A Escola Técnica Estadual (ETEC) de Fernandópolis esteve em evidência nos últimos dias, depois que o secretário estadual de Desenvolvimento, Geraldo Alckmin, visitou a cidade e anunciou oficialmente a verba de R$ 6,3 milhões para as obras que já estão a todo vapor para construir novas instalações. No meio do turbilhão, está Fernando José Pereira, o diretor da ETEC. Engenheiro agrônomo e pedagogo, esse paulista de São José do Rio Preto, casado com Rose Mary e pai de Daniel e Victor, tem aos 48 anos a responsabilidade de comandar uma instituição que, aos poucos, se transforma num grande complexo educacional. Fernando, que chegou a Fernandópolis no dia 30 de novembro de 2005, não é de economizar palavras nem entusiasmo para falar da ETEC e dos planos de expansão. Nesta entrevista, ele explica por que acredita tanto na formação técnica e tecnológica como fator fundamental de desenvolvimento para a região e mesmo para o país.
CIDADÃO: O secretário de Desenvolvimento Geraldo Alckmin anunciou que as obras da ETEC estarão prontas em fevereiro de 2011. Vai dar tempo?
FERNANDO: A programação é que se cumpra a execução que está projetada em 360 dias. É intenção da própria construtora, terminar a obra até antes. Isso depende muito do clima, a chuva, por exemplo, pode atrapalhar. A proposta é iniciar o próximo ano letivo já nas dependências novas.
CIDADÃO: Quais são as dimensões do novo prédio?
FERNANDO: Cabe aqui uma retrospectiva, porque a história dessa obra começa quando fizemos outra parceria com o setor sucroalcoleiro, representado pelo Luisinho Arakaki, ocasião em que instalamos o curso técnico de açúcar e álcool. Nessa parceria, o Estado representado pela Fundação Paula Souza fez a adequação do espaço físico, que hoje é o mais moderno entre as Etecs e as Fatecs. Fernandópolis hoje serve de exemplo, com o laboratório que temos. Os usineiros, por sua vez, se cotizaram para comprar os equipamentos. Foi em junho de 2007. O modelo de parceria público-privada foi considerado muito interessante dentro do Centro Paula Souza. Diante do sucesso e da constatação que há uma empregabilidade fantástica hoje, nós temos dificuldade de indicar trabalhadores para as empresas que se instalam, porque a empregabilidade é muito alta. Fatores como a automação do campo e a elevação do custo de produção nos levaram a buscar a formação de um profissional capaz de otimizar as operações de corte, colheita e transporte com redução de custo, podendo oferecer à usina a matéria-prima da melhor qualidade. Enfim, otimizar tudo o que está imediatamente antes da indústria. Aí, as preocupações eram organização, logística, área de suprimento. Tudo isso só seria possível se a gente imaginasse um profissional diferenciado. Isso tudo aconteceu por volta de 2008. A superintendência gostou da ideia, e agora já estamos na fase final de elaboração desse perfil, do currículo desse profissional. Uma grande equipe se debruçou sobre o desafio de formatação desse novo profissional de nível médio habilitado para trabalhar no campo. Respondendo à sua pergunta, o prédio novo terá 2230 m2. Ele dispõe de espaços adequados à formação de cortador, mecânico, borracheiro e operador de veículos, quatro formações básicas. Uma voltada para o trabalhador sem qualquer formação básica, do ponto de vista da educação formal; uma para mecânico, porque as máquinas estão se modernizando, e aí entra a parte de hidráulica, pneumática, informática (porque as máquinas hoje são informatizadas), e os operadores de máquinas e caminhões. Chamamos isso de equipamentos agrícolas. Até julho teremos fechado a gênese desses cursos, que serão pioneiros no Brasil.
CIDADÃO: Quantos alunos vocês têm hoje e qual é a previsão para quando acabar a obra?
FERNANDO: Nossa escola foi projetada para 300 alunos, e tem hoje 874. Com o novo prédio, poderemos dobrar o número de alunos, ou até mais do que isso.
CIDADÃO: O deputado Julio Semeghini, durante a visita de Alckmin, falou na criação de uma incubadora. Como ela funcionará?
