Em bela cerimônia, a cidade homenageou seu maior tribuno afixando seu busto em lugar de destaque
A assessoria do prefeito Luiz Vilar de Siqueira somou pontos ao organizar uma bonita homenagem para o falecido advogado Fernando Jacob, que dá nome à praça considerada o marco zero de Fernandópolis. O local tem o nome do jurista desde 1991, quando o então vereador Nelson Cunha apresentou projeto de lei nesse sentido.
Reformada pela prefeitura e depois de muita polêmica em relação aos gastos e à demora a praça finalmente foi reinaugurada na noite de quarta-feira, 15, com a presença da maioria dos familiares do homenageado, autoridades locais, amigos, admiradores e até a Orquestra de Sopros de Fernandópolis.
Dona Ely Martins Jacob, viúva de Fernando Jacob, estava cercada pelos filhos Fernando Filho, Luiz Eduardo e Eliana, além de noras, genros, netos e bisnetos.
Os oradores destacaram a figura do homenageado. Henri Dias falou pela OAB e explicou que a conquista da 45ª Subsecção de Fernandópolis aconteceu por obra de Fernando Jacob, seu primeiro presidente. Pela Associação de Amigos e entidades falou Antonio Menezes de Assis. Usaram da palavra o presidente da Câmara, Dorival Pântano, o empresário Walter Faria e o prefeito Luiz Vilar.
Pela família, falou a professora Eliana Jacob de Almeida, que afirmou: presenciar uma homenagem a alguém falecido há mais de 20 anos renova nossa fé, pois nos faz lembrar que o homem é um ser histórico, não vive solto no tempo e no espaço; ele precisa de suas raízes, sua cultura, de alguém que chegou antes para lhe mostrar que temos no passado grandes lições com as quais podemos construir nossa trajetória.
Após os discursos, família e autoridades se dirigiram até o local em que está o busto de Fernando Jacob, um trabalho produzido pela empresa Fund Padi, de São José do Rio Preto. Além do rosto do homenageado, está gravada uma de suas frases mais conhecidas: Esta cidade me deu muito mais do que eu pude dar a ela.
Personalidades destacam as qualidades do homenageado
Vic Renesto
O meeting da noite de quarta-feira marcou o ressurgimento público de muita gente que já não freqüenta solenidades e inaugurações.
Jornalistas e observadores da cena política, já meio cansados de ver as figuras de sempre Vilar, Pântano, os onipresentes Toninho Assis e Maiza Rio e principalmente os chaleiras do prefeito empinando seus aduncos narizes, tiveram a chance de se deparar com caras novas.
A esfuziante emoção do velho Nelson Cunha era visível à distância. O grande amigo de Fernando Jacob abraçou e foi abraçado por gente de várias gerações. Oficiais de Justiça que trabalharam com o Mago do Júri foram à praça assistir à solenidade.
Na faixa acima de 50 anos de idade, havia corretores, professores, políticos de outras épocas e várias pessoas do povo. Cada um com um caso para contar. CIDADÃO colheu alguns depoimentos, que você lê a seguir.
A lembrança mais marcante foi justamente a derradeira, quando a cirurgia cardíaca que o Jacob fez em Rio Preto não foi bem-sucedida. Ali senti que Fernandópolis perdia um dos grandes vultos de sua história. Jacob era um grande tribuno, meu amigo, meu irmão (Nelson Rodrigues da Cunha, aposentado, que, tolhido pela emoção, nada mais conseguiu dizer).
Sobre o Dr. Jacob, tenho a seguinte opinião: nossa cidade perdeu uma grande chance de tê-lo como prefeito, no final dos anos 60. Tenho certeza de que sua gestão teria marcado época (Paulo Roberto Angeluci, advogado).
A convivência com Dr. Fernando Jacob foi muito importante, aprendi muito. Eu trabalhava no Cartório de Registro de Imóveis, do qual o Tribunal do Júri era anexo. Além de assistir a vários julgamentos em que ele atuou, cheguei a acompanhá-lo, nas minhas férias ou folgas, a outras cidades em que ele iria atuar no Júri, como Paranaíba, Nhandeara, Rio Preto. Eu ia como motorista. Dr. Jacob foi grande amigo de meu pai, Waltinho Murari. Nos júris, ele era muito técnico e minucioso, além de possuir uma grande oratória (José Fernando Murari, oficial de Justiça).
Entre suas grandes qualidades, Fernando Jacob tinha a de não guardar rancor. Em 1968, na campanha eleitoral, eu trabalhava numa rádio da cidade pertencente ao grupo político adversário de Jacob. A rádio fazia campanha para Leonildo Alvizi. Não havia horário eleitoral, mas a rádio fazia campanha. Ao meio-dia, eu era encarregado de ler um editorial no quadro Sem Censura. Uma vez, o alvo foi o Dr. Jacob, e o texto era cheio de críticas à sua postura esquerdista. Aquilo foi tão forte que virou processo, e fui condenado em primeira instância. Depois, consegui reverter a decisão. Na audiência, o Dr. Jacob disse ao juiz que nada tinha contra o speaker- foi a expressão que ele usou e que sabia que o texto fora escrito por terceiros. Ficamos estremecidos uns tempos, mas aos poucos houve a reaproximação, através do Fernandinho. Mais tarde, o destino me reservou a função de acertar com Dr. Jacob a compra de um terreno dele, onde iríamos construir a Choperia 99.Quando lhe perguntei se queria um endossante, ele respondeu: Não. Sei com quem estou fazendo negócio. A generosidade divina permitiu que restabelecesse minha amizade com Fernando Jacob, um homem que não guardava rancor (Alencar César Scandiuzi, jornalista).
Relato histórico sobre o marco zero da cidade
A praça foi construída em 1962, pelo prefeito Edison Rolim. Na época, Fernando Jacob era vereador em Fernandópolis e, por sua indicação, o logradouro recebeu o nome de Coutinho Cavalcanti, deputado federal que falecera havia pouco tempo.
Em 1964, era governador de São Paulo Adhemar de Barros. O prefeito de Fernandópolis era Percy Semeghini. Com o advento da Revolução de 31 de março, prefeito e vereadores decidiram tirar o nome de Coutinho Cavalcanti, político de esquerda, e o lugar passou a se chamar Praça da Liberdade. Tempos depois, Adhemar foi cassado por corrupção.
Fernando Jacob sonhava que algum dia um dos seus filhos seria vereador e devolveria à praça o nome de Coutinho Cavalcanti, um político honesto e incorruptível. Isso nunca viria a acontecer e, em 28 de outubro de 1990, falecia o Dr. Fernando Jacob, considerado o maior tribuno do Tribunal do Júri que Fernandópolis e região conheceram.
Passado um ano de sua morte (prazo mínimo para que se possa dar a um logradouro público o nome do falecido), o vereador Nelson Rodrigues da Cunha propôs que a praça se chamasse Dr. Fernando Jacob. Hoje octogenário, Nelson Cunha compareceu à solenidade de quarta-feira.
Emocionado, ele se recordou de uma caminhada do Dr. Fernando Jacob ao lado de políticos do PMDB, em 1982, quando novos ventos sopravam na política do Brasil - Ulisses Guimarães, Orestes Quércia, Franco Montoro, Fernando Morais, Ralph Biazi, Fernando Henrique Cardoso e outros, em visita a Fernandópolis. Ao chegar à praça e vê-la tomada pelo povo, o advogado exclamou: Agora eu acredito que o Brasil está mudando!.