Quem passou essa semana em frente à barbearia Salão Azul, na Avenida Manoel Marques Rosa, levou um susto. Depois de mais de 37 anos, as portas do estabelecimento estavam fechadas. Ali trabalhou - ao lado de mais de uma dezena de outros profissionais - o famoso barbeiro Gumercindo, que para os íntimos é simplesmente o Gugu. Ele resolveu se aposentar e carregou consigo a gratidão, bons amigos e a recordação de momentos únicos.
Perto de completar 65 anos, o barbeiro lembra do início de sua profissão, aos 12 anos. Nascido em Potirendaba, Gumercindo Francisco Ferreira se mudou para Estrela D´Oeste em 1958. Lá, trabalhou em sítios e fazendas e foi em um desses empregos que começou a cortar os cabelos de pessoas próximas. Assim nasceu sua profissão. Logo que se mudou para a cidade montou seu primeiro salão. Só em Estrela D´Oeste foram mais de 12 anos entre cabelos, barbas e bigodes.
Com o propósito de aumentar a freguesia e o faturamento, resolveu se mudar para uma cidade maior. Foi aí que escolheu Fernandópolis para morar com a esposa Maria Neuza aliás ela é sua melhor escudeira e incentivadora na decisão da aposentadoria, afinal de contas, revelou que adora a companhia do marido e que agora o fogão ficará por conta dele. Antes de montar o Salão Azul, Gumercindo logo que chegou à cidade comprou um salão muito bem equipado de propriedade do falecido Miguel Barbeiro -, que ocupava o prédio em que está instalada hoje a loja Magazine Luiza. Isso foi em 1973 e no mesmo ano Gumercindo vendeu o salão e foi trabalhar como viajante.
Para sorte dos fregueses, ele não se deu bem como vendedor e voltou para a barbearia, no mesmo endereço onde trabalhou até se aposentar. Ali construiu não só uma carreira sólida, mas conquistou muitos amigos. Clientes de Rio Preto e até Campinas viajavam até Fernandópolis para cortar os cabelos com Gugu.
Entre os clientes mais conhecidos e famosos estão os políticos José Serra e Fernando Henrique Cardoso, que em visita a Fernandópolis deram uma esticadinha até a barbearia. O megaempresário Walter Faria, dono da cervejaria Petrópolis, foi seu cliente por muitos anos. Juízes o convocavam para atendimento domiciliar. Várias gerações passaram pela cadeira de Gumercindo: Os garotos começavam na tabuinha (equipamento para deixá-los mais altos) e anos depois traziam os filhos para cortar o cabelo, recorda.
Os filhos estão bem encaminhados: a filha Margareth é formada em Direto; o rapaz, José Renato, é engenheiro e trabalha numa multinacional.
Agora, Gumercindo vai dividir o tempo com a família e a pescaria, suas duas paixões. Atualmente ele está com suas atenções voltadas para as partidas de futebol dos jogos da Copa do Mundo, que acontecem na África do Sul. No dia da entrevista ele estava uniformizado com a camisa do Brasil que só nessa época toma o lugar de sua vestimenta preferida: a camisa do Santos. Não é à toa que no comunicado que produziu, com a ajuda do amigo Paulo Angeluci, informando sua decisão de se aposentar, e colocou na porta do salão, fez questão de estampar o símbolo do time do coração.
Cortar cabelos? Quanto a isso, Gumercindo adotou uma postura radical. Corto o meu com o Julio, filho do finado Roque Barbeiro, disse. Nem o cabelo da Maria Neuza eu vou cortar, garantiu.