O estilista Brazilino Magri, que vive há 43 anos em Fernandópolis, é um profissional realizado. Mas ele não se satisfaz com o sucesso pessoal: quer ver a cidade que adotou, quando deixou a pequena Cosmorama, se firmando como líder regional. Para isso, ele leva aos empresários e dirigentes da cidade propostas para a área que domina. Brazilino esteve na Itália em meados de 2009 e constatou que, em termos de qualidade, as confecções que produz nada ficam a dever às roupas italianas. Casado com Sônia Maria Ferrari Magri, pai de Lara Lícia e Lívia Mara, palmeirense, bacharel em Direito pela Fadir de Rio Preto, seu discurso parece desconhecer a política. Na verdade, o estilista é daqueles cujo partido é Fernandópolis, mesmo. E não é frase feita.
CIDADÃO: Você veio para Fernandópolis em que ano?
MAGRI: Vim para Fernandópolis em 1967. Eu morava em Cosmorama, uma cidade pequena, e precisava buscar um horizonte para a minha vida profissional. Ainda era muito garoto.
CIDADÃO: Onde aprendeu a profissão?
MAGRI: Comecei o aprendizado em Cosmorama. Meu pai, sentindo em mim a vontade de mudar para uma cidade maior, e por ter um irmão em Fernandópolis, decidiu que nós viríamos para cá. Fomos morar na Brasilândia. Aqui, o aprendizado profissional continuou com o professor Alonso, que lecionava e, nas horas vagas, ensinava o ofício numa alfaiataria.
CIDADÃO: Existe um hiato na sua vida fernandopolense, já que em certo período você foi morar em São Paulo. Por que você foi para lá?
MAGRI: Eu tinha uns 17, 18 anos, e estava ainda aprendendo na alfaiataria, mas já fazia algumas peças. O Julio Romano me convidou para ir com ele para São Paulo. Precisei até de autorização de viagem expedida pelo juizado de menores. Fui de trem, e o primeiro táxi em que andei em São Paulo era uma DKW, daquelas que a porta abre pra frente!
CIDADÃO: De alfaiate, você passou a grande empresário da moda, a ponto do coordenador acadêmico da FEF, Rubens Guilhemat, que não é da região, ficar intrigado com aquele logotipo que praticamente todo mundo ostenta no bolso da camisa, em Fernandópolis. Logo alguém lhe explicou que aquele símbolo era das confecções Brazilino Magri. Ele me contou isso durante uma entrevista. O que representa para você esse sucesso?
MAGRI: Fui uma pessoa empurrada pelas forças divinas em direção à minha profissão. Tanto que me formei em Direito e não quis exercer a advocacia. Trabalhava numa alfaiataria num grupo de 16 pessoas, nessa época a Cesp estava construindo a barragem de Água Vermelha. O dono da alfaiataria me mandava à barragem para tirar medidas dos psicólogos, nutricionistas, engenheiros. Eu comia no bandejão, junto com eles. Quando o hotel da Cesp foi inaugurado pelo Geisel, fiz 48 smokings para os garçons que trabalharam na festa de inauguração: 24 pretos e 24 de cor vinho. Gostava e gosto tanto da minha profissão que só conseguia ver meu futuro dentro dela. Em 1974, quando comecei um trabalho independente, a primeira coisa que pensei foi em criar uma marca para minha empresa. Graças a Deus, a aceitação foi fantástica. Pouca gente sabe, mas meu logotipo foi criado pelo Zezão da Dip Painéis. Na minha carreira, cheguei a fazer camisas para o Paulo Maluf, o Rolim Amaro era meu cliente fiel. Muitas vezes fui à TAM para levar ternos do Rolim. Quando ele morreu, fiquei muito triste porque perdi um grande amigo. Uma vez, fiz uma camisa pra ele, com as cores do São Paulo, que foi tomada pelo Telê Santana. Há várias histórias com celebridades que provam que escolhi o caminho profissional certo. Convivi com gente como Tim Maia, Athiê Jorge Cury, Guilherme Afif Domingos, Delfim Netto. Só que nunca matei o menino de Cosmorama que há dentro de mim. Tanto que tive muitas propostas para ir para cidades maiores e não aceitei, gosto do nosso estilo de vida. Nunca perdi minhas raízes, gosto mesmo é de chegar ao rancho e tirar o sapato, andar descalço pisando na terra.
