Pelo interior, Beth Sahão quer mudança tributária em SP

20 de Agosto de 2025

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Pelo interior, Beth Sahão quer mudança tributária em SP
A deputada estadual Beth Sahão, do PT, que visitou a região esta semana, passou pela redação de CIDADÃO, onde concedeu a entrevista exclusiva que você lerá abaixo. Nela, a parlamentar – nascida em Urupês, moradora de Catanduva – se diz uma representante do interior na Assembleia Legislativa de SP, para o qual reivindica mudanças tributárias que resultem em maior justiça na distribuição dos recursos. No segundo mandato, Beth postula um terceiro, para lutar também pelos pequenos e médios produtores rurais que estão vivendo o drama da obrigatoriedade da instituição de “reservas legais” nas propriedades, o que virtualmente inviabiliza economicamente suas terras. Beth tem muitos outros planos – parte dos quais está na entrevista. (Vic Renesto)

CIDADÃO: Você se considera de qual geração de petistas? A dos idealistas – aí incluídos os estudantes secundaristas e universitários que deram sustentação ao partido – ou a dos pragmáticos que chegaram ao poder?
BETH: Às vezes eu me acho mesmo muito “romântica” dentro do PT de hoje. Mas eu mantenho meus ideais, de buscar sempre uma sociedade mais justa, fraterna e igualitária. Meu trabalho aponta para isso o tempo inteiro. Agora, é evidente que, em alguns momentos, é preciso ser pragmático, sob pena de não alcançar seus objetivos. A busca pela reeleição, por exemplo, é mais pragmática. O trabalho que o deputado desenvolve durante seu mandato tem um ideário, que constrói sobre suas convicções. À medida que chegam as eleições, você sabe que é uma competição muito dura, e aí é claro que o pragmatismo fala mais alto.
CIDADÃO: A própria eleição do Lula em 2002 foi assim...
BETH: Pois é, na eleição de 2002 o presidente adotou medidas pragmáticas – desde o ponto de vista estético até a carta ao povo brasileiro, na qual assumia um compromisso de crescimento e de desenvolvimento.
CIDADÃO: Como começou a sua carreira? Foi em Catanduva mesmo?
BETH: Eu estudei na UEL, em Londrina, onde fiz o curso de Psicologia. Depois, iniciei meu trabalho numa usina de açúcar e álcool. Fui contratada como psicóloga e em seguida passei a administrar o setor de recursos humanos da usina, que eu mesma criei. Fiquei lá alguns anos, e decidi fazer mestrado em sociologia. Concomitantemente, nunca deixei de ser militante do partido, o que fazia desde a época da faculdade. Tornei-me professora da rede pública, na Fundação Paula Souza, e aí o PT ganhou a prefeitura de Catanduva. Fui secretária de governo e implantamos práticas políticas inéditas na cidade – tanto que o prefeito do PT foi reeleito com facilidade. Em 2002, saí candidata a deputada estadual e me elegi, fui muito bem votada, se considerarmos a densidade eleitoral da nossa região. Desde então, temos lutado para defender as bandeiras nas quais nós acreditamos. Faço esse trabalho com amor e paixão.
CIDADÃO: O que você pensa do voto distrital?
BETH: Ah, sou plenamente favorável! Ainda que não fosse puro, e sim um voto distrital misto, teria que haver, porque seria uma forma de facilitar a aproximação do eleitor com os seus escolhidos. O eleitor tem o direito de cobrar ação e atitude daquele em quem votou.
CIDADÃO: Como você é vice-presidente da Comissão de Agricultura e Pecuária da Assembléia, gostaria de lhe perguntar qual é a visão que os integrantes da comissão têm da questão da reserva legal, num estado (SP) onde poucos proprietários têm o percentual de 20% de mata nativa exigido por lei e o reflorestamento é economicamente inviável para os pequenos e médios produtores.
BETH: Temos feito um trabalho muito forte nessa área. Não sou contra a reserva legal, mas deveríamos poder juntar a reserva legal à APP (NR: Área de Preservação Permanente), o que já reduziria um pouco o problema. Do jeito que vai, daqui a pouco o pequeno produtor não terá mais área para plantar! Nesta região, por exemplo, há muitos agricultores familiares. Eles estão pagando o preço por um ato sobre o qual não tiveram qualquer responsabilidade. O desmatamento foi feito há 40, 50 anos atrás, e depois quando este estado passou de grande produtor de café a grande produtor de cana-de-açúcar. O perfil mudou. Já fomos os maiores em leite e hoje estamos em quinto ou sexto lugar. A reserva legal da forma como foi proposta, com produtores sendo multados, não é absolutamente o ideal. Agora surgiu um prazo, até julho de 2011, mas mesmo assim teremos que rever isso. Sugerimos na comissão que o reflorestamento não tenha que ser feito necessariamente na mesma bacia hidrográfica, com um perfil mais adequado. Por exemplo: a Serra do Mar, que tem sido tão prejudicada e precarizada pela especulação imobiliária. Isso poderia ser feito em forma de consórcio. Procuro ter responsabilidade ambiental, acho que temos que cuidar e preservar. Só não podemos, em nome disso tudo, prejudicar milhares de produtores rurais, que ficarão impossibilitados de exercer seu trabalho por conta desse programa.
