A liberdade de sentir o vento no rosto

20 de Agosto de 2025

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A liberdade de sentir o vento no rosto
Desde o último dia 1º, Claudecir Vergínio dos Santos é um dos mais novos aposentados da praça. Aos 52 anos, Claudecir ostenta uma carreira de 33 anos como funcionário no Banespa – hoje Santander -, 21 deles como gerente. Ele atribui o privilégio de poder se aposentar ainda jovem à preocupação de fazer, desde o início da carreira, um plano de previdência privado. Natural de Adolfo (SP), casado com Selma, pai de Claudecir Vitor e Eduardo, o entrevistado passou, no exercício da profissão, pelas cidades de Araçatuba, Turmalina, Jales, Adolfo, Campinas, Populina, Urânia, Palmeira D’Oeste, Valentim Gentil e Fernandópolis, onde está há dez anos. Formado em Biologia, Claudecir tem nada menos que 42 cursos extracurriculares, o que fez dele um interessado universal e um ótimo papo. Conheça um pouco desse brasileiro que, quando solteiro, percorreu todo o país de motocicleta, bem como Paraguai, Bolívia e Argentina. Agora aposentado, ele faz planos de viajar com a moto até a Venezuela, em 2012.



CIDADÃO: Quanto tempo você trabalhou como bancário?

CLAUDECIR: Foram 33 anos de banco, desde bem antes da privatização. Agora, vou gozar os benefícios da aposentadoria.

CIDADÃO: Já “caiu a ficha”? Você, que sempre foi muito dinâmico, já consegue se sentir aposentado?

CLAUDECIR: Na verdade, eu me preparei muito para esse momento. A gente tem que se preparar para tudo na vida. Tinha uma atividade muito intensa, e li muito sobre os reflexos da aposentadoria. Creio que me acostumarei bem rápido. Agora, é tocar os projetos de vida.

CIDADÃO: Por que, entre tantas cidades onde você já morou por motivo de trabalho, você escolheu viver em Fernandópolis?

CLAUDECIR: Quando passei por outras cidades, buscava a ascensão profissional, e sempre levei minha família comigo. Era condição sine quae non para as minhas promoções. É na família que está nossa base, nosso equilíbrio. Aí, quando cheguei a Fernandópolis, eu já estava no cargo máximo de uma agência, que é o de gerente geral. Só teria que dar continuidade ao meu trabalho. Nunca galguei outros cargos no banco, como gerente regional, superintendente, diretor, porque do que eu gostava mesmo era de ser gerente, manter contato direto com as pessoas. Nunca gostei da ideia de ficar fechado numa sala, diante de um computador, comandando pessoas de longe. Ao chegar a Fernandópolis, gostei da cidade, porque encontrei muitas pessoas boas, acolhedoras. São pessoas diferenciadas, enraizadas por laços familiares, as famílias são ligadas entre si. Meus filhos, que já estavam numa fase de adolescência, formaram aqui suas melhores amizades – e também já estão chegando ao tempo de cursar uma faculdade. Minha esposa é da região – nasceu em Fátima Paulista e se mudou para Jales ainda menina – e decidimos ficar. Tenho negócios particulares na região, em Turmalina e Santa Salete. Então, ficamos num centro excelente, onde há boas pessoas e uma cidade bem servida de bons médicos, bom comércio...

CIDADÃO: Seus filhos querem fazer faculdade em Fernandópolis?

CLAUDECIR: Esse aspecto foi fundamental. Meus meninos são muito ligados à família, tanto que não querem estudar fora. Já deixei aberta essa possibilidade, mas eles dizem: “se Fernandópolis tem faculdades, preferimos ficar em casa”.

CIDADÃO: Na condição de gerente geral de um banco importante, certamente você deve ter percebido os reflexos da notícia de que Fernandópolis terá uma ZPE. Como repercutiu essa notícia entre clientes, investidores e direção da empresa?

