A docência não prejudica a profissão, garante Nagib Boer

20 de Agosto de 2025

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A docência não prejudica a profissão, garante Nagib Boer
O cirurgião-dentista Nagib Pezati Boer é o coordenador do festejado curso de Odontologia da Unicastelo de Fernandópolis. Formado em 1988 pela Faculdade de Lins, detentor de várias especializações – Dentística na UNESP de Araçatuba (1990); Prótese na USP de Bauru (1991), com Mestrado concluído em 2002 na Unifesp e Doutorado em fase de conclusão na Famerp, o entrevistado responde à coluna sobre um assunto que ele trata como “mito”: o conceito de que os profissionais liberais – dentistas, médicos, advogados – que se dedicam à docência universitária prejudicam sua performance profissional nos consultórios e escritórios. Nagib discorda frontalmente dessa tese e aponta várias razões para isso. Casado com Maria Betânia e pai de Ana Luiza e Luís Fernando, fernandopolense de nascimento e de coração, Nagib está felicíssimo com a nota do curso de Odontologia no ENAD: 5, a nota máxima.

CIDADÃO: Algumas pessoas acreditam que o profissional liberal que divide seu tempo entre o consultório e a cátedra de professor prejudica o trabalho do profissional. Isso faz sentido?
NAGIB: Não, não faz sentido algum. É o contrário: aquele profissional que se dedica também à área de docência estará sempre atualizado, porque ele precisa estudar o dobro do que normalmente estuda um profissional só de consultório. A única coisa que pode acontecer é que o horário de atendimento passe a ser mais restrito, e que precise ser rigorosamente agendado pelo paciente. Só isso. Nada mais atrapalhará o trabalho. O profissional docente é atualizado, cuja chance de errar é muito pequena.
CIDADÃO: Justamente por causa desse horário restrito, podem acontecer coisas do tipo: “Doutor Fulano está aí?” “Não”. Coisas assim não deixam a ideia de abandono do consultório? Como resolver essa mistificação em torno do professor/dentista, do professor/médico, do professor/advogado?
NAGIB: A gente tenta trabalhar de forma a que nenhum paciente fique sem atendimento, pelo contrário. Na verdade, hoje em dia praticamente ninguém vem ao consultório por que viu a porta aberta. O cliente liga e tenta marcar horário por telefone. De qualquer forma, a gente tem algum período para atender a esse paciente. Então, a forma de solucionar isso é muito simples: a nossa clínica jamais fica sem um profissional que possa atender ao paciente naquele momento. Nunca ele chegará à clínica e voltará de mãos abanando. Nossa secretária foi treinada para isso e está sempre empenhada em resolver a questão. Se, hipoteticamente, a impossibilidade de sair da faculdade para atender ao paciente for total, haverá outro profissional que resolverá o problema de emergência. Logo em seguida, a gente volta e retoma o tratamento normal.
CIDADÃO: Concretamente, o que a condição de professor traz de enriquecimento à capacidade do profissional liberal?
NAGIB: Hoje em dia, o alunado é especial. Se, por um lado, às vezes tem um pouco de folga para estudar, por outro é muito curioso, e isso é bom. Então, se você está numa sala de aula, numa clínica ou num laboratório ministrando uma certa disciplina, você tem que ter conhecimento pleno dessa matéria, porque será muito cobrado. Além disso, somos frequentemente convidados para cursos e palestras em outros centros, o que aumenta muito o nosso aprendizado. Esse aprendizado, evidentemente, é trazido para dentro do consultório. Finalmente, há outro aspecto, muito marcante na área da docência: a titulação. Todo mundo do setor hoje tem que ter uma atualização diferente daquela corriqueira. O fato de fazer mestrado, doutorado, e conviver no meio acadêmico de profissionais, é muito diferente. O profissional que faz uma especialização tem, é claro, o seu valor, mas se ele estiver fazendo mestrado ou doutorado junto com outros profissionais que já tem especialização – então, ele faz uma pós-graduação bem mais avançada, e o aprendizado é muito maior, nem se compara.
CIDADÃO: E as novas tecnologias? A cátedra da Odontologia da Unicastelo tem acompanhado o que há de “ponta” no mercado?
NAGIB: Não há dúvida. Temos que ter em mente que o marketing dessas grandes empresas é esperto. Qualquer faculdade hoje, de qualquer área – principalmente nas faculdades de Odontologia, onde é difícil acompanhar a evolução dos materiais – logo que abre um determinado curso, sofre uma campanha estrondosa de marketing dessas empresas. Temos diariamente visitas de representantes comerciais oferecendo produtos que ainda nem foram lançados no mercado. Esse produtos chegam à faculdade para serem usados em pesquisas, comprovando o que o vendedor indica: “Olha, esse material vai resultar numa estética melhor, com uma durabilidade maior”... A tudo isso, a gente tem acesso antes do profissional de consultório. Então, a tecnologia chega antes à área dos docentes do que à do profissional só de consultório.
