Judite fez das adversidades um trampolim para o sucesso

20 de Agosto de 2025

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Judite fez das adversidades um trampolim para o sucesso
Judite Cordeiro Brandão Canada é descendente de família nordestina que saiu do sertão em busca de vida melhor no Estado de São Paulo. Seus pais, Floriano e Eunice Brandão, chegaram a Brasitânia quando tudo por ali era só mato. Trabalharam para terceiros e, depois de algum tempo, compraram sete alqueires de terra e passaram a cultivar seus próprio sustento. Ao todo, o casal teve 15 filhos - dois faleceram quando eram ainda bebês. Dos sobreviventes, sete eram mulheres e seis eram homens. Judite era o sexto filho do casal.

Desde muito cedo todos tiveram que aprender a trabalhar na roça. Os filhos homens, além de trabalhar, tinham o privilégio de estudar. Já as mulheres nunca passavam do quarto ano na escola. Essa realidade incomodava Judite, que tinha o sonho de estudar e ser independente. Por ter cerceado seu direito de ir à escola, ela decidiu partir para a segunda etapa: conquistar seu próprio dinheiro para ter, ao menos, certa independência financeira.

Para tanto, trabalhava até as 18h na lavoura do pai e depois partia para a do vizinho; também vendia frangos, apanhava algodão, fazia crochês, tricô e, aos 11 anos, aprendeu a costurar. “Quando decidi aprender a costurar, minha mãe logo me disse: - se você estragar um pano vai apanhar. Mesmo assim eu arriscava. Uma amiga da família que era costureira me deu uma ajuda no início e eu passei, então, a costurar”.

Nove anos depois, Judite se casou e através do trabalho de costureira ajudava na renda da casa, além de, nas horas vagas, ajudar o marido na roça. Com aproximadamente 30 anos, decidiu voltar a estudar, depois de 22 anos afastada da escola. Sua personalidade audaz e sonhadora levou-a, na 6ª série, a fazer um abaixo-assinado para reivindicar da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo classes de 2º grau para a escola, pois temia ter que parar de estudar quando concluísse o 1º grau. O manifesto, seguido de faixas e bandeiras, obteve êxito e Judite ficou conhecida e beneficiou muitas gerações de estudantes.

Após a conclusão do ensino médio, decidiu fazer o curso de Letras e pagou os estudos com um contrato que fechou com uma empresa para fabricar 150 colarinhos de camisas. O dinheiro também serviu para quitar um financiamento de máquinas de costuras que fez através do Banco do Povo.

Mesmo com tantos afazeres (costuras, cuidados com a casa, sítio, marido, filhos, faculdade) Judite nunca deixou de manter o bom humor e a vontade de lutar pelo bem comum. Foi com esse espírito jovem e solidário que em 2002, ela começou a trabalhar no Conselho Tutelar. Ali foi conselheira, presidente e permaneceu por três anos. No segundo ano de mandato, foi convidada a assumir o projeto Juventude Vida, que trabalha com medidas socioeducativas para jovens infratores. Em março, Judite completa seis anos à frente desse trabalho. Sua satisfação é poder reeducar adolescentes e encaminhá-los para o mercado de trabalho.

Já na vida pessoal, seu maior orgulho é ter vencido na vida, pois dos 13 filhos que seus pais tiveram apenas Judite tem formação de nível superior. Os fatores determinantes desse progresso, segundo ela, foram a garra, a determinação e um olhar sempre voltado para o futuro.

Essa lição de vida tem procurado repassar aos filhos Francisco Júnior (29) e Maurício Flávio (27), que demonstram ter aprendido. No final de 2009, mãe e filhos colaram grau; Judite se formou em Pedagogia, Francisco em Administração e Maurício em Ciências Contábeis. As adversidades encontradas por Judite serviram apenas um trampolim para o sucesso!