O advogado Henri Dias é um dos membros da comissão provisória do partido em Fernandópolis, que a Executiva Estadual do PMDB homologou na semana passada e confirmou esta semana. Houve resistência, mas prevaleceu a tese de que o partido tem que voltar a pensar grande, deixando a posição de coadjuvante e voltando à boca de cena da política municipal. Essa, aliás, é uma tendência nacional do partido que já foi o maior nicho oposicionista do continente. Na entrevista, Henri, que é ainda presidente da OAB local e assessor jurídico voluntário da AVCC, fala também de advocacia e da luta pela afirmação da entidade de combate ao câncer.
CIDADÃO: A Executiva Estadual do PMDB homologou a comissão provisória do partido em Fernandópolis com o Dr. Raul Bíscaro Filho na presidência. O que isso representa para os peemedebistas?
HENRI: Acreditamos que seja um resgate da história do PMDB, de tudo aquilo que o partido já representou e ainda tem que representar para a cidade. O PMDB sempre foi protagonista nas discussões, nos movimentos em favor de Fernandópolis e, infelizmente, nos últimos anos estava relegado ao papel de coadjuvante. A escolha dessa comissão provisória, presidida pelo Dr. Raul, significará o resgate do PMDB histórico, primeiro porque o Dr, Raul é uma pessoa afável, de diálogo, fadada a conduzir o partido por um caminho duradouro e de conciliação. Segundo, pela própria história dele dentro do partido: embora seja relativamente novo na cidade, o Dr. Raul não é neófito em política, tem história dentro do PMDB, foi seu presidente por mais de uma década em Santa Fé do Sul e transformou o partido no maior daquela cidade. Esperamos que isso se repita em Fernandópolis, com a garra e a ideologia que ele mostrou na sua atuação em Santa Fé, transformando o PMDB fernandopolense e reconduzindo-o ao lugar de onde nunca deveria ter saído.
CIDADÃO: O Dr. Raul tem o perfil do peemedebista autêntico?
HENRI: Sem dúvida. Não só tem esse perfil como tem a capacidade de trazer de volta ao partido as figuras históricas e fazer o processo de transição com a juventude, com as pessoas que porventura tenham vontade de ingressar na política e nutram apreço pelo PMDB. Pode ser que essas pessoas tenham se sentido alijadas de uma aproximação, porque o partido, infelizmente, havia se tornado um feudo. Então, o Dr. Raul é nesse momento a pessoa certa no lugar certo.
CIDADÃO: Historicamente, o PMDB talvez tenha sido o partido mais importante na transição da ditadura para a Nova República. Por que ele tem ficado em segundo plano no cenário político?
HENRI: Com certeza o PMDB foi o partido mais importante na luta contra a ditadura militar, que deu sustentação à luta pela redemocratização e de onde saíram praticamente todos os grandes nomes da política brasileira atual. A história política recente passa pelo PMDB, sem dúvida o partido mais importante nesse processo. Agora, infelizmente, nos últimos tempos o partido foi usado por gente que visa unicamente a interesses pessoais, e que tomou para si a agremiação, usando-a para a satisfação desses interesses pessoais. O partido virou massa de manobra de gente totalmente desvinculada da preocupação com os interesses nacionais. Assim, surgiram outros partidos, que foram crescendo numa constante, e o PMDB, embora grandioso, acabou sendo relegado ao segundo plano. Porém, acreditamos que este seja o momento de mudar esse estado de coisas. A própria situação de momento no cenário nacional demonstra que o PMDB volta à cena, com a candidatura do deputado Michel Temer a vice-presidente da República na chapa da ex-ministra Dilma. Embora haja divergências regionais acerca desse posicionamento, a verdade é que o partido volta a uma posição de destaque.
CIDADÃO: Em sua opinião, estão surgindo em Fernandópolis novas lideranças políticas, capazes de alterar o quadro em 2012?
