O caso que vou contar é um absurdo, gente: meu filho Gustavo de 20 anos, deficiente visual total, saiu no sábado com meu marido para ir até o centro da cidade para pagar algumas contas e passear pela cidade. Ao chegar à Avenida Manoel Marques Rosa, ele se deparou com um motoqueiro que estava estacionado na vaga para deficiente, e foi conversar com ele. Para surpresa de meu filho e de meu marido, o motoqueiro colocou o capacete, ligou a moto e passou por cima dos pés do meu filho!
Quando meu marido viu aquilo, tentou segurar o condutor, e ele jogou a moto sobre meu marido, ocasião em que o guidão da moto pegou em seu abdômen. Meu marido teve que ser socorrido pelo resgate e levado até a Santa Casa. Tal foi minha surpresa que quando fui avisada do acontecido fui até o local e meu filho lá estava pedindo que alguém socorresse meu marido, o motoqueiro estava no local ainda, mas ninguém, ninguém mesmo tentou pelo menos ajudar meu filho e meu marido.
O tal motoqueiro veio falar comigo, pedindo pelo amor de Deus para não chamar a policia, pois estava com os documentos da moto atrasados e eu iria prejudicá-lo, eu disse que já havia chamado a polícia e o resgate e ele saiu em disparada pela contramão e foi embora. E as pessoas que ali estavam ainda deram razão e disseram pra ele fugir mesmo! Meu Deus, onde estamos? Onde estão os cidadãos bons de nossa cidade que viram tal sofrimento do meu filho que estava somente exigindo os seus direitos, quando cheguei ao local meu filho estava desesperado chorando, sem saber onde estava e o que estava acontecendo ao seu redor.
Fomos conduzidos para o plantão policial junto com a P.M e meu marido foi levado pelo resgate para a Santa Casa de Fernandópolis. Meia hora depois de estarmos no plantão policial fazendo o boletim de ocorrência, o tal motoqueiro apareceu com sua mãe já com outra moto esta documentada e licenciada -, dizendo que era a mesma que ele estava na cidade, tal foi minha surpresa que ele foi ouvido e foi a história dele que prevaleceu, saindo assim meu filho e meu marido como agressor por tentar segurar o motoqueiro e exigir seus direitos, e o motoqueiro ainda disse em seu depoimento que meu filho tentou agredi-lo com a bengala, sendo que ele não enxerga nem a luz do dia, como iria agredi-lo com a bengala, sem saber em qual direção ele estava!
O que é isso gente, meu filho e meu marido não são palhaços, nem estão cobrando nada que não seja de direito do Gustavo e seus amigos deficientes. Mas sabe, fiquei muito nervosa, chorei, discuti, briguei, mas recebi a visita em minha casa de um anjo sem asas, e resolvi deixar na mão de Deus e da Justiça de Fernandópolis, que eu sei muito bem que essa funciona. Eu não quero prejudicar você, D...., não quero que você perca seu trabalho, e nem quero indenização, mas gostaria muito que você refletisse sobre o que fez, e a Justiça determinasse que você pagasse sua pena em uma instituição que cuida de deficientes, para sentir na pele o que ele passam. Isso tudo que aconteceu só me ajudou a ficar mais forte, para lutar e lutar pelos direitos do meu filho e de todos os deficientes. Graças a Deus meu marido está bem, apesar das dores abdominais e meu filho também somente muito assustado e revoltado, mas essa revolta passa, vocês sabem por quê? Porque ele tem a mim e ao pai dele para não deixá-lo desistir de cobrar seus direitos. E eu estou aqui para, se não mudar, fazer a diferença. NOSSOS DEFICIENTES TEM DIREITOS E PRECISAM SER RESPEITADOS!
E, quanto àqueles que estiveram ali no local onde aconteceu o acidente, e que não prestaram ajuda para meu filho e nem o ajudaram a cobrar seus direitos, MEU MUITO OBRIGADA! Que todos vocês nunca precisem, e nunca sintam na pele o descaso e o preconceito. Isso só vai fazer com que eu cobre mais ainda os direitos das pessoas com deficiência.
Célia Aparecida Fontes Lopes Mafra
Fundadora e Coordenadora de Projetos da Associação dos Deficientes Visuais de Fernandópolis
Presidente do Conselho Municipal da Pessoa com Deficiên