O otimista Vono garante: Fefecê chega à segunda fase

20 de Agosto de 2025

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O otimista Vono garante: Fefecê chega à segunda fase
Ele tem 38 anos de rádio esportivo e é o que se pode chamar de sujeito versátil: ex-policial, delegado de Polícia aposentado, político (foi vereador e vice-prefeito de Fernandópolis), apaixonado por futebol, Antonio Olívio Vono comanda a equipe de Esportes da Rádio Difusora. Aos 63 anos, Vono, que nasceu em Marília, é casado com Lucimar Araujo Baroni Vono, pai de Rafaelle, Paulo Moyses e Marielle e avô de Olívia. Palmeirense doente, ele não mistura as coisas: ao microfone, é crítico e exigente com o time do coração. Particularmente, sempre quis entrevistar o “Esmerilho” para esta coluna. Mas queria um papo assim: leve, descontraído e com o tema “futebol” predominando. Bem no clima de Copa do Mundo.


CIDADÃO: Você costuma dizer que torce por três times. Quem são eles?
VONO: Torço pelo Fefecê, pelo Marília e pelo Palmeiras. No rádio, tenho que ser imparcial, mas como torcedor, sou palmeirense roxo.
CIDADÃO: Qual é a sua opinião sobre a atitude de muitos jornalistas esportivos, que escondem o seu time do coração?
VONO: Acho uma grande besteira, porque a grande audiência que o departamento de esportes da Rádio Difusora tem se deve em grande parte à exigência que faço para que todos sejam imparciais. Tem que mostrar a verdade para o ouvinte.
CIDADÃO: Há algumas rodadas, o Fefecê vivia uma crise terrível, com queda de presidente, dispensa de técnico e de grande parte do elenco. Em meio a esse turbilhão, você afirmou, logo depois da derrota para a Votuporanguense, que o time iria se classificar. Passadas algumas rodadas, o time começou a vencer e essa perspectiva hoje é palpável. Por que você acreditava tanto?
VONO: Depois que eu disse isso, houve vários telefonemas para a rádio pedindo que eu fosse internado (risos). No entanto, eu via chances porque nosso grupo é o mais fraco do campeonato. Houve a chegada de novos jogadores, como o meia Pedro, que deu consistência ao meio de campo. Além do mais, eu sempre leio a tabela, isso é fundamental. A tabela mostrava que o Fefecê tinha chances.
CIDADÃO: Por que o futebol de Fernandópolis, de tanta tradição, está há tantos anos penando nessa 2ª Divisão?
VONO: Há um ditado que diz: “Para ganhar eleição, é preciso ter dinheiro; para montar um grande time de futebol, é preciso ter dinheiro; e homem velho que quer namorar moça jovem e bonita precisa ter dinheiro”. Sem dinheiro, você não forma grandes equipes. Na semana passada, o Junior Marão, prefeito de Votuporanga, me dizia que chamou a sociedade para “jogar junto” com a Votuporanguense. Somados os recursos obtidos junto à comunidade com as arrecadações (que tem sido ótimas), devem chegar à casa de R$ 80 mil, R$ 100 mil mensais.
CIDADÃO: E a Copa do Mundo, que tal? Todas as equipes sul-americanas estão se dando bem; os africanos estão eliminados e os europeus não convencem. Analise o futebol desses continentes.
VONO: Temos que falar também dos asiáticos, um futebol que está nascendo forte. O futebol africano é o seguinte: quando os caras despontam, muitos acabam se naturalizando em outros países e jogando por essas seleções. No futebol sul-americano, veja a qualidade da Libertadores da América deste ano: fraquíssima. Isso porque nossos jogadores estão na Europa e em outros centros. Mas, na época de formar a seleção nacional, Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Chile vão buscar seus jogadores, o que fortalece os times. O futebol sul-americano não vive um grande momento – tanto que, nos últimos 10 anos, só o Inter de Porto Alegre foi campeão mundial interclubes. Na Europa, o que acontece é bem diferente: a contratação maciça de jogadores brasileiros, argentinos e africanos impede que nasçam novos talentos. Assim, não se formam boas seleções – veja o exemplo recentíssimo dos fracassos da Itália e da França, campeã e vice de 2006, que já estão fora da Copa, um vexame. A Inter de Milão, que anda ganhando tudo, tem 11 estrangeiros no time titular e mais alguns no banco de reservas. A Roma é a mesma coisa, o Milan idem. Portugal naturalizou três brasileiros, Pepe, Deco e Liedson. A Espanha também encontra problemas para formar uma seleção homogênea. Por incrível que pareça, o dinheiro está matando não os campeonatos europeus, mas o futebol europeu.
