“Somos Independentes”: com muito samba no pé

20 de Agosto de 2025

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“Somos Independentes”: com muito samba no pé
As manifestações culturais de origem popular são como Fênix, renascem das cinzas. O desfile de escolas de samba no carnaval de Fernandópolis, que era um grande evento, acabou morrendo. Anos depois, o carnaval de rua voltou a ser promovido pela prefeitura. Bastou para que nascessem blocos carnavalescos fortes e organizados como o “Somos Independentes”, fundado pelo pessoal do Jardim Independente. Nesta entrevista, Valmir Mendes, o “Dedé”, e Sérgio Luís França, líderes do bloco, falam dos preparativos para o carnaval de 2010, cuja grande novidade está justamente no local da festa: com medo das chuvas, a diretoria de Cultura levará a festa para o Bartoshow.


CIDADÃO: O que é “Somos Independentes”?
SÉRGIO: É um bloco de carnaval que surgiu em virtude de um time de futebol e da associação de moradores da comunidade do Jardim Independente. Uma coisa foi puxando outra – a associação de moradores foi fundada em 15/8/1988, e o time havia sido fundado em 17/9/1982. De lá pra cá, os amigos do bairro fizeram da sede o ponto de encontro. A manutenção tem custos, e para manter o time nós o desmembramos da associação, para que cada um caminhasse com as próprias pernas. Assim, para manter o time, que disputa campeonatos regionais de futebol, surgiu o bloco, assim como uma barraca-bar que montamos no carnaval de rua, quando a festa acontecia lá na avenida, em frente à Faria Veículos. Na época, o prefeito era o Adilson Campos. Essa barraca garantia a manutenção do time.
DEDÉ: Nessa época, ainda nem tínhamos as camisetas do bloco. Combinamos de pegar uma camiseta branca e escrever “Somos Independentes”. Dali surgiu o bloco. Começamos com 30 pessoas, e hoje temos umas 300 que participam do bloco.
CIDADÃO: Onde o time de futebol tem jogado ultimamente?
SÉRGIO: Normalmente, o time joga na região de Jales, disputando jogos amistosos e torneios como a Copa Jales, Copa Maciel, Copa Pessoto, é uma região onde é mais gostoso de jogar e a gente fez muitas amizades. Na verdade, a finalidade do time e do bloco é exatamente essa: fazer amizades. Nosso objetivo é o congraçamento. Quem arruma confusão, a gente procura descartar, porque está fora da nossa filosofia. Queremos a confraternização, num ambiente em que a gente possa perfeitamente levar esposas e filhos.
DEDÉ: Quem freqüenta tanto o time quanto o bloco sabe que a coisa funciona assim. Nós sempre exigimos um comportamento civilizado. Tem que respeitar o espaço de cada um.
SÉRGIO: Quero deixar claro que o “Somos Independentes” não é só formado por gente do Jardim Independente. Temos companheiros do Paulistano, do Araguaia, do Rosa Amarela, do Pôr do Sol, e todos são muito bem recebidos.
CIDADÃO: Vocês fazem promoções, do tipo festas e bailes?
SÉRGIO: Sim. As pessoas que participam do bloco organizam uma festa. Além das camisetas, nós organizamos no centro comunitário alguns eventos.
CIDADÃO: O que vocês fazem no carnaval? A proposta é só se divertir ou vocês estão mesmo interessados é na disputa, em ganhar os prêmios?
DEDÉ: Realmente, a gente vai para se divertir, entre nós e com as outras pessoas. Mas existem troféus oferecidos pela Diretoria de Cultura de Fernandópolis para o bloco campeão, além de equipe mais animada, os melhores adereços (confetes, coisas assim), mas o objetivo principal é nos divertirmos de uma maneira sadia. Somos uniformizados, no ano passado fizemos 300 camisetas, tivemos alguma ajuda no comércio, que percorremos pedindo colaboração. Das 300 camisetas do ano passado, 100 foram confeccionadas por conta do bloco.
CIDADÃO: Existe muita dificuldade para conseguir patrocinador?
DEDÉ: Com essa tal crise econômica mundial, tem dificuldade, sim, mas a gente batalha, procura amigos que têm boa vontade em ajudar, e também nós tiramos daqui e dali o suficiente para levar o “Somos Independentes” à frente.
