Ato de apoio a juiz tem adesão de entidades de Fernandópolis

20 de Agosto de 2025

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Ato de apoio a juiz tem adesão de entidades de Fernandópolis
Dezenas de entidades e instituições do município de Fernandópolis ampliaram com ofícios e cartas o ato de apoio ao juiz da Vara da Infância e Juventude da Comarca, Evandro Pelarin.
O ato foi organizado pela Associação de Amigos do Município, presidida pelo empresário Toninho Assis, e aconteceu na manhã desta quarta-feira, 8, no Palácio 22 de Maio.
A manifestação – que, como comentou o deputado federal Devanir Ribeiro, presente ao evento, “tanto poderia ser um ato de apoio quanto um ato de desagravo” – deveu-se à matéria levada ao ar no “Fantástico”, da TV Globo, na noite de 29 de agosto. Numa reportagem de tom sensacionalista, o texto rotulava Fernandópolis como “uma cidade sitiada pelo tráfico de drogas”.
A operação foi desencadeada pelo GAECO – Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado – em conjunto com a Polícia Militar. A operação aconteceu dois dias antes da exibição da matéria, e foi acompanhada durante todo o tempo pela reportagem do “Fantástico”.
O tom da reportagem incomodou grande parte da sociedade fernandopolense, principalmente por causa das palavras do presidente do CONDECA – Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, Fábio Feitosa, que foi entrevistado pela revista eletrônica da Globo e afirmou que o “Toque de Acolher”, decretado por Pelarin, desrespeitava a Constituição Federal por “tolher o direito de ir e vir”.
A matéria ganhou repercussão nacional e as manifestações de repúdio atravessaram a semana. No ato desta quarta-feira, cerca de 300 pessoas compareceram ao prédio da Câmara. Estavam presentes o prefeito Luiz Vilar de Siqueira e seu vice, Paulo Biroli; os juízes de Direito Luciana Cochito e Heitor Miura; o presidente da Câmara, Dorival Pântano; os ex-prefeitos Milton Leão e Adilson Campos; vereadores, delegados de polícia, presidentes e membros de entidades.
SOLIDARIEDADE
O juiz diretor do Fórum local, Alceu Corrêa Junior, que estava em viagem, enviou ofício onde declara “apoio irrestrito ao juiz Pelarin pelas ações encetadas, de cujo entendimento compartilho”.
Na abertura dos trabalhos, Toninho Assis afirmou que “nossa cidade tem lei” e passou a palavra a Pântano, que agradeceu ao juiz pela “coragem” demonstrada na defesa da criança e do adolescente. “Problemas como os nossos, toda cidade tem; um canal de TV é que fez uma matéria mal enfocada”, considerou o presidente do Legislativo.
Em seguida, Devanir Ribeiro afirmou: “sempre apoiei a ação do Dr. Pelarin. Não tenho mais filhos pequenos, mas tenho netos. O doutor Evandro despertou em nós o sentimento de que temos que nos preocupar mais com a criação de nossos filhos”.
O deputado defendeu que a legislação seja alterada para permitir que o jovem possa começar a trabalhar mais cedo – ele sugere que a idade mínima baixe para 14 anos. Devanir repudiou o teor da matéria, considerando-a negativa “para a auto-estima e para o desenvolvimento da cidade” e se declarou solidário ao juiz e ao município.
ORADORES
O pastor Francisco, o Padre Deoclides e a presidente do Conselho Tutelar, Célia Mafra, consideraram que a reportagem se equivocou ao considerar Fernandópolis uma cidade sitiada pelas drogas. Falando em nome da VOLFER – Voluntários da Santa Casa – a professora Wônia Aparecida Franco Gomes afirmou que é da ingratidão que os bons tiram as lições para se aperfeiçoarem e serem ainda melhores para a sociedade, e comparou os dissabores da vida ao “momento que antecede a boa colheita”.
O prefeito Luiz Vilar de Siqueira contou que sempre que viaja é procurado por pessoas que não conhecem Fernandópolis mas conhecem o juiz e seu trabalho à frente da Vara da Infância e Juventude, onde criou o “Toque de Acolher” e o “Toque Escolar”, modelos adotados por outros municípios. “Trata-se de uma reportagem maldosa”, criticou Vilar.
O prefeito encerrou dizendo que “gostaria que eles (a TV Globo) estivessem hoje aqui” – a reportagem da emissora carioca não apareceu. “Passamos por dificuldades, mas estamos encontrando o nosso caminho. Lutamos pela liderança regional, e creio que isso incomoda algumas pessoas”, concluiu.
MÚSICA
Terminados os pronunciamentos, Pelarin foi convidado a se dirigir à frente da mesa principal, onde as mensagens das entidades lhe foram entregues por dona Alice Ferrarezi e pelo empresário Luiz Arakaki. Em seguida, Gustavo Mafra, que é deficiente visual, adentrou o plenário tocando seu violão e cantando “Amigo”, de Roberto e Erasmo Carlos.
Finalmente, chegara o momento do homenageado usar da palavra. Na tribuna, Pelarin afirmou que todos os ofícios serão juntados ao processo nº 90/2009 – o que trata do “Toque de Acolher”.
Depois de afirmar “não ter preconceitos com políticos, nem com qualquer tipo de gente”, Pelarin disse: “Na história da humanidade, a liberdade é a maior conquista. Os negros, por exemplo, sofreram durante a escravidão, até que alguns brancos e negros, irmanados, acabaram com aquilo”, considerou.
“Hoje” – prosseguiu – “as drogas são uma forma terrível de escravidão; temos verdadeiros zumbis mirins, mortos-vivos, pequenos seres humanos capazes de matar e roubar para obter a droga. Se o programa ‘Fantástico’, que não teve qualquer contato comigo, não deu a menor importância ao nosso trabalho de cinco anos, isso não abala o nosso entusiasmo”.
O juiz revelou que mandou investigar eventuais ilegalidades na forma de apuração da reportagem e decretou: “Jamais conseguirão subtrair a dignidade do povo de Fernandópolis”.