CIDADÃO: Já que se falou em marketing, creio que não há propaganda melhor para uma faculdade do que a nota 5, que é a nota máxima no critério do ENAD, obtida pela Odontologia da Unicastelo. O que isso representa para você, como professor da instituição?
NAGIB: Significa a plenitude. Desde que comecei a minha carreira de docente na FEF, em 1990, na Anatomia, e depois passando à docência na Medicina, buscava isso. Nunca tive oportunidade de ser coordenador ou algo assim. Aliás, muitas vezes me questionaram quanto à competência, porque eu não era profissional daquelas disciplinas. Com a chegada da Odontologia da Unicastelo, em 2007, fizeram um convite para que eu fosse o coordenador, e minha missão era fazer um curso diferenciado em todo o Brasil, para mostrar à cidade e região que aqui há profissionais que lutam pela cidade e para ser o melhor. É uma característica minha, não entro numa disputa almejando o terceiro ou quarto lugar. Nunca me contentei com isso. A nota 5 veio mostrar para muitas pessoas que estavam ligadas a mim diretamente que tudo o que plantei nesses quatro anos de faculdade de Odonto que se completarão agora, era para chegar ao ponto máximo em que o curso poderia chegar. A minha equipe – e aí creio que também tenho uma pontinha de mérito, porque é uma equipe escolhida a dedo – trabalha diurtunamente em busca da excelência.
CIDADÃO: Depois que a nota foi divulgada, foi possível sentir os reflexos nos pais de alunos da região?
NAGIB: Claro, isso foi imediato. O nosso curso, hoje, opera com capacidade máxima de alunos – 40 no Integral e 40 no Noturno. Abrimos o processo seletivo esta semana e já temos várias matrículas efetivadas. O nosso aluno, hoje, traz a posição de colegas que iriam prestar exames em outras faculdades e acabaram se direcionando para cá. Isso é um ganho muito grande para a cidade, temos que encarar os alunos de nossas faculdades que vieram de fora como grandes e importantes moradores de Fernandópolis. O curso de Odontologia, só para que se tenha uma idéia, tem hoje 270 alunos; desse total, 250 são de fora. Ora, esse aluno tem um custo de vida, e os recursos são aplicados no comércio local. Assim, entendo que estamos colaborando com a economia do município de uma maneira bastante progressista.
CIDADÃO: Você concorda com o critério do IBGE, que no censo realizado este ano não conta os estudantes universitários como moradores de Fernandópolis, e sim de suas cidades de origem?
NAGIB: Acho que é um grande erro. O estudante de Medicina, por exemplo, mora pelo menos seis anos na cidade! O de Odonto, cinco anos. Tem gente que mora menos tempo na cidade e é contabilizado. Acho que o IBGE deveria rever isso.
CIDADÃO: E o seu curso de doutorado, como vai?
NAGIB: Parti para a área de cirurgia, onde estamos estudando uma re-enervação, uma idéia que surgiu com o professor Humberto Faleiros, hoje cirurgião plástico. A discussão é que as lesões nervosas são um problema para a área da cirurgia, porque normalmente as intervenções num acidentado, ou na cirurgia oncológica para extirpação de um tumor, normalmente se corta algum nervo e a pessoa ficará com seqüela pelo resto da vida. O meu trabalho é fazer uma re-enervação, de uma maneira em que será pego um nervo doador e feito um enxerto; e outro nervo, numa fase antes de uma cirurgia oncológica ou num pós-trauma, onde o paciente terá uma recuperação bastante interessante. Os estudos em ratos que já concluí tiveram resultados surpreendentes. Já existe alguma técnica desse tipo, mas a técnica de neurorrafia látero-lateral ou em loop, que é o objetivo dessa tese, é inédito. Existe apenas uma escola na Turquia que vem desenvolvendo um trabalho parecido com o meu. Estou sendo orientado pelo professor Fernando Batigália, um médico da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto, e devo concluir a defesa da tese no início de 2011. No máximo até abril, a tese deverá ser publicada.
CIDADÃO: Na sua divisão do tempo, sobra algum tempo para a pesca, seu esporte predileto?
NAGIB: Sim. Sou muito sistemático em relação ao meu tempo. Eu levanto na segunda-feira às 7h e só paro na sexta-feira às 18h. De segunda a quinta eu trabalho nos três períodos, e isso me dá o maior prazer, porque não consigo ficar parado, adoro trabalhar e estudar. Agora, na sexta-feira, depois das 18h, até a tarde de domingo, dificilmente faço alguma coisa. Então sobra tempo para dar umas voltas de lancha, pescar e curtir a natureza e a família.