Dona Nice Carmelengo é velha conhecida dos leitores de CIDADÃO. É fácil encontrar seu rosto estampando as matérias que abordam a solidariedade e a preocupação com o próximo. É assim que ela passa seus dias, na Rua 4, do Jardim Ipanema. Como ela mesma diz: em casa tudo serve, quem quiser doar pode trazer que eu cuido da distribuição.
Quem precisa também sabe de cor o endereço dela. É só bater as palmas que a ajuda vem. Pode ser em forma de alimentos, móveis e até mesmo roupas usadas. Até as crianças já estão acostumadas e esperam ansiosas as primeiras terças-feiras do mês. É quando dona Nice recebe os integrantes da Igreja Presbiteriana Filadélfia para as reuniões: cada um que participa traz alguma coisa, e eu me encarrego da doação. Também faço questão de convidar as crianças do bairro para orar, depois servimos um lanche e fazemos uma pequena confraternização. Nesses dias, as crianças abusam da mandioquinha com carne, pão e refrigerante.
No dia seguinte dona Nice senta em uma grande mesa na varanda e faz a separação das peças de roupa por tamanho. Quando as pessoas chegam para buscar, fica mais fácil até escolher: não limito as peças em quantidade e nem tenho coragem de vender. Cada um pega o que precisa, independente de quanto for.
As agentes comunitárias de saúde sabem exatamente a necessidade de cada morador do Ipanema. E é claro que elas recorrem diretamente a dona Nice, que sempre dá um jeitinho de ajudar.
O bairro é simples, precisa de muitas melhorias, mas carrega entre os moradores uma jóia rara, de olhos azuis, da cor do mar. Com 70 anos, descobriu no voluntariado a razão de viver. Suas ações são incentivadas pelo marido Sebastião, que reconhece: a Nice faz muito pelas pessoas, é a razão da vida dela, mas às vezes acho que ela precisava descansar um pouco. Mesmo assim, ela vai levando a vida, recebendo doações e distribuindo para quem precisa.
