Em 1999, a advogada Flavia Cristiane Gonçalves Resende voltou para Fernandópolis logo após sua formatura, em Franca. Especializada em Direito Administrativo, com curso de extensão em administração pública, ela começou a trabalhar na prefeitura em 2001. Essa experiência abriu-lhe os necessários horizontes para assumir, a convite do prefeito Luiz Vilar, a diretoria do Bem-Estar Social. Nesta entrevista, ela fala dos seus planos cujo ritmo, ela define, tem que ser acelerado por conta da disputa regional e dos fatores políticos que, muitas vezes, fazem malograr os planos, por melhores que sejam. Flavia, como ela própria diz, tem pressa, muita pressa.
CIDADÃO: Quais são os projetos prioritários da Diretoria do Bem-Estar Social para 2010?
FLAVIA: Primeiramente, dar sequência a alguns projetos que estão sendo desenvolvidos desde o início da administração, como o CRAS, que é um equipamento da assistência social nos bairros que já seguem uma rotina de trabalho; o CREAS, que é um serviço especializado de assistência e que também já tem um foco definido cabe deixar claro que, hoje, a assistência social segue um sistema único, com diretrizes federais. O município não pode fugir disso. É como o Sistema Único da Saúde. Então, existem diretrizes que temos que seguir campanhas educativas como as da área da saúde, atividades de geração de renda, colocação de famílias em empregos, cursos para jovens, no sentido de promover valores como a cidadania e a educação. Tudo isso é trabalhado de forma inter-setorial com as demais diretorias. Além disso, nosso grande foco é instrumentalizar o cidadão para que possa obter emprego e produzir renda. Mais do que nunca, ensinar a pescar em vez de dar o peixe. Porque é o seguinte: em princípio o indivíduo tem direito a uma cesta básica; só que, se ele precisa sistematicamente dessa ajuda, a equipe técnica tem que se debruçar sobre essa família e detectar o que está acontecendo e o que ele precisa mudar em sua vida para poder abrir mão dessa cesta básica. Para incutir esse pensamento na família, existe um trabalho que vai do auxílio de psicólogos até a inclusão num programa de geração de renda. Temos que descobrir a vocação da pessoa. Um dos grandes projetos, cuja demanda detectamos ao longo de 2009, é o relacionado ao setor da estética (manicure, pedicure, cursos de maquiagem e massagem). Sentimos que era necessário investir em demandas assim, e daí veio o projeto Casa Aprender, que ensina ao aluno normas básicas de organização econômica e familiar. Mudamos para uma casa maior, e haverá turmas nos três turnos. Estamos buscando também parcerias para que nos apoiem no projeto.
CIDADÃO: Há muita gente interessada nesses cursos?
FLAVIA: Em 2009, formamos 47 alunos no curso de cabeleireiro. Consideramos esse número pequeno, mas o espaço físico era muito pequeno. Agora, o projeto é triplicar esse número. E, como aproveitamos uma estrutura que estava meio desativada, sem grandes gastos para a prefeitura. Se efetivamente esse ano for melhor, em 2011 pensaremos novamente em ampliações. Esse trabalho é todo voltado para as famílias de baixa renda, e muitas vezes eles conseguem sair do emprego informal. Outra coisa: hoje em dia, pouca gente quer ser secretária do lar, as pessoas querem fazer algo mais qualificado, e é um direito delas.
CIDADÃO: No que consiste o programa Pró-Renda?
FLAVIA: O Pró-Renda é uma parceria com a Diretoria de Desenvolvimento Sustentável porque, desde o início, o prefeito nos falava que há vocação na cidade para o setor de costura. Levantamos informações e descobrimos que há muitas pequenas empresas produzindo. Elas precisam da demanda qualificada, porque às vezes não conseguem atender às necessidades da fábrica para a qual fornecem por falta de mão de obra especializada. Desenvolvemos esse projeto, também de três turnos. É o curso de corte e costura industrial e com a filosofia de preparar o aluno para todas as etapas da produção. Com o desemprego que existe por aqui, não podemos nos dar ao luxo de dispensar essa oferta de trabalho, e fazer o empresário buscar costureiras fora da cidade. Surgiu então a necessidade de um local. A empresa V-2, que é grande interessada na preparação dessa mão de obra, nos informou que dispunha de um grande espaço vazio, e que poderia sem usado sem ônus. É bom para a municipalidade, porque aluguéis são caros. O Bem-Estar Social custeará os dois monitores do curso e dará o suporte psicossocial, que consiste em motivar a pessoa a mudar de vida isso, depois da triagem para detectar a vocação.
