A vereadora Creusa Nossa tem um jeito especial de conversar e se relacionar. Afável, sem afetação e nem um pouco deslumbrada com o poder, ela passou a primeira semana no comando da Câmara de Fernandópolis agindo com a naturalidade de quem administra o lar, resolvendo salomonicamente os problemas, com sinceridade e transparência. Essa mudança de ares no palácio não passou despercebida de funcionários, vereadores e imprensa. Na última quinta-feira, Creusa falou a CIDADÃO sobre os seus planos no comando do Legislativo. Em tom coloquial, sem discurso político, sem promessas impossíveis. Bem Creusa, mesmo.
CIDADÃO: Estava nos planos chegar à presidência da Câmara ainda no seu primeiro mandato de vereadora?
CREUSA: Creio que não. Num primeiro momento, você entra para a política até sem saber bem como as coisas funcionam, mas você tem o objetivo de trabalhar, fazer alguma coisa para a sua cidade. Nesse momento, você nem pensa em presidência, quer mesmo é trabalhar, aprender. Quando se está fora, é comum pensar que, como vereador, você faria muitas coisas. Depois, é natural que você almeje a presidência da Câmara para poder fazer um pouco mais como vereador.
CIDADÃO: Durante a posse da nova diretora de Saúde, esta semana, a senhora afirmou que este é o ano das mulheres. Por falar nisso, como vai seu relacionamento com as outras mulheres vereadoras Neide, Maiza e Candinha?
CREUSA: Vai muito bem, sempre nos demos bem. A Candinha, por exemplo, era o meu Tenente Eleitoral na campanha. Muitas vezes eu nem pedia votos, deixava os colegas à vontade para escolher. Só que, por trás de mim, estava a Candinha, que ficava falando: Minha candidata é a Creusa, vota na Creusa. A Maiza hoje é nossa companheira de Mesa Diretora e a Neide é minha amiga de longa data.
CIDADÃO: Aparentemente, sua amizade com a Candinha se estreitou muito nesses dois anos, não é?
CREUSA: Sim. Antes a gente nem se conhecia, mas logo identificamos vários pontos em comum. A Candinha gosta muito de ajudar o próximo, e eu também. Quando pegamos uma missão, lutamos com unhas e dentes. Assim foi, por exemplo, no trabalho pela construção da Casa de Apoio de Barretos.
CIDADÃO: No dia da sua eleição como presidente, a senhora fez um discurso conciliatório e prometeu apoio aos projetos do prefeito que considerasse de interesse público. Isso não trouxe algum problema com o seu partido, o PDT?
CREUSA: De jeito nenhum. A Câmara é independente, e na minha gestão vai ser ainda mais. Não temos que prestar contas a nenhum outro poder. Só que, passada a eleição, você deixa de ser do seu partido para vestir a camisa do partido da cidade. Hoje, eu luto pelo bem da cidade. Quando chegar 2012, é natural que cada um siga seu caminho partidário. Tenho paixão por esta cidade e o sonho de que nunca faltem empregos para nossos filhos. Por isso, fora dos períodos eleitorais, defendo a união de todos.
CIDADÃO: Já houve alguma conversa nesse sentido com o prefeito Vilar?
CREUSA: Não, apenas informalmente. Mas ele sabe que eu penso assim. Mesmo ele sendo situação e eu, oposição, em algumas ocasiões eu disse ao prefeito: Não sou sua adversária nem me considero oposição, porque estou aqui para trabalhar. Tudo o que o senhor fizer que seja bom para Fernandópolis eu apoiarei. O que eu achar que não está certo ficarei contra, discutirei até o fim, ou até que me provem o contrário.
CIDADÃO: Quais são os seus projetos para a Câmara no próximo biênio?
