Maureen de Almeida Leão Cury nasceu em Fernandópolis, filha dos pioneiros da terra Chiquinho Leão e Raymunda Arnaldo de Almeida Leão. Ela estudou no GEJAP, em Fernandópolis, e no Colégio Santo André, em Rio Preto. Depois cursou o ensino médio no Colégio Santa Inês, em SP, e Letras na Fafi, hoje UNESP/IBILCE, em Rio Preto. Por três vezes, ocupou o posto de Coordenadora Regional da APEOESP. Em 2000, foi eleita vice-prefeita de Rio Preto gestão de 2001 a 2004. No segundo mandato de Edinho Araujo, foi Secretária Especial de Políticas para as Mulheres, de 2005 a 2008. Maureen foi também coordenadora suplente de Políticas para as Mulheres da Região Sudeste do país, em 2007, indicada pelas gestoras públicas do Fórum Nacional de Organismos Governamentais de Políticas para as Mulheres, nomeada pela presidência da República. Atuou como membro da Comissão Organizadora da II Conferência Estadual de Mulheres do Estado de São Paulo, em 2008. Foi coordenadora do Orçamento Participativo de 2001 a 2008, das políticas de gênero, raça e/ou etnia em Rio Preto, e do Curso de Formação Política da Fundação Ulysses Guimarães-FUG. Casada com o advogado rio-pretense José Cury Neto, mãe da advogada Carmem, do músico e produtor musical Rodrigo e da bacharel em Direito Carolina, avó de Arthur, Jacob e Eduardo, Maureen mantém, na maturidade, a flama que a diferenciava nos conturbados anos 60 quando a mocinha morena surpreendia a sociedade da bucólica Fernandópolis com a citação de grandes autores da literatura universal e com sua postura libertária.
CIDADÃO: Na adolescência, em Fernandópolis, você já possuía certa inquietação política. Como era essa época?
MAUREEN: Na época, anos 60, nós nos reuníamos para falar de política, das leituras, para tocar e cantar bossa nova, as músicas de protesto da época e dançar muito. A televisão estava começando a se popularizar, predominava a leitura. Os meus pais gostavam e incentivavam essas reuniões em casa. Faziam parte da turma o José Silvares e a Taí (hoje casados e padrinhos do meu filho Rodrigo), a Nice e o Dori, os saudosos Luís Saravali e Edna Ferraz, o Celso Milani, o Edmilson Bizelli, o Marco Antônio Gonçalves (médico em Tangará da Serra) e a Maria Olinda, irmã do Marco, amiga querida. Enfim, um grupo de universitários de vanguarda para a época, início da ditadura militar. A Nice e a Taí Gasques estudaram comigo, internas, no Colégio Santa Inês, em SP. Os meus irmãos Milton e Marly (que saudade) participavam também dessas reuniões, apesar de mais jovens. A Miriam tinha outra turma, a Regina Maris, a Beatriz Renesto e a Zuca. Era uma casa movimentada, além do entra e sai constante dos tios e primos, tanto do lado dos Arnaldos, quanto dos Leão, sempre acolhidos pela minha mãe. Freqüentávamos os bailes do FEC, abrilhantados pelo Cassino de Sevilha, Osmar Milani, Os Modernistas e dançávamos muito: o Rolim Amaro, o José Bastos, o Mário Mantovani, o tio Jacques, a Ivete, a Iracélis, a Janete do Cizinho, hoje morando na Itália, e muitos outros amigos queridos. Sem esquecer a família Sano, nossos vizinhos e irmãos desde sempre. Eu participava da JUC, da ação católica e atuava na política universitária.
CIDADÃO: Você participou de movimentos estudantis como a Semana Universitária (SUFE), em 1968?
MAUREEN: Sim, participei ao lado de professores do EELAS, onde comecei a minha carreira no magistério, em 1967. A SUFE foi um momento de intenso debate e de oportunidade para expor posicionamentos que iam além da visão política local. Sem querer ser pretensiosa, acho que provocamos o pensar globalmente, na tentativa de agir localmente, em pleno 1968. O livro de Zuenir Ventura, 1968 - O Ano que não terminou, retrata bem as inquietações políticas desse período.
CIDADÃO: Seu pai, Chiquinho Leão, aprovava suas posições políticas? Como era seu relacionamento com ele?
MAUREEN: Apesar das posições políticas conservadoras, meu pai, além de inteligente, era democrático. Ele ouvia tudo com muita paciência e, quando falava, sempre acrescentava uma reflexão a mais. Acho que a vida familiar me ensinou a priorizar o diálogo, princípio que norteia toda a minha atuação política. Provavelmente, isso explica também o meu gosto pela dialética.
CIDADÃO: Na administração do Edinho Araujo, em São José do Rio Preto, você foi vice-prefeita e Secretária dos Direitos da Mulher. Como foi essa experiência?