CIDADÃO: Quem faz essa triagem?
FLAVIA: Esse trabalho é feito pelos CRAS Centros de Referência de Assistência Social que estão nos bairros. Já tínhamos a demanda da costura; pegamos as listas de pessoas inscritas nos programas de assistência e rapidamente os CRAS formaram as turmas. Na primeira turma, que é o projeto-piloto, já há lista de espera. Acho que esse projeto tem tudo para dar certo.
CIDADÃO: Nesse trabalho à frente da diretoria, você tem observado casos concretos que a motivam a seguir em frente e que lhe dizem que vocês estão na rota correta?
FLAVIA: Sim, há vários casos. Desde pequenos avanços, como o aprendizado de conviver em família e a gente nem tinha ideia do quanto algumas famílias são carentes de tudo e olha que estou falando da parte básica, passando pela higiene, pelo aprendizado de conviver com os filhos. Você tem que ajudar a pessoa a ver que ela pode melhorar a qualidade de vida. Incutir a mentalidade de que a prevenção é a melhor forma de ter saúde, até grandes avanços, como o caso de uma pessoa que entrou no curso com estado depressivo extremamente severo, descrente dos valores familiares e desinteressada e sem vocação. Hoje, ela é uma monitora de curso. Ou seja: de pessoa que não conseguia sequer cuidar de si própria, ela hoje cuida e orienta outras pessoas. Acho que isso é uma grande vitória. O resgate da auto-estima dessa pessoa significou, para nós, uma avaliação de 100% de êxito no trabalho realizado com ela. Há também os casos de pessoas que não conseguiam se socializar e aprendem a fazer isso, o que, por si só, é um avanço interessante.
CIDADÃO: Você falou em integração inter-setores. Como é o relacionamento com as outras pastas?
FLÁVIA: É ótimo. O seu Luis (Vilar, prefeito) tem um jeito legal de trabalhar, que é sempre dizer que temos que ser guerreiros e vestir a camisa. Como eu penso também assim, acho que temos que vestir a camisa da nossa cidade e fazer dela um ótimo lugar para mim, para o meu filho, para você e todo mundo, as conversas nas reuniões sempre são produtivas. Meu relacionamento com os colegas principalmente aqueles das pastas com as quais mais tenho que me relacionar é muito bacana. Sou a caçulinha da turma, por isso procuro ouvir bastante para aprender. E a receptividade deles é maravilhosa, eles escutam minhas ideias e ajudam a desenvolver ações em cima delas. Particularmente, nunca tive qualquer problema com os colegas, muito pelo contrário, há muito respeito e até paciência. Não tenho do que me queixar, acho que é um time entrosado.
CIDADÃO: Você voltou para Fernandópolis há dez anos. Nessa década, a cidade não progrediu ou, apesar das marchas e contramarchas, realmente mudou de cara?
FLAVIA: Não se pode dizer que paramos, mas não se pode negar que às vezes a cidade andou em marcha lenta. Eu sentia muita angústia quando via projetos empacarem por valores pequenos ou vaidades, isso me incomodava. Ia para São Paulo, participava de reuniões e via municípios da região, que participavam comigo dessas regiões, executando projetos que nós não conseguíamos botar de pé. Isso doía. Temos que ser ágeis, a disputa é grande. Os projetos precisam andar depressa. Acho que esse ritmo poderia e poderá ser mais acelerado. Eu tenho essa pressa. Não quero que Fernandópolis perca tempo.