Chamel encerra 2009 mostrando independência política

20 de Agosto de 2025

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Chamel encerra 2009 mostrando independência política
Para muitos, ele foi a boa surpresa da política fernandopolense no ano que passou: Rogério Pereira da Silva, o “Chamel”, eleito vereador em 2008 com 877 votos – a esmagadora maioria deles vinda da periferia da cidade – provou que é possível ser humilde sem ser subserviente. Nascido em São Paulo há 37 anos, casado com Telma, pai de Natiele, Rogério Filho e Narriele, Chamel vive em Fernandópolis desde os 10 anos. Líder comunitário, ex-operário, ex-cortador de cana, disk-joquei, formado em Educação Física pela FEF, ele tem revelado impressionante vocação para a vereança. Nesta entrevista – uma das mais sinceras já feitas por este jornal – o vereador chegou às lágrimas ao abrir o coração.


CIDADÃO: Qual é a origem desse apelido?
CHAMEL: Esse apelido me foi posto por volta dos 14 ou 15 anos de idade, quando trabalhava na Incabrás, indústria do ramo moveleiro. O apelido foi colocado pelo empresário Gilberto Careno e um funcionário conhecido como Grilo, que está lá até hoje. Eu tinha o cabelo muito grande e era meio rebelde. Minha função era lixar cabeceiras de camas, e eu me debruçava para fazer o serviço. O cabelo ficava balançando para lá e para cá, e um dia o Gilberto Careno falou desse “cabelinho chamel”. Aí, o apelido pegou.

CIDADÃO: Você teve várias profissões na vida, mas a vocação sempre foi mesmo pelo trabalho junto à coletividade. O que despertou em você essa vocação?
CHAMEL: Acredito que isso vem do fato de ter sofrido muito quando era pequeno. Eu via as pessoas humildes sendo humilhadas e não me conformava com isso. Acho que vem daí meu ideal de lutar pelo próximo. No Brasil existem muitas injustiças. Creio que desenvolvi uma consciência social – até queria ter cursado Serviço Social, mas não tinha condições de pagar a faculdade. Isso me levou a cursar Educação Física, só que a minha vontade era estudar Serviço Social ou Direito. Já pensou se eu fosse advogado? Iria dar um trabalho danado pra certos caras aí...(risos).

CIDADÃO: Como era o trabalho que você desenvolvia na sua região da COHAB Bernardo Pessuto?
CHAMEL: Aos 14 anos, morava na COHAB Antonio Brandini – por isso que a minha segunda maior votação é na escola “Pedro Malavazzi”. Antigamente, eu soltava pipas por lá, e exercia certa liderança com a molecada. Fazia pipas para os garotos menores e não deixava os grandes bater nos pequenos. Um dia, o Chico Arouca (NR.: ex-vereador e líder comunitário na COHAB Antonio Brandini) me falou que eu tinha esse dom. Fazíamos campeonatos de pipa, e eu conseguia levar muitos garotos comigo. O Chico organizava campeonatos de pipa e eu cortava com cerol. Chico pediu que eu organizasse um time de futebol, ele arranjou um jogo de camisas. Depois, ajudei-o a organizar o carnaval do bairro. Ele me orientava, dava conselhos, e comecei a me espelhar nele. O Chico brigava muito pelo social, ficava sempre ao lado do povão. Casei aos 17, fui morar no Bernardo Pessuto. Adquiri os direitos de uma casinha, mas não conseguia pagar as prestações, que estavam muito altas. Sempre fiz parte da associação de moradores, desde a primeira ata. O bairro era muito carente, não tinha nem luz elétrica em algumas ruas. Chegou uma época em que um ex-presidente deixou o Centro Comunitário do bairro encerrar as atividades. Não me conformei e pedi a ajuda do vereador Maurílio Saves, em quem votei em muitas eleições. O Maurílio me disse para assumir o Centro, que ele me ajudaria. Ajudou-me a montar os estatutos e a diretoria, fui o presidente de bairro mais jovem. Muita gente não acreditava em mim. Na época, eu usava brinquinho e macacão, mas a verdade é que consegui muita coisa – asfalto, luz, abaixo-assinados, aulas de artesanato, fornecimento de sopa, etc. Muitas daquelas pessoas que não acreditavam em mim, hoje fazem questão de dizer que são meus eleitores. Um senhor de idade escreveu no jornalzinho do bairro: “Eu confio tanto no Chamel, que se ele for candidato a presidente da República, voto nele”. Esse senhor diz isso pelo seguinte: uma vez, fui para Ribeirão Preto, por minha conta e risco, para tentar negociar a redução das prestações do nosso conjunto habitacional, que andavam muito altas. Cheguei à COHAB de Ribeirão praticamente sem dinheiro, e não fui recebido. Passei à base de salgadinhos, não tenho vergonha de falar, mas decidi que não iria embora. Dormi na porta da COHAB, e no dia seguinte continuaram tentando me enrolar. Finalmente consegui falar com o presidente e com o tesoureiro. Não tinha muito conhecimento, só tinha minha vontade. Eles ficaram com pena de mim e me deram algumas orientações. Procurei os deputados Vadão Gomes e Edson Gomes, com o auxílio do Maurílio Saves e do radialista Alaor Pereira. Conseguimos reduzir as prestações de R$ 127 para R$ 42. Isso marcou muito a minha vida. Sou assim, não aceito que ninguém humilhe um representante de bairro. (NR.: nesse instante da entrevista, Chamel não consegue conter a emoção). Desculpe, é que acabo de passar por uma situação desse tipo, o velho Taboca (idoso que comanda o esporte no bairro do vereador) foi maltratado numa audiência pública.

