Chega o inverno. Com ele, a fuligem da cana

20 de Agosto de 2025

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Chega o inverno. Com ele, a fuligem da cana
Minúsculas partículas emitidas pelas queimadas ficam suspensas no ar e são inaladas
Neste período de inverno, os moradores de Fernandópolis sofrem com a poluição. Entre os motivos estão as queimadas da palha da cana-de-açúcar. Em alguns dias, o índice chega até a superar o da capital do estado.
Muitas pessoas se mudam das capitais para o interior dos estados em busca de ar puro, mas nem sempre é o que acontece. O índice dos problemas respiratórios aumentou significativamente nos últimos anos e nos meses de inverno o problema se agrava ainda mais.
A poluição no interior, que é o maior produtor de cana do país, vem das queimadas. A mecanização já atinge 55% do corte nos canaviais, mas a prática ainda é comum nas lavouras. Por causa da baixa umidade do ar, a queimada só é permitida à noite, mas nem sempre a medida é respeitada.
As consequências das queimadas podem ser vistas em áreas distantes dos canaviais. A fuligem é levada pelo vento até as cidades. Nas áreas urbanas, a sujeira é um tormento para as donas-de-casa, mas o problema vai além do que se pode enxergar.

Minúsculas partículas emitidas pelas queimadas ficam suspensas no ar e são inaladas. Aparelhos instalados no interior pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo revelam que a poluição no interior no período de estiagem pode ser comparada à da capital.

Nos primeiros 15 dias de julho, a média da medição foi de 61 microgramas de partículas por metro cúbico, a situação do ar passou de boa para regular e ultrapassou medições feitas em bairros de São Paulo. Um dano para a saúde, principalmente de idosos e crianças.
FIM DA QUEIMADA
A queima da palha da cana-de-açúcar já tem data para acabar no estado de São Paulo: a partir de 2017 será proibida por lei. Quem mora no interior ainda vai ter que conviver com este problema por mais sete anos.
Com os novos prazos estabelecidos pelo governo paulista por meio do Protocolo Agroambiental, a previsão é de que em 2014 seja eliminada a queima da cana-de-açúcar nas áreas mecanizáveis e, em 2017, nas áreas não-mecanizáveis, aquelas que apresentam declividade acima de 12%. Desde 2007, início do projeto, deixaram de ser queimados 2,6 milhões de hectares no Estado de São Paulo, valor equivalente a emissão da frota de 23 mil ônibus a diesel, no período de um ano.
Em 2009 deixaram de ser queimados 1,1 milhão de hectares de cana, evitando a emissão de cerca de 3,3 milhões de toneladas de monóxido de carbono. Também deixaram de ser emitidas cerca de 290 mil toneladas de material particulado e 480 mil toneladas de hidrocarbonetos. Além disso, as unidades agroindustriais certificadas pelo Protocolo Agroambiental e os fornecedores de cana-de-açúcar comprometeram-se com a recuperação de 251.375 hectares de mata ciliar, o que representa mais de 40 mil km de rios protegidos.
Os produtores se defendem dizendo que apenas 5% podem ser chamados de queimada – situação em que o fogo é feito por determinação da usina.
Os outros 95% seriam “incêndios”, como são chamados os incêndios criminosos provocados por terceiros. “Não interessam à usina as queimadas indiscriminadas”, disse um técnico agrícola. “Os prejuízos são grandes, por causa de mudanças logísticas e do risco de o incêndio alcançar APPs, as áreas de preservação permanente”.
Como as usinas têm autorização para efetuar queimadas em horas e dias predeterminados, elas podem fazer planejamento de transporte de funcionários, cuidados como aceiros e defesa das APPs.