidava sozinha de todos eles. Passou a ajudá-los, na certeza de que ali estavam os assistidos que todo vicentino se compromete a ter.
Com o tempo, Tião se afeiçoou aos Moraes, e Dona Maria via nele um novo filho. Fazia rifas, pedia doações, procurava de todas as maneiras suprir as necessidades da família. Sempre os encontrei limpos e bem-cuidados, conta Tião, enquanto as lágrimas correm por seu rosto.
Segundo Tião, Dona Maria tinha dois sonhos: pintar a casa coisa que ele resolveu no início de dezembro, com a pintura sendo feita depois de rifar um celular e possuir uma máquina de lavar roupas.
Tião promoveu uma campanha junto ao comércio e conseguiu comprar um tanquinho, que seria entregue no Natal. Dona Maria não chegou a ver a máquina. A morte a levou antes disso.
A entrevista foi difícil para Tião, que chorava sempre que se lembrava da velha senhora. Ele, porém, confia na ação de Rui, o filho que deve suceder a mãe na responsabilidade sobre os cinco rapazes. Isso é o que ela sempre quis, garante.
Sete dias depois, chega a carta do INSS
Deus tarda mas não falha!, exclamou a Glenda aqui na redação, diante da notícia de que, sete dias após a morte de Dona Maria, chegaram as quatro cartas do INSS dando conta da aposentadoria por invalidez de Antonio, Rubens, Almira e Edcarlos até então, somente João gozava do benefício.
Atendendo pedido da diretoria do jornal, o advogado Milton Leão, graciosamente, está atuando para obter em favor dos quatro o efeito retroativo ao ano de 2006, quando o benefício foi postulado.
Esses recursos permitirão ao filho Rui, que deve ser nomeado curador dos cinco irmãos, em lugar de Dona Maria, lhes oferecer um mínimo de conforto e dignidade.
Segundo Flávia Resende, diretora do Bem-Estar Social, a família Moraes não é assistida pela pasta, porque Dona Maria nunca a procurou. Flávia explicou que no Jardim Paraíso há outra família com sete adultos que padecem do mesmo problema de saúde dos irmãos Moraes. Essa família é assistida pela DRADS.
Segundo a diretora, se Rui Moraes quiser, os irmãos poderão ser assistidos pela APAE. Porém, Rui não acredita que os irmãos possam se adaptar: eles não sabem viver separados uns dos outros, explicou. Tentarei mantê-los em casa. Torço para que dê certo.