CIDADÃO: A sua primeira candidatura a vereador surgiu naturalmente ou foi motivada por outros fatores? Quantos votos você teve?
CHAMEL: Tive 519 votos. Faltaram recursos financeiros. Em 2008, tive 877 votos e fui eleito. Saí candidato porque muita gente me pedia isso, amigos, vizinhos.

CIDADÃO: Pouca gente conhece bem a periferia de Fernandópolis como você. Quais são as maiores carências desses bairros?
CHAMEL: Toda periferia tem como moradores os menos abastados da sociedade. Acho que falta lazer, esporte – é maneira de tirar as crianças da rua. A outra grande preocupação é o emprego. Se a pessoa tem emprego, ela tem condições de dar lazer à sua família, mesmo que seja um lazer simples, do tipo passear na represa, etc. Se ela não pode ir ao Shopping, pelo menos pode passear por algum lugar interessante. As praças deveriam ter playgrounds. Tem gente que nunca viu um avião ou até mesmo um trem. Sabemos das dificuldades financeiras e que temos problemas sérios, como é o caso das avenidas Getulio Vargas e Raul Gonçalves Junior. Mas a verdade é que já saiu muito dinheiro pelo ralo. Ainda não consegui entender bem certos mecanismos do poder público, que é bem complicado e às vezes bastante suspeito.

CIDADÃO: Muita gente da imprensa se surpreendeu com a sua atuação parlamentar ao longo de 2009, especialmente por causa da independência mostrada. Você tem noção desse conceito?
CHAMEL: Não, sinceramente não. Graças a Deus, eu sou livre. Tive meus votos por causa do meu trabalho, e felizmente tenho a confiança dos meus eleitores. Quem votou em mim, confia em mim. Realmente, os meios de comunicação me tornaram mais conhecido na cidade, mas em relação à minha independência, deve ser porque aquilo que tenho que falar, falo mesmo, não mando recado. Lembra-se de uma vez que você me perguntou quantos projetos eu tinha naquele ano? Eu respondi que não era homem de projetos, e sim de ajudar a quem precisa. Não me esqueço disso! (risos).

CIDADÃO: Por outro lado, essa mesma independência parece incomodar alguns colegas seus – mais precisamente dois deles, que frequentemente aparteiam seus pronunciamentos. Isso atrapalha?
CHAMEL: Creio que esses dois vereadores que às vezes me aparteiam podem estar – não digo sempre – tentando me confundir. Ora, se eu não tenho conhecimento da matéria, abaixo a cabeça e fico quieto. Só que depois, vou me informar a respeito e volto à carga. Numa batalha, é preciso saber a hora de recuar. Tem que ser humilde de admitir que não sabe, e procurar aprender. Acho normal que alguém seja contra um projeto meu, é questão de ponto de vista. Só não acho legal tentarem confundir o vereador. Felizmente, Deus está comigo e vai sempre me iluminar. Só tenho a dizer que, ao tentarem atrapalhar meus projetos, estarão atrapalhando a cidade, porque eu só penso no interesse coletivo. Já fui alertado desse problema na Câmara e vou lhe dizer uma coisa: eu venho sofrendo perseguição política. Só que estou amparado, tenho amigos que me apoiam. Além de tudo, eu tenho o povo, que me ampara.

CIDADÃO: Como vereador, quais são seus planos para 2010?
CHAMEL: Quero manter a minha proposta de ajudar a resolver os problemas da população. Não sou de apresentar projetos de lei. Como disse o Ministro Marco Aurélio Mello, quando visitou Fernandópolis: existem muitas leis neste país, neste Estado, neste município. Não precisamos de mais leis, e sim de que as já existentes sejam cumpridas. O Ministro disse outra coisa que jamais vou esquecer: não precisamos de políticos, e sim de homens que se preocupem com o meio ambiente, o esporte, o lazer da população. Esses são os que importam.