Prefeitura quer despejar “Seu” Fábio, de 87 anos

20 de Agosto de 2025

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Prefeitura quer despejar “Seu” Fábio, de 87 anos
No dia 2 de setembro de 1959, Fábio Santana deixou sua terra natal, Monte Alto, para viver em Fernandópolis. Ele havia sido contratado pela prefeitura para executar os primeiros serviços da rede de esgoto da cidade.
A administração instalou Fábio e sua família num terreno de 8.500 m2 no final do chamado “Buracão” – hoje, as referências para localizar o local são o Pessotto Flex, o Auto Posto Pôr do Sol e a esquina da Rua Rina Gerardi de Gênova com a Avenida dos Arnaldos.
Ali, durante anos, Fábio, a mulher Rosa – hoje com 83 anos - e os filhos Maria, Alcir e Renato conviveram com os detritos, as moscas e o mau cheiro. “Seu Fábio” era o encarregado do tratamento dos tanques.
Agora, meio século depois, a mesma prefeitura quer despejar “Seu Fábio”. A ação nº 804/2009, que tramita pela 1ª Vara Cível, é chamada tecnicamente de “possessória” – através da qual o município pretende a reintegração da posse do imóvel.
O advogado da família Santana, Marco Antonio Colmati Lalo, aponta algumas incongruências do processo e revela que, em março deste ano, houve um acordo com José Poli, chefe do departamento jurídico do município. Por esse compromisso e para dar condições à reintegração, a prefeitura teria se comprometido a alojar as famílias (Alcir é casado e mora numa das duas casas do terreno).
Também caberia à prefeitura o pagamento de indenização, a cessão de dois terrenos e o pagamento da locação de dois imóveis. Finalmente, a administração arcaria com a retirada do material da demolição das duas casas.
IPÊ E POMAR
“Seu Fábio já não ouve bem, mas ainda assim é capaz de contar sua história. Ele diz que todas as árvores dali – jabuticabeiras, jatobazeiros, goiabeiras – foram plantadas por ele. A exceção é um enorme ipê amarelo, que é nativo do local.
Dona Rosa sofre de Alzheimer. Talvez por isso, não entenda a angústia do marido, que não quer morrer longe do “seu” pedaço de terra. O processo já está em fase de execução, e o oficial de Justiça pode bater à porta deles a qualquer instante.
O filho Alcir, pintor de profissão, critica a postura da administração. Diferentemente do que fora combinado, a prefeitura só havia alugado uma casa, em vez de duas – e sem instalação de rede de água. Além disso, ele ouviu comentários de que, no terreno, será construída uma clínica médica particular. Isso o deixa “revoltado”, como classificou.
Só o futuro dirá se a previsão de Alcir vai se concretizar. O entendimento doutrinário diz que o interesse coletivo se sobrepõe ao interesse particular. Assim, se o bem-localizado terreno se transformar em praça, horto, biblioteca pública ou coisa parecida, ele engolirá calado. Caso contrário, “as coisas não vão ficar assim”, garante Alcir.