CIDADÃO: Você acha que deveria haver limite de contratação de estrangeiros, como se fazia há duas ou três décadas?
VONO: Antes disso, precisaria era voltar no Brasil a Lei do Passe! Isso “mataria” o atravessador. Algum deputado federal deveria comprar essa briga, encampar esse projeto. O jogador brasileiro deveria pertencer a uma mesma equipe brasileira durante um período mínimo de tempo, digamos dez anos. Isso tornaria de novo o nosso futebol o melhor do mundo. Se cada país “brecar” a saída de seus melhores jogadores, o futebol só terá a ganhar.
CIDADÃO: Vamos testar sua memória: quem eram os camisas 10 dos grandes times de São Paulo no começo dos anos 70?
VONO: Bem, do Palmeiras era o grande Ademir da Guia, já entrando na última fase de sua carreira, mas ainda jogando muita bola. No São Paulo era o Pedro Rocha ou o Gerson, não lembro bem. No Corinthians era o Rivelino e no Santos, ora...era o Pelé!
CIDADÃO: É aí que entra sua tese: todos esses caras eram ícones de seus clubes e ali jogaram muitos anos. O torcedor sabia de cor a escalação. Hoje, o jogador faz um bom campeonato e no ano seguinte está no exterior.
VONO: Em hipótese alguma, o jogador poderia sair do país antes dos 23 anos. Nós ganhamos as Copas de 58, 62 e 70 com jogadores que atuavam no país. Depois, demoramos 24 anos para ganhar uma Copa do Mundo, porque nossos talentos tinham ido embora. E uma Copa de baixo nível técnico, como foi a dos EUA...
CIDADÃO: Nos seus 38 anos de rádio esportivo, qual foi a passagem mais marcante?
VONO: Vou contar uma coisa que nunca divulguei: eu estive para pertencer, em 1974, à equipe de esportes do Osmar Santos na Rádio Jovem Pan, de São Paulo. Na época, a equipe tinha o Fausto Silva, Roberto Carmona, Henrique Guilherme, entre outros. Eu tinha uma carta de apresentação para o Osmar. Estive com ele e não tive coragem de apresentar a carta. Isso marcou muito na minha vida, porque eu não deveria ter deixado a timidez mudar o rumo das coisas. Agora, o grande episódio foi o jogo do Fernandópolis contra o Jabaquara, em Santos, em 1979. Quando chegamos a Santos, a torcida ria da gente, nos chamavam de “matutos” e diziam que iríamos tomar uma goleada. Só que o Tato Maravilha, ajudado pelo Carlos Silva e pelo Jorginho, arrebentou o Jabaquara. Ganhamos lá e eles saíram com o rabo entre as pernas. Já passei muito sufoco na reportagem de campo. Em Birigui, uma vez, pensei que iria morrer, voava tijolo pra todo lado.
CIDADÃO: Apesar do aperfeiçoamento constante e do surgimento de novos meios de comunicação, o rádio continua a ser fascinante. O que pode explicar isso?
VONO: Principalmente no esporte, é porque o rádio é um veículo rápido e fácil. O esportista tem o rádio no carro, tem o radinho no trabalho, tem em casa. Aparelhos que podem ser levados pra qualquer lugar. O cara que gosta de futebol sempre vai ouvir rádio. Hoje o ouvinte é mais seletivo, mais exigente. Na Difusora, fazemos um rádio sério porque sabemos que o ouvinte cobrará lá na frente. Isso dá credibilidade. Se eu fosse empresário, procuraria investir minhas verbas de publicidade nos programas de jornalismo geral e de jornalismo esportivo. Quem faz as coisas com seriedade aumenta sempre a audiência. Ao lado do cachorro, o rádio é o melhor amigo do homem.
CIDADÃO: Para encerrar: quem serão os quatro classificados do Grupo I da 2ª Divisão Paulista no campeonato de 2010?
VONO: É uma pena que não tenha em mãos umas anotações que fiz. Acho que a Votuporanguense se classificará em primeiro lugar, com 31 pontos. A Santacruzense chega aos 30, Tupã a 28 ou 29 e o Fernandópolis ficará em quarto lugar, com 24 pontos. O José Bonifácio ficará de fora, com 23 pontos e em quinto lugar. Nós vamos nos classificar. Em agosto, vamos conferir esses números.