HENRI: Não só lideranças políticas como também lideranças empresariais, pessoas que, de alguma forma, têm contribuído para engrandecer a cidade. No campo político, há alguma dificuldade, porque, infelizmente, não houve renovação. Passamos hoje por um momento de transição em Fernandópolis. A maioria dos Estados sofre isso, igualmente. Não há tanta gente assim interessada em participar do processo político. Porém, existem grandes nomes na cidade de Fernandópolis que teriam plenas condições de participar desse processo político e recolocar o município num papel de destaque no contexto regional. Esses nomes, de uma forma ou de outra, já participam das ações da sociedade civil, da comunidade, encabeçando movimentos, etc., mesmo sem ter uma participação politicamente ativa. Esse também é um dos nossos desafios: trazer para o PMDB os cidadãos que têm vontade de participar da política. A renovação é de extrema importância, porque ela oxigena o cenário político. Queremos mostrar que existem políticos ínclitos e capazes. Há muita gente que tem potencial para militar de forma eficiente na política e que se recusa a ingressar num partido por conta do estereótipo que se criou em torno da classe.
CIDADÃO: A construção do Hospital do Câncer de Jales pode ser vista como uma conquista regional ou representa, de certa forma, uma derrota para a AVCC?
HENRI: Eu não diria que é uma derrota da AVCC. O hospital de Jales é sem dúvida uma conquista regional, não podemos desprezar o investimento, a estrutura ali envolvida. Só que o processo de construção e consolidação da AVCC é completamente diferente. Você pode percorrer o Brasil inteiro que não encontrará um hospital, uma entidade como a AVCC, criada, administrada e mantida praticamente com o apoio único e exclusivo da população. Então, é uma entidade que vai crescendo e que ainda tem muito a crescer, degrau a degrau. Não tenho dúvida nenhuma de que, no futuro, a AVCC equivalerá a todos esses hospitais de grande estrutura. Esses hospitais e o Hospital do Câncer de Barretos é um deles tendem à superlotação, porque, infelizmente, essa doença é crescente, isso mostram as estatísticas. Pelo lado humanístico, todas as cidades maiores terão que ter, no futuro, um hospital do câncer. Não vejo o Hospital do Câncer de Jales como uma derrota para a AVCC. É uma conquista regional que deve ser valorizada. Só que não podemos nos esquecer da nossa realidade, e devemos continuar apoiando a AVCC, continuar o trabalho em prol do seu crescimento. Gradativamente, nosso hospital também crescerá. Mesmo sem os investimentos maciços que aconteceram em Jales. A grande dificuldade que visualizamos em Jales é que se começou de cima para baixo. Tenho certeza de que eles viverão momentos difíceis e sofrerão críticas, até a completa adequação dos procedimentos. Enquanto isso, a AVCC tem toda a estrutura para crescer com qualidade, sem perder a principal característica da AVCC de Fernandópolis, que é o calor humano.
CIDADÃO: De zero a dez, até onde chega a importância do credenciamento da AVCC junto ao SUS para que a entidade prossiga nesse crescimento?
HENRI: É de extrema importância, diria crucial. De zero a dez, é dez. O credenciamento no SUS embora todo mundo diga que o SUS paga valores baixos, irrisórios até, acaba sendo de grande valia, porque as pessoas que não têm convênio são atendidas de forma gratuita na AVCC. Com o credenciamento, o hospital passaria a receber esses valores, que mesmo pequenos se somariam às doações, às emendas parlamentares e às outras formas de arrecadação da entidade. Além disso, possibilita o recebimento de mais investimentos do governo federal e do estadual, já que facilitaria a propositura de emendas. Nesse momento, acreditamos que o próximo degrau a ser galgado é o do cadastramento no SUS.
CIDADÃO: Mudando novamente de assunto: como vai a 45ª Subseção da OAB? A diretoria está promovendo cursos para advogados e estudantes praticamente durante o ano inteiro, não é? Qual é a razão disso?
HENRI: Sempre fizemos isso, mas neste ano conseguimos intensificar essa ação. Percebemos que há um grande buraco entre o jovem advogado que está no período de ingresso nos quadros da Ordem e os profissionais veteranos. Para facilitar essa integração, buscamos essas palestras e cursos, que se viabilizaram por causa de um convênio com a AASP (Associação dos Advogados de São Paulo), que possibilita a realização de cursos on line em tempo real praticamente durante toda a semana. Todos os dias, há cursos sendo realizados em São Paulo via satélite. Isso tem sido muito importante, porque trazemos o jovem advogado para dentro da nossa subseção. O custo dos cursos é módico, quase simbólico, e as palestras são gratuitas e abertas a toda a população. Com essa possibilidade de familiarização com os temas, com a parte prática da carreira, o jovem profissional se integra à realidade da advocacia com muito mais facilidade.