CIDADÃO: Qual é a perspectiva para o carnaval deste ano? Quais serão as novidades?
SÉRGIO: Na realidade, a primeira preocupação é tentar manter esse grupo de 300 pessoas, porque não é fácil. De novidade, teremos neste sábado, dia 6 (hoje) o “Esquenta”, que acontecerá no Centro Comunitário do Jardim Independente, situado à Rua Leonildo Alvizi nº 367. Será um pré-carnaval, e quem comparecer ganhará um vale-desconto no valor de R$ 5, para abater na compra do abadá.
CIDADÃO: E o que vai ter de bom nesse “Esquenta”?
SÉRGIO: No “Esquenta”, vai rolar em primeiro lugar uma conversa para definirmos detalhes gerais como a hora e o local de encontro do bloco, a distribuição de camisetas, etc, além de algumas orientações de praxe e também a definição de algumas novidades que nós não costumamos revelar com antecedência. Haverá uma comissão do Departamento de Cultura que estará incumbida de observar, como se fosse uma comissão julgadora, o comportamento dos blocos, se está havendo excessos e coisas assim.
DEDÉ: Depois, começa a música. Contratamos um DJ para cuidar do som eletrônico. Começa às 22h. Queremos contar com a presença de todo mundo, para nos ajudar. A união faz a força.
CIDADÃO: Você, Dedé, que é o mais velho e conheceu o carnaval de rua de Fernandópolis na época dos desfiles das escolas de samba, atribui a quê o fim desse evento?
DEDÉ: Olha, o carnaval acabou por falta de união, em todos os sentidos. Todos nós fomos culpados pelo fim do desfile das escolas no carnaval. Se as escolas como a Unidos da Vila Aparecida (UVA), a Fermentação, tivessem a percepção de que, mais importante do que ser a campeã, era manter a estrutura para que houvesse pelo menos três ou quatro escolas de samba fortes na cidade, o carnaval estaria de pé até hoje. Outra coisa que mudou o carnaval foram os ranchos à beira dos rios, porque se criou esse hábito de ir pra beira do rio, ligar o som e ficar cantando e bebendo. Nós mesmos, antes de fundarmos o bloco, passamos dez anos indo todo carnaval para a prainha de Mira Estrela.
SÉRGIO: É verdade. Nossa turma fretava um ônibus e ia pra lá. Quando a prefeitura voltou a organizar o carnaval de rua, na primeira vez que a gente participou, acabou essa história de prainha, todo mundo queria brincar era na rua, depois no Shopping. Os ranchos estragaram um pouco o carnaval, mas a verdade é que nem todo mundo tem condições de ir para um rancho. Quando a diretoria de Cultura promoveu a volta do carnaval de rua, todos ficaram surpresos pela grande quantidade de pessoas que prestigiaram a promoção. O diretor de Cultura da época, o Robinho, tem que ser parabenizado por isso, porque ele foi muito criticado pela ideia, falavam que o barulho perturbaria o sossego público, mas ele não desistiu. Se o local escolhido foi adequado ou não, é discutível, mas que foi uma boa ideia, isso foi.
CIDADÃO: O carnaval popular terá em 2010 uma experiência nova: será em recinto fechado, já que a festa acontecerá no Bartô. O que vocês acham disso?
SÉRGIO: Quando a gente vê uma coisa nova, a primeira reação é repudiar: “Não vai dar certo”. É como na época da mudança do carnaval da avenida para o Shopping: no começo, todo mundo falou mal. Depois, todos queriam mesmo o Shopping. Levaram para a Exposição, criticaram, mas no fim todo mundo se divertiu. Acho o Shopping mais apropriado, mas é uma tentativa, o Bartô. Vamos ver.
CIDADÃO: Quantos blocos participam do carnaval de Fernandópolis?
SÉRGIO: Uns dez. Tem o Somos Independentes, os Molambos, o Nóis que Bebe, Dri, o Peper, o Chan Chan, o pessoal da Secol...desculpem os que não lembrei
CIDADÃO: O “Somos Independentes” vai pras cabeças?
DEDÉ: É claro que a gente pensa em ser campeão. Não é arrogância. O pessoal da comunidade estará com a gente. O mais importante de tudo, na verdade, é que façamos do carnaval de Fernandópolis o melhor da região.