CREUSA: É interessante falar disso, porque na verdade eu até agora nem consegui tomar um café com os funcionários. Há muita coisa a fazer, a despachar. Nesse período vencem todos os contratos e há uma enorme burocracia por despachar. Espero me livrar logo dessa burocracia toda para começar o planejamento. Porém, já tenho alguns planos encaminhados. Quanto à estrutura física, uma coisa que quero resolver é o problema do som da Câmara. Sei que, do jeito que está, fica difícil para a imprensa fazer um bom trabalho de cobertura das sessões. Há coisas que dependem de licitação, mas o que for possível solucionar imediatamente, eu o farei. Hoje, há dificuldade para ouvir o que o vereador está falando, se você está na platéia do Palácio 22 de Maio. Gostaria também de separar as rádios dos jornais, para facilitar o trabalho de todos. A nossa sala de imprensa está pequena. Quero trazer a mesa de som para o fundo da sala de sessões, melhorar a qualidade dos microfones da tribuna e de apartes, porque a cada vez que você ajusta o microfone à sua altura, ele faz ruído e isso é transmitido pelas rádios, fica ruim. Pedi um orçamento, aliás um dos técnicos está ali afora neste momento, esperando para falar comigo. Quero dar condições ideais de trabalho à imprensa, porque compreendo a importância dela, que faz o elo entre nosso trabalho e o povo de Fernandópolis. Essas condições ideais, espero eu, devem se estender aos vereadores e aos funcionários do Legislativo.
CIDADÃO: Até agora, a senhora não usou o carro oficial da Câmara. Por quê?
CREUSA: È uma boa pergunta. Considero que o carro oficial da Câmara se destina ao trabalho. Então, eu chego aqui com meu carro e estaciono lá fora. Se porventura eu tiver que fazer um trabalho da Câmara, ou mesmo um funcionário, o carro está aí, pode ser usado sem problemas. Para voltar para minha casa, irei com meu próprio veículo. Não pretendo hoje levar o carro oficial para minha casa. Para trabalho, já avisei: ele está liberado para qualquer funcionário.
CIDADÃO: Já caiu a sua ficha para o fato de que, quando seus bisnetos e tataranetos estudarem a história do município, eles saberão que a antepassada deles foi a primeira mulher a assumir a presidência do Poder Legislativo de Fernandópolis?
CREUSA: Para isso, minha ficha não caiu ainda. Às vezes encontro as pessoas na rua e elas me dizem: Creusa, você tá fazendo história! Eu até levo um susto. Em momento algum, quando entrei nessa empreitada, pensei no aspecto de fazer história. A candidatura era circunstancial, de um momento político onde até as chances eram pequenas, de início. Vencer a eleição foi a vontade de Deus. Eu pedi: Senhor, se eu tiver condições de fazer um bom trabalho, me coloque na presidência. Senão, me tire logo. Então, realmente não caiu essa ficha, e não estou me valorizando a esse ponto, ainda (risos).
CIDADÃO: Como será seu relacionamento com o público em geral?
CREUSA: Vou tentar atender a todos. Se eu não conseguir, alguém o fará. Ninguém sairá da Câmara sem ser atendido, pode ter certeza disso.
CIDADÃO: E a família, como recebeu sua eleição? O Zicão não está enciumado de dividi-la com a função pública?
CREUSA: Meu marido está acostumado comigo fora de casa, porque sempre trabalhei fora. Na verdade, ele até me policia, no sentido de dizer: Você não tem uma reunião na Câmara às 13h? É interessante como ele participa, tenta colaborar com o meu trabalho de vereadora. Deus sabe tanto o que faz, que há dez ou doze anos alguns amigos queriam me lançar candidata a vereadora. Confesso que fiquei empolgada, mas o Zicão não gostou da idéia. Fiquei triste e desisti do projeto. Anos depois, acabei entrando na política, me elegi e hoje tenho todo o apoio da família. Tudo tem o seu tempo certo, e acho que o meu chegou.
CIDADÃO: E o tempo certo de Fernandópolis, chega quando?
CREUSA: Estou otimista. Como já disse, meu grande sonho é que a oferta de empregos seja excelente. É triste que os filhos da cidade tenham que ir embora para trabalhar. A ZPE pode e deve ser a grande saída, e queremos nos agarrar a esse projeto e lutar pelo seu sucesso. Vejo uma luz. Tomara que eu não esteja enganada, que a ZPE seja plena de êxito e que seja a vez de Fernandópolis.