Como agora, era época de Copa do Mundo. Corria o ano da graça de 1970, o campeonato era no México e o Brasil sagrou-se campeão. Desta vez, tivemos uma laranja no caminho tal como a pedra do grande Drummond e o torneio aconteceu na África do Sul. Em comum entre essas duas Copas, havia a militância dos voluntários do CAEFA Centro de Apoio à Educação e Formação do Adolescente, no início denominado Guarda Mirim na luta para encaminhar garotos em situação vulnerável do ponto de vista social. Passados 40 anos, a instituição cresceu. No comando, está o empresário Celso Pereira Martins, há oito anos atuando no Centro. Casado com Nilde de Cássia Martins, pai de Celso Jr e Gabriela, O presidente começou a trabalhar muito cedo. Começou numa indústria de transformadores, até que, aos 19 anos, com o apoio de um tio, o falecido Cláudio Rodante, fundou a Refrigeração Celpaulo. Em janeiro de 1999, Celso criou a Climacel, que atua no ramo de ar condicionado. Sua vida é dividida entre a administração da empresa (o que faz conjuntamente com a esposa Nilde) e a condução da entidade benemerente de tanta tradição e bons serviços prestados a Fernandópolis.
CIDADÃO: Como foi criado o CAEFA?
CELSO: Por iniciativa do juiz da Comarca na época, Antero Lichoto, o CAEFA foi fundado no dia 1º de julho de 1970, com a denominação de Guarda Mirim de Fernandópolis. Seu objetivo era a criação de uma corporação de guarda mirim para agregar meninos de 10 a 14 anos de idade, provenientes de famílias em situação de vulnerabilidade social, promovendo-os intelectual e moralmente e evitando que permanecessem numa vida ociosa e perniciosa. No começo, a Guarda Mirim foi instalada na sala do Consórcio de Promoções Sociais, até 1973, quando, passou a ser administrada pelo Rotary Club de Fernandópolis e recebeu seu prédio próprio, por doação da prefeitura. O primeiro presidente foi o sr. Antonio França.
CIDADÃO: Você trabalha há oito anos no CAEFA. O que o motivou a trabalhar numa instituição dessa natureza?
CELSO: Também fui um adolescente, de infância não abastada perdi meu pai aos 6 anos e aos dez já trabalhava no comércio. Por isso, sei das necessidades desses jovens e sei também que é o trabalho que dignifica o homem. Com essa história de infância, e fazendo parte, como faço, do Rotary Club de Fernandópolis, vi que poderia colaborar com esses jovens assistidos pela instituição.
CIDADÃO: Desde quando você está no Rotary?
CELSO: Desde 2001. No ano seguinte, o Antonio França, o Tonhão, assumiu a presidência, e eu passei a ser tesoureiro do CAEFA. Houve várias mudanças na parte de tesouraria que foram benéficas à instituição, e por causa desse trabalho, me confiaram a presidência, há quatro anos.
CIDADÃO: Você disse que começou a trabalhar aos dez anos de idade. Deixando de lado a legislação que trata da idade mínima para que um adolescente comece a trabalhar, qual é a sua convicção pessoal? Começar a trabalhar mais cedo é ruim para o adolescente?
CELSO: Vou falar por mim. Para a minha vida empresarial atual, foi muito importante começar a trabalhar aos dez anos. Porém, entendo também que tudo evolui, e não podemos esquecer que a educação é também fundamental para a formação de um jovem, do seu caráter. É preciso respeitar as leis, mas unindo esses dois valores a educação e o trabalho tenho certeza de que formaremos mais cidadãos de respeito, os homens do futuro. Só que isso não depende apenas do trabalho do CAEFA: depende também do próprio jovem, da educação que tem no seio da família. Então, se nós hoje tivéssemos pais educando filhos da mesma forma com que nós fomos educados, na nossa época, e isso somado ao trabalho aqui da instituição, tenho certeza de que formaríamos cada vez mais esses cidadãos de bem independentemente de começar a trabalhar com dez ou com 16 anos.
CIDADÃO: Vocês recebem visita de ex-integrantes do CAEFA?
CELSO: Não só recebemos visitas como temos, dentro do quadro associativo do Rotary Club, duas pessoas que pertenceram à Guarda Mirim. Um é o tão conhecido Sebastião Peroco, funcionário do Fórum de Fernandópolis. O outro, que foi presidente do Rotary na gestão passada, que é o Sidney Zulian.