CLAUDECIR: Fernandópolis é uma das cidades da região onde o Santander está melhor posicionado. A nossa agência é a primeira em rentabilidade, em passivos e ativos da regional à qual pertence. Somos visitados por pessoas da regional, que vêm conhecer as razões da magnitude dos negócios. Superamos Votuporanga, Jales e até Birigui. Existe uma pesquisa nos EUA que demonstra o seguinte: quando um gerente geral permanece numa agência bancária durante muito tempo, a rentabilidade cresce muito, porque os clientes passam a acreditar no gerente. O cliente gosta dessa estabilidade. O banco passa a ter a cara do gerente. Na verdade, os “produtos” que os bancos oferecem são iguais, o atendimento é que é o diferencial. E, se você trata o ser humano como tal, seja qual for sua condição financeira ou o seu status na sociedade, a coisa vai bem. No início da minha carreira, em Turmalina, eu fazia café da manhã do meu próprio bolso – e era apenas um auxiliar de escrita – para os aposentados. Hoje, quando volto lá, ainda encontro gente que se lembra disso e diz que eu os atendia muito bem. Mas, voltando ao assunto da ZPE, quando correu a notícia nosso banco estava mudando de regional. Saímos da de Rio Preto e fomos para a de Andradina. A gerente regional de imediato se prontificou a buscar informações sobre o significado daquilo, os números etc. Chamei-a a Fernandópolis, mostrei alguns dados sobre a questão e levei-a ao prefeito Luiz Vilar. Ela colocou todos os mecanismos disponíveis do banco – financiamento, comércio exterior, câmbio – tudo à disposição da ZPE. Para o banco, isso é muito importante, porque evidentemente é preciso buscar rentabilidade, e se acontecer tudo o que está previsto, o banco investirá tudo o que pode ser investido. A injeção de dinheiro dos bancos na cidade – quer seja crédito rural, quer seja para pessoa física, quer seja para as empresas – é muito importante. Creia: se os bancos enxugarem o dinheiro que existe circulando, a cidade virtualmente vai parar. Esse dinheiro faz a sociedade crescer. O banco está inserido no contexto da sociedade e a filosofia é que o banco conviva nessa sociedade e a ajude a crescer. Tenho certeza de que o Santander fará de tudo para ajudar na viabilização da ZPE.

CIDADÃO: Falemos do outro lado do Claudecir: o lado aventureiro, a sua paixão pelo motociclismo. O que o levou a fazer viagens em duas rodas pelo Brasil e exterior?

CLAUDECIR: A primeira moto que possuí foi comprada com os primeiros salários do banco. Em princípio, era apenas como meio de locomoção. Só que na infância e juventude, eu curtia revistas que publicavam fotos de motocicletas, ficava fascinado. Meus primos possuíam motos, e aos 12 anos ficava pedindo pelo amor de Deus para que me deixassem dar uma voltinha (risos). Mais tarde, já no banco, comprei a primeira, uma 125cc. Nessa época, decidi que não me casaria antes dos 28 ou 30 anos de idade, porque pretendia fazer as viagens com que sonhava. E fiz: todas as minhas férias eu viajava de moto 30 dias. Traçava antecipadamente um trajeto. Depois troquei a moto por uma 250cc, depois uma CB-400 e por fim uma 450cc. Conheci quase todos os estados, fui do Oiapoque ao Chuí. Aí veio a vontade de fazer uma viagem internacional. Na primeira vez, fui até Foz do Iguaçu, entrei no Paraguai e quase cheguei a Assunção: tive que voltar porque as férias estavam acabando e teria que voltar ao trabalho. Na segunda viagem, fui até Corumbá e dali seguiria para La Paz, na Bolívia. Dessa vez, um amigo de Rio Preto me acompanhava. Porém, quando estávamos no trecho entre Santa Cruz de La Sierra e La Paz, soubemos que eclodira uma revolução civil na capital. No meio do caminho, os federales nos obrigaram a voltar. O problema era que o combustível não daria para voltar a Santa Cruz. Tivemos que parar numa fazenda e pedir ajuda. Solicitamos pouso e que o proprietário nos vendesse gasolina. Foi tudo bem, o único problema foi a sopa de tartaruga que a mulher dele nos serviu, porque tive um sério desarranjo intestinal, e não pudemos viajar no outro dia. Ficamos dois dias na fazenda (risos). Outra viagem marcante foi para a Argentina. Depois, me casei, mas continuei tendo motos e até fiz pequenas viagens. O meu filho mais novo também é apaixonado por motos, o mais velho não. Agora, com a aposentadoria, quero realizar um velho projeto. Inicialmente, o objetivo era viajar até Toronto, no Canadá, mas terei que encurtar esse trajeto: fica difícil arrumar companheiros para essa empreitada, além do que é meio arriscado atravessar toda a América Central de moto. Então, farei uma viagem pela América do Sul, começando pelo Uruguai, Argentina, Peru, e subindo até a Venezuela, de onde entrarei no Norte do Brasil.

CIDADÃO: Aos 52 anos, você está em forma física para uma aventura dessas? Você se prepara fisicamente?

CLAUDECIR: Eu me preparo, sim. Para fazer viagens longas de moto, é preciso ter um bom alongamento, estar preparado física e mentalmente. Quase todos os dias eu vou à academia, minha alimentação é muito saudável e equilibrada. Não fumo nem bebo, minha saúde está em ordem. É importante ter consciência daquilo que você consome. Se você come uma banana, deve saber que tipo de vitamina ela tem, se tem fibras, quantas calorias tem. Graças ao curso de Biologia e a muita leitura, eu consigo saber se os alimentos que consumo me farão bem ou não. A viagem é realmente cansativa do ponto de vista físico. A coluna sofre muito, quem tem problemas de coluna realmente não pode viajar de moto. Seus sistemas excretores também precisam estar em ordem – fígado, intestino, pele, rins. Estou me preparando, essa viagem só vai acontecer em 2012. Adoro sentir a liberdade que a moto proporciona, o ronco do motor, o vento batendo no rosto.