CIDADÃO: O seu projeto de Lei nº 430/2010 obriga as agências bancárias a criar mecanismos que impossibilitem a visualização das operações nos caixas por parte dos outros usuários. Qual é o objetivo dessa proposta?
BETH: Dar mais segurança para as pessoas. Sabemos que o número de assaltos a pessoas que vão aos bancos aumentou muito. Além disso, há o problema da clonagem dos cartões, já que um ladrão fica atrás observando o número do cartão, a senha, e depois passa a informação aos hackers, que entram na conta do cidadão. Esse projeto é uma forma de diminuir esse problema. Os bancos não estão nem aí para a questão, porque depois que a pessoa sacou o dinheiro, eles não têm mais a ver com isso.
CIDADÃO: Você não teme que sua lei vire “letra morta”? Vide as leis municipais que normatizam o período de espera de atendimento nas agências...
BETH: Mas quando você tem um projeto de lei que vira lei, cabe ao governo do estado criar condições para o cumprimento das leis. O governo tem que ter instrumentos e ferramentas adequados para isso. Veja a Lei Antifumo. Essa lei “pegou”, nunca mais vi gente fumando em locais fechados.
CIDADÃO: Agora, você deverá lutar por um terceiro mandato na AL nas próximas eleições. Tem alguma proposta de trabalho relativa à região de Fernandópolis?
BETH: Tenho um compromisso muito grande com o desenvolvimento do interior. Eu sou do interior, moro em Catanduva. O interior tem sido tratado a conta-gotas pelos sucessivos governantes do Estado de São Paulo. Visitam a cidade, deixam uma verba pro hospital, outra pro asfalto, e fim. Cada vez fica mais difícil administrar os municípios. Os orçamentos não deixam um centavo para investimentos. O governo federal não fez a ansiada reforma tributária, mas o estado de São Paulo também não fez! E ela é altamente necessária. Como parlamentar, quero cobrar insistentemente do governo que mande à Assembleia um projeto de reforma tributária, para que se possa fazer uma divisão melhor do bolo. Não é justo que, do total que o estado arrecada, fiquem 70% nos centros urbanos. Muitas vezes, uma cidade como São Bernardo do Campo ou São Caetano do Sul depende muito menos dos repasses do estado do que Três Fronteiras! Essas grandes cidades têm grande capacidade de arrecadação, por causa das grandes indústrias. O PIB de São José dos Campos é fantástico, essa cidade é a segunda do Brasil em IDH (NR: Índice de Desenvolvimento Humano). Essas cidades caminham por conta própria, e o papel do estado é muito mais regulador. Esse é um papel importante para desempenhar na Assembleia: a luta, a cobrança permanente pela mudança tributária que permita o desenvolvimento das potencialidades e das vocações regionais. Queremos lutar pelos investimentos na área da agricultura, que é uma das bases da nossa economia regional, e também por boas estradas, inclusive as rurais, que compreendem centenas de quilômetros, e que precisam estar sempre em boas condições para escoamento da produção. O governo do estado de São Paulo quer criar 60 novas praças de pedágio – mesmo a Rodovia Euclides da Cunha corre esse risco. Temos que lutar contra essa pretensão. Há previsão de colocação de quatro ou cinco pedágios nesse trecho do noroeste paulista! “Duplicada, porém pedagiada”, deveria ser o slogan!
CIDADÃO: Na sua visão, por que o eleitor deve votar em Dilma Roussef?
BETH: Porque ela dará continuidade – e em alguns casos até aprofundando mais – as transformações importantes que o Lula fez neste país. Observamos esta semana uma entrevista do Serra onde ele critica a autonomia do Banco Central. Ora, o governo Lula demonstrou que a política adotada foi adequada, na media em que melhorou o país, aumentou o número de empregos e permitiu o crescimento econômico. A Dilma foi uma das grandes artífices desse processo todo. O governo teve uma “arrancada” quando ela se tornou Ministra-Chefe da Casa Civil. Nesse período, cerca de 40 milhões de pessoas migraram das classes “E” e “D” para a classe “C”. Diminuíram muito as discrepâncias sociais e econômicas que, infelizmente, ainda temos no Brasil. Acho que a Dilma pode levar adiante todos esses programas, que melhoraram a vida do brasileiro, do mais rico ao mais pobre.
CIDADÃO: Atualmente, o parlamento brasileiro conta com mulheres atuantes e que são respeitadas pelos homens. O que isso representa?
BETH: Houve um grande avanço nesse sentido, mas ainda estamos longe do ideal. Do ponto de vista percentual, a Assembleia de SP tem 94 deputados, e só nove são mulheres. Não chega a 10%. No Senado, são 12%, e na Câmara Federal, 8%. Do ponto de vista da respeitabilidade, acho que ganhamos, a cada dia, mais confiança e credibilidade. Isso também vale para as diversas áreas profissionais – médicas, advogadas, trabalhadoras em geral. A mulher ganhou estatura e “musculatura” sob o ponto de vista da sua inserção na sociedade. Mas acho que ainda temos um longo caminho a percorrer, há muitos pontos em que é preciso evoluir.