CIDADÃO: Quais são as atividades atuais do CAEFA que merecem ser destacadas?
CELSO: Hoje, o nosso trabalho é voltado para a seleção dos jovens que serão treinados através de uma metodologia que desenvolvemos em conjunto com o SENAC de Votuporanga. De acordo com essa metodologia, os jovens têm 158 horas de aulas na instituição, e depois ele recebe acompanhamento durante dois anos dentro do CAEFA na escola, na família e na empresa. Esse programa Jovem Aprendiz tem duração de dois anos, período em que será acompanhado plenamente pelo CAEFA, orientando-os em suas necessidades durante os diversos campos de participação. Nossa metodologia está bastante avançada em termos de qualificação para o mercado de trabalho.
CIDADÃO: Com quantos garotos foi iniciado o programa Jovem Aprendiz?
CELSO: A primeira turma, que começou em julho de 2006, já em parceria com o SENAC, tinha 33 jovens, e a capacitação acontecia três vezes durante a semana. Quando 2006 chegou ao fim, tínhamos 184 estagiários, com bolsa-estágio. Atualmente, estamos com 163 jovens, de ambos os sexos. Desse total, 103 estão inseridos no mercado de trabalho; 50 jovens estão fazendo cursos e há dez deles já capacitados esperando vaga no mercado.
CIDADÃO: Evidentemente, tudo tem um custo. Como vocês subvencionam essas despesas?
CELSO: Essa pergunta é importante porque hoje a nossa instituição sobrevive do trabalho do Rotary Club nos eventos que organiza. O principal evento, todo mundo sabe, é o estacionamento da Exposição, onde já estamos há mais de trinta anos. Essa arrecadação no estacionamento vem para o CAEFA. O mesmo acontece com a arrecadação do jantar dançante e o almoço na própria instituição, para 1200 pessoas. Todo ano, graças a Deus, temos sucesso no evento, arrecadando em média R$ 10 mil. Outra coisa muito importante é a parceria com os empresários, que são o nosso maior apoio. Uma vez que o jovem aprendiz que antes se chamava estagiário tenha essa colaboração dos empresários, que investem na instituição, é possível manter o trabalho.
CIDADÃO: os empresários que participam do programa têm alguma preferência, digamos assim, na colocação dos jovens?
CELSO: Não. Estamos abertos para qualquer empresa, não há prioridades. Respeitamos a lei do jovem aprendiz, e toda empresa pode, se quiser, contratar um jovem aprendiz, inclusive do sexo feminino, já que agora também estamos trabalhando com meninas. Reforço a afirmação de que, atualmente, nosso maior parceiro são essas empresas; sem a colaboração e a participação delas na contratação desses garotos, não teríamos condições de levar esse projeto à frente. Ainda em relação às despesas, elas não são pequenas. Temos o quadro de funcionários, que conta com uma assistente social, uma psicóloga, um conselheiro disciplinar, além da área administrativa, onde atua a Cláudia, e duas outras pessoas a Carol e a Noemi, que cursam Serviço Social que ajudam na aplicação do curso. E é bom não esquecer que nós servimos refeições. Quer dizer, nossa despesa não é pequena. Por isso, aproveito para pedir a colaboração das empresas de Fernandópolis e região: que elas se sensibilizem com a nossa causa.
CIDADÃO: Qual é a sua opinião sobre a recente sanção, pelo presidente Lula, do Decreto que cria a Zona de Processamento de Exportação de Fernandópolis?
CELSO: Vejo isso como um fato muito positivo para a cidade. Até aplaudi ao ouvir a notícia, e isso deve fazer com que se abram várias oportunidades de trabalho não só para os jovens do CAEFA como também para toda a população de Fernandópolis e região. Fiquei muito feliz com essa notícia.
CIDADÃO: Como é o relacionamento do CAEFA com o Poder Judiciário, mais especificamente com o juiz da Vara da Infância e da Juventude?
CELSO: O Dr. (Evandro) Pelarin nos dá total apoio. Aproveito para agradecer publicamente, já que ele faz tudo o que pode para nos ajudar. Já recorremos a ele diversas vezes, e sempre encontramos guarida e orientação. Também o Dr. Denis (Henrique Silva), que é o Promotor de Justiça e pertence ao nosso quadro associativo do Rotary, que dá apoio à instituição. Os demais juízes da Comarca também sempre nos ofereceram apoio e informação.