FERNANDO: Essa incubadora existe a partir de uma emenda do deputado Julio Semeghini junto ao Ministério da Ciência e Tecnologia. A visão é que os profissionais da área da Tecnologia da Informação e Comunicação tivessem amparo para empreender e promover o negócio da área na região de Fernandópolis. Vai ser publicado um edital para o recebimento de projetos. Os que forem escolhidos receberão equipamentos, instalações físicas, acesso à Internet e treinamento técnico e empresarial. Existe um recurso da ordem de R$ 780 mil para o desenvolvimento dessa incubadora a maior parte vem do Ministério da Ciência e Tecnologia, com uma contrapartida do Instituto Paula Souza. Será um caso de gestão compartilhada entre a Etec, a Acif representada pelo Getef, a Prefeitura de Fernandópolis, a Unicastelo e a FEF. Será a primeira incubadora tecnológica da Paula Souza. Queremos fazer de Fernandópolis não só uma referência não só para as empresas, mas também na formação de recursos humanos que amparem o desenvolvimento sócio-econômico do setor.
CIDADÃO: O ex-senador Roberto Freire esteve no último sábado em Votuporanga e Américo de Campos, e afirmou que o pré-sal é um programa que demorará muito para produzir, e que, até por isso, o Brasil não deve desprezar sua tecnologia de produção de etanol. Você concorda com essa afirmação?
FERNANDO: Concordo em gênero, número e grau. Trata-se de uma tecnologia cada vez mais limpa, que se enquadra nos planos de sustentabilidade, e que se justifica plenamente. O suplemento agrícola do Estadão desta semana traz uma matéria onde se mostra que o Brasil já tem microorganismos que propiciarão a terceira geração do etanol brasileiro, que é o etanol feito a partir da celulose, o bagaço da cana. É uma questão de soberania nacional: geração de energia limpa, renovável e que vai levar fatalmente, a cada dia mais, à certificação de processos sustentáveis, e por conseqüência, à redenção energética, social e econômica para o país. É uma fronteira que o Brasil está abrindo para a exportação. O presidente da bolsa de valores de Chicago está por vir ao Brasil para criar o mercado de etanol junto com a bolsa de mercantis futuros. Não sei se o caminho é transformar o etanol em commodities, mas a bolsa de Chicago, que domina a comercialização de produtos agrícolas no mundo, está interessada em criar um mercado regular do etanol. Não quero com isso desvalorizar a questão do pré-sal, que também é uma riqueza que o Brasil deve e precisa explorar, na busca do seu crescimento e desenvolvimento; mas a nossa realidade hoje está voltada para o setor sucroalcoleiro, indústria que caminha com enorme rapidez rumo à sustentabilidade ambiental, econômica e social. A indústria sucroalcoleira já é uma realidade patente, enquanto que o pré-sal é uma miragem muito próxima de se tornar realidade, coisa que, entretanto, ainda levará alguns anos; e isso não pode atravancar o processo de riqueza e conhecimento desenvolvidos no etanol, no biodiesel e outras tecnologias. Também precisamos lutar pela consecução da Ferrovia Norte-Sul, pelo Alcooduto e por tudo que barateie o transporte, condição essencial para que tenhamos preços competitivos na exportação do etanol.
CIDADÃO: Qual é o perfil do aluno da Etec?
FERNANDO: O Centro Paula Souza é uma instituição que foi criada na esteira do desenvolvimento tecnológico. Os cursos da área de tecnologia em geral são voltados para atender às demandas emergentes do mercado de trabalho. A rapidez da formação e a aplicabilidade desse profissional nos processos de condução tornam mais rápido e mais vantajoso o processo de desenvolvimento econômico. Os países de primeiro mundo têm sólida estrutura de formação de nível técnico e tecnológico, porque acompanham passo a passo o desenvolvimento econômico. Nem vou citar países europeus ou da América do Norte: veja o caso dos países asiáticos. O desenvolvimento é calcado em profissionais de formação técnica. Principalmente do ano 2000 para cá, os cursos tecnológicos assumiram um papel estratégico importantíssimo para o Brasil. Isso explica os grandes investimentos no setor. Em 1994, contávamos com 84 escolas; passamos para 179 escolas na atualidade. Só nos últimos quatro ou cinco anos, o Estado de São Paulo criou 69 unidades. Quanto ao perfil desse aluno, o primeiro aspecto a ser considerado é a cidadania para o trabalho. O profissional que vai se inserir no mercado de trabalho buscará, evidentemente, desenvolvimento econômico, social e pessoal. As escolas da Paula Souza atendem a uma faixa bastante ampla da população, que muitas vezes não tem acesso ao ensino superior, que é o grande sonho do brasileiro, embora, a meu ver, com certo grau de inadequação. Muita gente não pode pagar por um curso superior ou mesmo técnico particular. Assim, por serem gratuitos, nossos cursos cumprem importante social para Fernandópolis e região. Essa é a nossa busca. Esse perfil está constantemente em construção, mas alicerçado no mundo do trabalho, da competência e da cidadania.