Eram 3h30 e a família Pacheco dormia no sobrado de classe média em Santiago, no Chile, embalada pelo clima agradável de final de verão.
Subitamente, Simone foi acordada pelo alarmado Iran. O marido lhe dizia: Levanta! Rápido, temos que sair daqui! Toda a família - além do casal, os filhos Lucas, de 15 anos, e Isadora, de nove teve que deixar a residência às pressas. Todos descalços e de pijamas.
Quando o dia amanheceu, os Pacheco puderam enxergar o quadro desolador que os emoldurava. Naquele 27 de fevereiro, novamente o Chile vivia o drama de um terremoto, cujo epicentro ocorreu no Oceano Pacífico, a 35 km de profundidade e a 91 km da cidade de Concepción, situada 500 km ao sul de Santiago.
Eu ouvia um barulho impossível de ser reproduzido, notava as garrafas caindo das prateleiras. Não conseguia parar em pé. Tropecei na escada e rolei até o final. A cidade ficou sem energia elétrica. Em segundos, estávamos no meio da rua, no escuro, esperando o fim do mundo. Foi um pesadelo, avaliou.
Simone de Almeida Prato Pacheco é uma fernandopolense que o destino levou ao Chile. Ela é filha de Cidinha e Vandir Prato, família tradicional da cidade. Bancária, Simone trabalhou por vários anos na agência local do Banespa. Transferida para São Paulo, conheceu Iran, funcionário de carreira do Banco do Brasil.
Eles já estavam casados quando Iran foi transferido para a capital chilena. Era 1998, e Simone foi viver fora do Brasil, com o pequeno Lucas para criar. No Chile, nasceu a caçula Isabela.
SAQUES
Na quarta-feira, por telefone, Simone confessou: Estou tremendo até agora. Ela narrou a situação de momento na capital chilena: Os comerciantes evitam abrir as portas por causa dos saques. Há os oportunistas que furtam eletrodomésticos e até computadores. Não se encontra água mineral nem sal, açúcar, farinha e papel higiênico, descreveu.
Se o terremoto registrou, em Concepción, 8,8 graus na Escala Richter, em Santiago o fenômeno não foi muito diferente. Os sismógrafos marcaram 8,0 graus. O número de mortos 802 tende a crescer a cada dia. Só em Santiago, morreram 39 pessoas, segundo a brasileira.
Simone revelou que o Museu Nacional do Chile e a Biblioteca Pública de Santiago estão destruídos. O aeroporto está interditado, e a estrada que dá acesso a ele está intransitável.
A família ainda teme pela ocorrência de novos tremores, possibilidade bastante plausível depois de abalos sísmicos de grande porte. Simone diz que vai tocar a vida, na sua aventura andina. A família Pacheco está mais unida do que nunca.