Recuperado pela Sabesp, Poção I ainda produz

20 de Agosto de 2025

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Recuperado pela Sabesp, Poção I ainda produz
Depois de seis meses inativo – no segundo semestre de 2008 – o Poção I da Sabesp foi recuperado pela empresa. Devido a incrustações por carbonatos - que diminuíram as zonas produtoras de água - o poção foi obstruído e deixou de ser explorado em agosto daquele ano. Depois disso, a Sabesp teve muito trabalho para colocá-lo novamente em funcionamento.
Em fevereiro de 2006, quando o poção começou a apresentar problemas, a vazão do veio era de 220 m³/h. Em agosto de 2008, quando foi paralisado, sua vazão era de 17 m³/h, com queda da temperatura de 59°C para 42°C. No mesmo mês, uma empresa foi contratada para fazer a filmagem ótica do poço, mas não conseguiu descer além dos 875,92 metros, devido à obstrução.
O Natalino I – nome carinhoso dado ao primeiro grande poço de captação de água que foi perfurado pela Sabesp em Fernandópolis – jorrou no dia 29 de junho de 1975, dia de São Pedro. Diz a lenda que o prefeito da cidade, Antenor Ferrari, recebeu a notícia dentro da Igreja de Santa Rita de Cássia, onde participava de uma celebração.
Naquela noite, Fernandópolis apareceu no “Jornal Nacional” da Rede Globo: o tal “Poção”, cuja profundidade chegara a 1.250 metros, jorrava água à temperatura de 59º, suficiente para cozinhar um ovo.
Com essa conquista, finalmente Fernandópolis vencia o pesadelo da crônica falta de água. O problema era tão sério que as casas situadas nas baixadas valiam mais, no mercado imobiliário, do que as construídas nos espigões: nestas, a água acabava primeiro.
Em Fernandópolis desde 1965, o jornalista Alencar César Scandiuzi conta que muitas vezes ficou ensaboado no banheiro sob um chuveiro repentinamente seco. “Ficava com pena do ‘Zezão’(José Rodrigues Jr.), o funcionário do Departamento de Água e Esgoto da prefeitura. A comunidade telefonava pedindo soluções, mas o DAE só possuía um caminhão para atender às emergências”, relata.
Tanto a luta junto ao governo do Estado para obter a autorização da obra, quanto a própria atividade de perfuração, tiveram capítulos dramáticos. A certa altura, perfurados mais de mil metros, o Poção permanecia seco e a verba acabou. Numa reunião em São Paulo com o governador Laudo Natel, os fernandopolenses conseguiram o repasse de uma verba primitivamente destinada a Ribeirão Preto, com a concordância do prefeito daquela cidade – sim, esse tipo de desprendimento cívico já existiu, acreditem ou não os mais jovens.
Durante a perfuração, um dia a broca se quebrou e ficou presa nas profundezas do solo, obstruindo o poço. Ele teria que ser abandonado, concluíram os técnicos. Mas essa ideia não foi aceita pelo encarregado da obra, o velho Natalino, que criou ali mesmo, com a ajuda de seus operários, um sistema revolucionário para retirar a peça do buraco, a centenas de metros abaixo da superfície.
Com um anzol gigante, feito por ele mesmo, Natalino conseguiu “pescar” a broca e a obra prosseguiu, até que no citado 29 de junho a água jorrou, tépida e redentora. Um milagre que mudou a vida dos fernandopolenses. Em homenagem ao herói Natalino, seu nome foi dado ao velho “Poção I”, que agora está recuperado. Longa vida para ele.