Neusa Vieira trabalha como secretária numa revendedora de automóveis usados. Recentemente, um dos carros vendidos pela loja foi o dela própria: Neusa simplesmente não podia mais guardá-lo em sua garagem, na Rua das Gaivotas, no Jardim Araguaia, zona norte de Fernandópolis.
A explicação: a rua não é asfaltada e tem acentuado declive. As enxurradas das últimas semanas obrigaram à construção de um pequeno dique defronte às guias de sarjeta, para impedir que as casas fossem inundadas. Se por um lado resolveu parcialmente o problema, esse dique agora impede o acesso às garagens.
O pequeno drama de Neusa, entretanto, não é o maior problema estrutural que se constata no Jardim Araguaia: os moradores reclamam da presença de escorpiões, sapos e das verdadeiras nuvens de pernilongos que aparecem ao entardecer.
Marilda Alves Lucio, faxineira, mora na Avenida das Coleirinhas, perto da casa de Neusa. Um de seus filhos mostrou as pernas marcadas pelas picadas de pernilongos. O médico do postinho disse que já não sabe o que fazer, conta Marilda. O menino deve ser alérgico, e as picadas inflamam e depois viram cicatrizes.
A rua também é de terra batida. Marilda conta que seu pai, falecido há três anos, chegou a pagar parcelas de asfaltamento. O piche, porém, jamais chegou à Avenida das Coleirinhas ou às ruas próximas.
Em frente à casa de Marilda, há um campinho de futebol, construído pela diretoria de Esportes. Péla, um agente funerário morador do bairro, revela que foi em atendimento a um pedido seu que o campinho foi aberto. Agora, porém, o excesso de chuvas fez a grama crescer demais. Além disso, há alguns dias um garoto se pendurou numa das traves, que quebrou. O arteiro foi parar na Santa Casa.
PRAÇA
Neusa e Marilda levaram a reportagem a um enorme terreno triangular, a cerca de 200 metros dali. Esse imóvel pertence à prefeitura e seria destinado a uma praça. No local, porém, só há capim e a estrutura de concreto que servia de suporte para uma placa de inauguração. A placa foi retirada, não se sabe se por vândalos ou por funcionários municipais. E a praça, obviamente, jamais saiu do papel.
Estamos abandonados, a periferia parece não ter vez, queixa-se Marilda. As moradoras procuraram tempos atrás o ex-vereador Pedro de Toledo também morador do bairro e que hoje é fiscal de área da prefeitura. Toledo teria encaminhado relatório sobre os problemas à repartição competente, mas nenhuma providência foi tomada.
Segundo os moradores do Araguaia, a administração alega que certos serviços só poderão ser executados quando as chuvas pararem.