Um casal unido também pelo amor à pesca

20 de Agosto de 2025

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Um casal unido também pelo amor à pesca
Alice Rosa do Nascimento Silva e José Ramos da Silva estão casados há 52 anos. Dessa união nasceram 2 filhos – a médica Girlene e o agropecuarista Gilberto. Como todo casal que vive muito tempo junto, eles têm muita história para contar, mas o diferencial de Alice e José não é esse. O gosto pela pesca faz deles pessoas interessantes. O fato está na disposição desse casal de 79 e 77 anos, que já percorreu de caminhonete mais de 3 mil km até chegar ao local ideal para fisgar as pirararas, no estado de Rondônia. E olha que essa história está longe de ser mais uma daquelas que pescador adora contar.

O começo

Alice e José se conheceram no ano de 1953, quando o pai dela arrendou umas terras perto de Fernandópolis, ao lado da fazenda dos pais de José. Como naquela época a maioria das fazendas cultivava café, algodão e cereais, era comum que morassem mais de 80 ou 100 famílias em uma única propriedade. O resultado disso era muita gente, principalmente jovens e crianças, já que as famílias menores tinham no mínimo 4, 5 filhos.

Durante o dia todos trabalhavam muito, pegavam no batente e não viam a hora de anoitecer para reunir os amigos em uma das fazendas para bater papo e paquerar. Dona Alice conta que eles não gostavam de vir para a cidade: “primeiro que tinha muita gente na fazenda, então a diversão ficava por lá mesmo, e segundo que para chegar à cidade precisava andar mais de 10 km (isso significa 3 a 4 horas caminhando), porque ninguém tinha condução, então era mais difícil”. E foi em um desses encontros que Alice e José se conheceram. De lá prá cá não se desgrudaram mais. Foram 4 anos de namoro e o casamento aconteceu em 1957.

José herdou dos pais 53 alqueires de terra, mas segundo ele, eram apenas terra e mato. Foi preciso muita dedicação para tombar a terra com boi, arar, plantar e começar uma vida próspera. José conta que enquanto trabalhava com os peões dona Alice cozinhava e levava a comida a cavalo. No meio das recordações o casal por alguns instantes muda a feição do rosto e parece voltar no tempo. Para quem assiste, uma lição de vida, com certeza.

A melhora
Depois de muito trabalho e sacrifícios Alice e José resolveram criar porcos. Ele lembra que naquela época o porco era mais caro que o bezerro – tudo por conta da banha que era usada para cozinhar, já que naquela época não existia óleo de soja, e que já chegou a vender mais de 250 deles de uma só vez. Foi com essa criação que conquistaram quase tudo que possuem hoje. Mas ele pondera: “Para que o lucro fosse maior, a gente plantava tudo na fazenda, como mandioca e milho, alimento dos animais”.

Os filhos
Só após quatro anos de casados é que resolveram ter o primeiro filho. Era a médica Girlene que chegava ao mundo. Uma criança, segundo os pais, muito aplicada e estudiosa, que sempre estudou em escola pública e fez faculdade numa universidade federal. A residência médica não foi diferente, passou em quatro lugares e pôde escolher em qual gostaria de terminar os estudos.
O irmão Gilberto veio logo em seguida, três anos depois. De tanto ver o pai trabalhar, resolveu acompanhar o seu caminho e hoje segue a carreira de agropecuarista também.

Eita Minas Gerais
No começo da década de 70, José adquiriu uma fazenda no estado de Minas Gerais, perto da cidade de Iturama. Nos fundos das terras passa um riozinho. Pronto, foi o suficiente para despertar a paixão pela pesca. Tudo começou ali, onde era fácil pegar piaus. Os rios Arantes e São Domingos passaram a ser trajeto obrigatório para eles. Mas ainda estava apenas no começo.

Rumo a Goiás
Tempos depois, Alice e José venderam a propriedade em Minas e compraram uma outra em Goiás. Perto da fazenda passa o rio Aporé. Nem é preciso dizer que ali é o ponto preferido dos dois. Eles mal chegam à fazenda e já partem para a pesca. Foi nessa época que resolveram comprar barco, carretilha, molinete e tudo que um pescador de primeira exige. Não satisfeitos resolveram tirar férias. Imaginem só o destino: rio, pesca, peixada e muito descanso. Eles merecem!

Pé na estrada
A última pescaria aconteceu em agosto do ano passado, no Rio Guaporé. Três dias para chegar a Rondônia, mais precisamente à cidade de Costa Marques. Uma paradinha para o descanso em Cuiabá, outra em Pimenta Bueno, totalizando 3 mil quilômetros até o destino. A fazenda, de propriedade da prefeita Jaqueline, faz divisa com a Bolívia. O confortável sobrado, sede da propriedade, abrigou Alice e José por nove dias.

Peixe que não acaba mais
A rotina do casal foi das mais invejadas para quem é amante de uma boa pescaria. O dia era dedicado apenas para arrumar a “traia de pesca” e descansar. A pescaria começava mesmo por volta das 20 horas e terminava lá pelas duas da madrugada.
Como diz o senhor José: “os peixes parece que sentem o cheiro da isca de dona Alice, vão todos para o lado dela”. Com uma declaração dessas não é difícil imaginar quem pega mais peixe. No meio disso tudo, as atenções se voltam mesmo para o peso dos peixes, que variam de 10 a 20 quilos. Sem nenhuma cerimônia, José revela que “meio escondido” da esposa ele chega a “roubar” alguns peixes do covo dela, só para a desvantagem não ficar muito feia. Brincadeiras à parte, eles fazem da prática um momento de diversão e lazer. Um merecido presente para quem passou quase a vida inteira trabalhando.

O resultado
Passados os nove dias, chegou a hora de voltar para a casa, afinal José continua em plena atividade e tem seus negócios para cuidar em Fernandópolis. Na bagagem, muito peixe, que foi dividido entre a família. Os filhos Girlene e Gilberto ficaram responsáveis pelas peixadas, e cada um reuniu em sua casa aproximadamente 40 pessoas. No cardápio, mais que os peixes, estavam as histórias de Alice e José, que já programaram para outubro a próxima pescaria. Dessa vez, vão levar a família inteira: filhos, genro, nora e netos estão escalados para o grande passeio, que mesmo longe deve ser feito por terra, como Alice gosta: “de caminhonete eu vou conhecendo lugares e descobrindo paisagens, de avião não tem nada disso”, diz ela com a voz firme de quem é entendida no assunto. Não é para menos: em sua bagagem, já estão três viagens a Rondônia, só para pescar.