CIDADÃO: Você tem propostas para ajudar Fernandópolis a crescer e gerar renda e mão-de-obra especializada na sua área de ação. Como é esse projeto?
MAGRI: Estamos no ramo de confecção há tempo suficiente para entender que a formação de mão-de-obra especializada no setor não é coisa simples. Até por isso, eu procuro formar meus próprios profissionais. Tenho uma proposta de criar uma escola do ramo. Estive fazendo levantamento no SEBRAE para saber como se dá o assessoramento, e também no SENAI. A ideia é formar mão-de-obra que saiba como fazer um paletó, uma camisa, uma calça de alta qualidade. Há muita procura por essa mão-de-obra diferenciada.
CIDADÃO: E a ideia das parcerias?
MAGRI: Veja: o que propomos é fazer ver que há um claro horizonte aberto para Fernandópolis no setor de confecções. Por se tratar de um dos setores que mais absorve mão-de-obra, o ramo tem grande importância social. O Brasil, hoje, carece de profissionais verdadeiramente qualificados.
CIDADÃO: É fácil formar mão-de-obra capacitada a cortar tecidos com eficiência?
MAGRI: Não, mas existem órgãos com técnicos capacitados para esse trabalho. Fernandópolis tem uma grande chance com a construção do prédio do SESC. O ideal seria que houvesse união de políticos, empresários e deputados da região para reivindicar do presidente da FIESP o apoio a esse projeto. Sabe-se que a FIESP e os empresários estão preocupados com o avanço da China no nosso mercado; é necessário, urgente, criar mão-de-obra capacitada para fazer o diferencial contra o produto chinês no fator qualidade final do produto. Assim, se uma cidade forma, digamos, 500 profissionais especializados, você não tenha dúvida de que uma empresa de São Paulo não vai levá-los para lá; ao contrário, ela, empresa, é que virá se instalar na cidade. Tanto é que, hoje, organiza-se em Brasília uma frente parlamentar que, em colaboração com organizações como a FIESP e a CIESP, com o apoio de órgãos governamentais e até do ministro da Educação, quer que se crie condições para nacionalizar a produção dos uniformes escolares, porque isso certamente vai gerar empregos. Pouca gente sabe, mas 75% das fardas das forças armadas brasileiras são importadas da China! Daí vem a preocupação da frente parlamentar. Em Fernandópolis, vejo que o momento é excelente para que a gente se organize. Tem que ter a participação de toda a sociedade e contar com a articulação política. Seria fundamental a vinda do SEBRAE para a cidade. Os empresários europeus estão de olho no mercado de confecções paulista. Empresários franceses acabam de adquirir a indústria Braspérola, no máximo em dois anos voltarão a produzir o linho Braspérola no Brasil. O Brasil tem potencial para ser o carro-chefe da confecção mundial no futuro, por isso é que acho que Fernandópolis tem que abraçar essa ideia.
CIDADÃO: Qual é a posição da diretoria de Desenvolvimento Sustentável em relação a isso?
MAGRI: Eles estão com boa vontade, sabem que Fernandópolis poderia construir um grande centro de moda. O Executivo tem mesmo que participar do desenvolvimento, é necessária a iniciativa do órgão público. E os diretores e o prefeito sabem que o BNDES aumentou a oferta de dinheiro no mercado, oferta essa voltada para o incentivo à indústria tanto à de confecção quanto à têxtil. Por que não pensar numa indústria têxtil em Fernandópolis? Uma coisa puxa a outra. Fernandópolis precisa é criar, definitivamente, essa vocação para esse setor.