MAUREEN:Tive a honra de participar do governo de Edinho Araújo, como vice-prefeita (de 2001a 2004) e como Secretária da Mulher (de 2004 a 2008). É bom que se esclareça que a Secretaria da Mulher de SJRP é a primeira secretaria de políticas para as mulheres do Estado de SP, apesar do fato de que nós, mulheres, sejamos 52% da população brasileira. Em 2003, ainda coordenadoria, recebemos menção especial da ONU pelo empoderamento (as conquistas) das mulheres de SJRP. De 50 municípios brasileiros que participaram, São José do Rio Preto foi o único a ser premiado. Relatamos no trabalho premiado as políticas públicas para as mulheres de Rio Preto, na saúde, na educação, na assistência social, no fundo social, nos esportes, etc. Criamos uma Casa Abrigo para as mulheres vítimas da violência doméstica e familiar, em 2004. Em 2006, foi criado o Centro de Referência da Mulher, com atendimento multidisciplinar. Foi uma experiência única, porque implementamos no município de Rio Preto as políticas promotoras da igualdade de gênero, de raça e etnia, de acordo com as Metas do Milênio, propostas pela ONU e o Plano Nacional de Políticas para as Mulheres. Plano criado a partir de propostas das mulheres brasileiras em várias Conferências de Mulheres, em 2002. Em 2008, iniciamos em Rio Preto o projeto regional, parceria com onze municípios, inclusive com Fernandópolis, para a criação de um protocolo único de atendimento à violência doméstica e familiar contra a mulher, com a criação de núcleos de mulheres, sejam coordenadorias, assessorias e/ou secretarias. Segundo o IBGE, apenas 3% dos municípios brasileiros conseguiram sensibilizar seus prefeitos/vereadores para a criação desses organismos de governo. O Brasil vinha sendo condenado pela OEA por não cumprir os acordos internacionais sobre a violência doméstica e familiar contra a mulher. A Lei Maria da Penha veio em cumprimento aos acordos internacionais. Vieram as verbas do governo federal para viaturas, computadores, telefones, com a parceria de Fernandópolis, assinada pelo prefeito Rui Okuma, em 2006, ratificado pela prefeita Ana Bim e outros onze municípios da VIII Região. Fernandópolis e Mirassol são as microrregiões. Cabe aos onze municípios disponibilizarem os recursos humanos. Os profissionais da área vêm sendo preparados nas microrregiões, desde 2008, coordenados por Rio Preto e com término previsto para 2011. É bom saber que não acontecendo todas as etapas do projeto, o recurso terá que ser devolvido. Fernandópolis deve acompanhar de perto, já que é parceira de Rio Preto, desde 2006. Na verdade, o governo Edinho Araújo possibilitou que a cidade avançasse em todas as direções, inclusive nessa questão tão delicada que são as relações de poder, em uma sociedade historicamente autoritária, onde negros e mulheres ainda são cidadãos de segunda classe. Saíram fortalecidas a participação cidadã e a gestão democrática. Além das prioridades, como água e esgoto e outras terem sido plenamente atendidas, fruto de um programa de governo debatido amplamente com a população durante a campanha eleitoral.
CIDADÃO: Você pode ser candidata a deputada estadual pelo PMDB. Quais são as suas propostas para a região?
MAUREEN:Conforme o exposto, o principal foco serão as políticas promotoras da igualdade, sejam de gênero, de raça e/ou etnia. Reafirmo o pensar globalmente e agir localmente. O mundo civilizado caminha nessa direção. Para tanto, como já vinha sendo feito, enquanto fui vice-prefeita e secretária da Mulher, defenderei políticas públicas integradas e regionalizadas sempre que possível, transversais, que viabilizem a participação cidadã, principalmente na discussão do orçamento público. Enfim, municípios democráticos e participativos que acabem com a nossa chaga maior, que é o desequilíbrio social.
CIDADÃO: A mulher ocupa, em média, menos de 10% das cadeiras no parlamento brasileiro. Mulher não vota em mulher?
MAUREEN: De fato, entre 192 países, ocupamos o 146ª posição, segundo dados de janeiro de 2008. Este quadro demonstra que mais da metade da população brasileira (52% de mulheres) está fora do processo de decisão sobre suas vidas porque não participa da política. É preciso que se realizem campanhas de conscientização plena e igualitária da mulher na vida política e pública, como componente necessário para uma sociedade democrática. A escola democrática deveria formar meninas e meninos com esse compromisso, mostrando as diferenças de gênero e construindo a igualdade de oportunidades. Historicamente, as mulheres pertencem ao espaço doméstico e o homem ao espaço público. Hoje, além de cuidarmos do orçamento doméstico e da educação dos filhos, somos 42% do mercado de trabalho. É preciso garantir orçamento público para a implementação dessas políticas promotoras da igualdade e a eleição de mulheres conscientes contribuiria muito para o avanço da democracia. É certo que sem igualdade, a democracia é incompleta