Para engenheiro, região de Fernandópolis vive boom de crescimento

20 de Agosto de 2025

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Para engenheiro, região de Fernandópolis vive boom de crescimento
Se é verdade que o bom filho à casa torna, Silvio Claret Azol Fernandes, nascido há 38 anos em Fernandópolis, retornou à terra de origem com grandes projetos profissionais. Formado em Engenharia Elétrica pela Universidade Estadual de Minas Gerais, Silvio trabalhou vários anos em grandes indústrias do sul do país. No retorno, ele se impressionou com as boas perspectivas de desenvolvimento que detectou em Fernandópolis e região. Na semana em que muito se discutiu a questão da energia elétrica, por conta do problema no frigorífico (leia matéria nesta edição), Silvio fala nesta entrevista das necessidades de se criar fontes alternativas de energia – especialmente numa cidade às vésperas de implantar uma Zona de Processamento de Exportação.

CIDADÃO: No futuro, vai faltar energia elétrica no Brasil?
SILVIO: Se não mudarmos a forma de pensar, com certeza vai. Se não houver investimentos em infra-estrutura, há uma grande chance de que a enérgica venha a faltar. Hoje, o PIB tem uma prospecção de crescimento de 5% ao ano, aproximadamente. Vêm por aí a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, com investimentos pesadíssimos. Na nossa região, temos o entroncamento das vias férreas, a ZPE chegando, e até agora não se ouve falar nada das questões de crescimento industrial no setor energético. Se não me engano, só há uma hidrelétrica em fase de construção, no norte do país. O país está crescendo, e é preciso investir na produção de energia.
CIDADÃO: Qual região brasileira é mais carente de energia?
SILVIO: As regiões Sul e Sudeste, devido à produção industrial. Mas há possibilidade de que no futuro o problema apareça em todas as regiões do país. Atualmente, o caso mais grave é mesmo do Sudeste.
CIDADÃO: O que é co-geração de energia?
SILVIO: Veja: na nossa região, seria a transformação do bagaço e da palha da cana, a vinhaça ou “garapão”, em energia elétrica. O vinhoto era jogado fora, contaminando o solo e o lençol freático; a palha era queimada, provocando os resíduos que todos conhecem; e com o bagaço, eram criadas montanhas praticamente só para fins de produzir volumoso para alimentação animal. Hoje, tudo isso virou ouro. Se a usina investir nesse potencial, ela transforma esses resíduos de sua atividade em energia, suficiente para suprir suas próprias necessidades e até distribuí-la para as cidades próximas. O problema é a burocracia para você injetar essa energia nos meios de transmissão das concessionárias. Um exemplo próximo é a Usina Moema, que tem um potencial de 10 Megavats/hora. Ele só consome a metade, 5 Megavats, e poderia distribuir essa energia excedente; mas não o faz porque não há subsídios do governo para isso. Ora, há 163 usinas de álcool no Estado de São Paulo. Olhe que potencial! No Paraná, existem usinas que deixaram de ter cana de açúcar e álcool como seu produto principal e passou a ter nessa condição a energia elétrica. Por quê? É devido à lucratividade maior, mas para isso é preciso romper a barreira da burocracia. Além do mais, não há subsídios governamentais. Para a nossa região, a melhor alternativa à energia produzida por hidrelétrica é a energia do resíduo da cana-de-açúcar. E tem baixo impacto ambiental e baixo custo. A energia solar, que seria uma alternativa, é caríssima. A energia térmica polui; e a energia nuclear, em minha opinião, nem deveria ser adotada no Brasil. Isso foi uma questão de política.
CIDADÃO: Por que não é possível acumular energia elétrica?
SILVIO: Realmente, não há como guardar a energia. E a rede de distribuição tem que ser bem feita, para evitar perdas na condução. Até hoje, não se desenvolveu alguma forma de acúmulo da energia, dessa forma que utilizamos hoje, que é a energia alternada.
CIDADÃO: Fernandópolis tem uma subestação construída há 40 anos. Isso não representa problema?
SILVIO: Até que não. Conheço o pessoal que trabalha lá, estamos em constante contato, e sei que eles fazem manutenção de primeira qualidade. O pessoal da Elektro é muito eficiente em relação a isso e sempre atualiza os equipamentos. O problema que eu enxergo é que, se não for mudada essa estrutura, com a implantação da ZPE em Fernandópolis, mais a Ferrovia Norte Sul e o boom da construção civil que existe na cidade atualmente, no futuro haverá uma demanda de energia que trará problemas. Mesmo na área industrial que será implantada perto da Cantina Morini, onde serão instaladas novas indústrias, eles poderão aparecer.
CIDADÃO: Na indústria, quais são as formas de racionalizar o consumo e baratear os custos?
SILVIO: Sim. Se esses projetos puderem ser implantados já de início, quando da implantação da indústria, melhor ainda. Muitos não davam atenção a esse detalhe, e depois, efetuar um planejamento fica mais complicado. Há muitas formas de racionalização. Desenvolvi um projeto numa indústria do Rio Grande do Sul que era a troca de motores convencionais por motores de alto rendimento, o que trouxe uma economia não só em termos de energia para a empresa, mas também como parada de fábrica. Isso só trouxe benefícios. Aqui na região, seria a falta de profissionais especializados que tolheria isso. Há muitos autodidatas. Se o serviço não for feito adequadamente, isso por si só representará desperdício de energia.
CIDADÃO: Como você analisa a profissão de engenheiro elétrico no Brasil? Ela tem muito futuro?
SILVIO: Bem, o fato é que, na nossa região, por exemplo, há falta de engenheiros eletricistas. Mas hoje esse profissional está mais valorizado. O curso não é muito procurado porque se trata de uma das engenharias mais complicadas que existem. A maioria dos que existem tende a ir para a área industrial ou montar o seu próprio negócio. Eu, particularmente, sempre trabalhei na indústria, agora é que estou montando meu negócio aqui na região. A verdade é que faltam engenheiros elétricos no país. A profissão está valorizada, assim como outros ramos da engenharia, por causa do grande crescimento que hoje se verifica no país.
CIDADÃO: A tendência mundial é de que a água e a energia se tornem muito caras dentro de alguns anos. O que é possível fazer para minimizar o problema?
SILVIO: Em relação à água, eu posso dizer alguma coisa porque ministro aulas em questão ambiental, e um dos assuntos recorrentes é a questão da água. Hoje em dia, toda indústria que vai ser projetada e planejada já pensa nos resíduos industriais, o que será feito com eles. Pensa no reaproveitamento e reutilização da água. Hoje, já existe o conceito de que a água é um tesouro. A maioria das empresas do Sul do Brasil tem que pagar outorga de utilização da água de poços subterrâneos. Com relação à energia, hoje estão entrando algumas energias pouco difundidas por aqui, como a energia marítima, captada das ondas do mar. A eólica, em algumas regiões do país, tem uma eficiência rentável, vale a pena ser instalada, apesar de que a tecnologia de boa qualidade empregada, por enquanto, é importada – mas nós temos know how para isso, e é uma energia barata. Nós temos as células de combustível, ainda pouco difundidas, e que também geram energia através de hidrogênio, e temos essas variações na co-geração, como citei do bagaço da cana aqui na região. Enfim, na atualidade, basta que se conceba a instalação de uma indústria para que questões fundamentais como a água e a destinação dos resíduos sejam analisadas e sopesadas. Isso é fundamental. Claro, estou falando de empresas de médio e grande porte, as pequenas normalmente não querem ou não podem fazer investimentos em pesquisa e equipamentos nesse sentido.