Flávia Resende quer ver a cidade em ritmo acelerado

20 de Agosto de 2025

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Flávia Resende quer ver a cidade em ritmo acelerado
Em 1999, a advogada Flavia Cristiane Gonçalves Resende voltou para Fernandópolis logo após sua formatura, em Franca. Especializada em Direito Administrativo, com curso de extensão em administração pública, ela começou a trabalhar na prefeitura em 2001. Essa experiência abriu-lhe os necessários horizontes para assumir, a convite do prefeito Luiz Vilar, a diretoria do Bem-Estar Social. Nesta entrevista, ela fala dos seus planos – cujo ritmo, ela define, tem que ser acelerado por conta da disputa regional e dos fatores políticos que, muitas vezes, fazem malograr os planos, por melhores que sejam. Flavia, como ela própria diz, tem pressa, muita pressa.

CIDADÃO: Quais são os projetos prioritários da Diretoria do Bem-Estar Social para 2010?
FLAVIA: Primeiramente, dar sequência a alguns projetos que estão sendo desenvolvidos desde o início da administração, como o CRAS, que é um equipamento da assistência social nos bairros que já seguem uma rotina de trabalho; o CREAS, que é um serviço especializado de assistência e que também já tem um foco definido – cabe deixar claro que, hoje, a assistência social segue um sistema único, com diretrizes federais. O município não pode fugir disso. É como o Sistema Único da Saúde. Então, existem diretrizes que temos que seguir – campanhas educativas como as da área da saúde, atividades de geração de renda, colocação de famílias em empregos, cursos para jovens, no sentido de promover valores como a cidadania e a educação. Tudo isso é trabalhado de forma inter-setorial com as demais diretorias. Além disso, nosso grande foco é instrumentalizar o cidadão para que possa obter emprego e produzir renda. Mais do que nunca, ensinar a pescar em vez de dar o peixe. Porque é o seguinte: em princípio o indivíduo tem direito a uma cesta básica; só que, se ele precisa sistematicamente dessa ajuda, a equipe técnica tem que se debruçar sobre essa família e detectar o que está acontecendo e o que ele precisa mudar em sua vida para poder abrir mão dessa cesta básica. Para incutir esse pensamento na família, existe um trabalho que vai do auxílio de psicólogos até a inclusão num programa de geração de renda. Temos que descobrir a vocação da pessoa. Um dos grandes projetos, cuja demanda detectamos ao longo de 2009, é o relacionado ao setor da estética (manicure, pedicure, cursos de maquiagem e massagem). Sentimos que era necessário investir em demandas assim, e daí veio o projeto “Casa Aprender”, que ensina ao aluno normas básicas de organização econômica e familiar. Mudamos para uma casa maior, e haverá turmas nos três turnos. Estamos buscando também parcerias para que nos apoiem no projeto.

CIDADÃO: Há muita gente interessada nesses cursos?
FLAVIA: Em 2009, formamos 47 alunos no curso de cabeleireiro. Consideramos esse número pequeno, mas o espaço físico era muito pequeno. Agora, o projeto é triplicar esse número. E, como aproveitamos uma estrutura que estava meio desativada, sem grandes gastos para a prefeitura. Se efetivamente esse ano for melhor, em 2011 pensaremos novamente em ampliações. Esse trabalho é todo voltado para as famílias de baixa renda, e muitas vezes eles conseguem sair do emprego informal. Outra coisa: hoje em dia, pouca gente quer ser “secretária do lar”, as pessoas querem fazer algo mais qualificado, e é um direito delas.

CIDADÃO: No que consiste o programa “Pró-Renda”?
FLAVIA: O Pró-Renda é uma parceria com a Diretoria de Desenvolvimento Sustentável – porque, desde o início, o prefeito nos falava que há vocação na cidade para o setor de costura. Levantamos informações e descobrimos que há muitas pequenas empresas produzindo. Elas precisam da demanda qualificada, porque às vezes não conseguem atender às necessidades da fábrica para a qual fornecem por falta de mão de obra especializada. Desenvolvemos esse projeto, também de três turnos. É o curso de corte e costura industrial – e com a filosofia de preparar o aluno para todas as etapas da produção. Com o desemprego que existe por aqui, não podemos nos dar ao luxo de dispensar essa oferta de trabalho, e fazer o empresário buscar costureiras fora da cidade. Surgiu então a necessidade de um local. A empresa V-2, que é grande interessada na preparação dessa mão de obra, nos informou que dispunha de um grande espaço vazio, e que poderia sem usado sem ônus. É bom para a municipalidade, porque aluguéis são caros. O Bem-Estar Social custeará os dois monitores do curso e dará o suporte psicossocial, que consiste em motivar a pessoa a mudar de vida – isso, depois da triagem para detectar a vocação.

CIDADÃO: Quem faz essa triagem?
FLAVIA: Esse trabalho é feito pelos CRAS – Centros de Referência de Assistência Social que estão nos bairros. Já tínhamos a demanda da costura; pegamos as listas de pessoas inscritas nos programas de assistência e rapidamente os CRAS formaram as turmas. Na primeira turma, que é o projeto-piloto, já há lista de espera. Acho que esse projeto tem tudo para dar certo.

CIDADÃO: Nesse trabalho à frente da diretoria, você tem observado casos concretos que a motivam a seguir em frente e que lhe dizem que vocês estão na rota correta?
FLAVIA: Sim, há vários casos. Desde pequenos avanços, como o aprendizado de conviver em família – e a gente nem tinha ideia do quanto algumas famílias são carentes de tudo – e olha que estou falando da parte básica, passando pela higiene, pelo aprendizado de conviver com os filhos. Você tem que ajudar a pessoa a ver que ela pode melhorar a qualidade de vida. Incutir a mentalidade de que a prevenção é a melhor forma de ter saúde, até grandes avanços, como o caso de uma pessoa que entrou no curso com estado depressivo extremamente severo, descrente dos valores familiares e desinteressada e sem vocação. Hoje, ela é uma monitora de curso. Ou seja: de pessoa que não conseguia sequer cuidar de si própria, ela hoje cuida e orienta outras pessoas. Acho que isso é uma grande vitória. O resgate da auto-estima dessa pessoa significou, para nós, uma avaliação de 100% de êxito no trabalho realizado com ela. Há também os casos de pessoas que não conseguiam se socializar e aprendem a fazer isso, o que, por si só, é um avanço interessante.

CIDADÃO: Você falou em integração inter-setores. Como é o relacionamento com as outras pastas?

FLÁVIA: É ótimo. O “seu Luis” (Vilar, prefeito) tem um jeito legal de trabalhar, que é sempre dizer que temos que ser guerreiros e “vestir a camisa”. Como eu penso também assim, acho que temos que vestir a camisa da nossa cidade e fazer dela um ótimo lugar para mim, para o meu filho, para você e todo mundo, as conversas nas reuniões sempre são produtivas. Meu relacionamento com os colegas – principalmente aqueles das pastas com as quais mais tenho que me relacionar – é muito bacana. Sou a caçulinha da turma, por isso procuro ouvir bastante para aprender. E a receptividade deles é maravilhosa, eles escutam minhas ideias e ajudam a desenvolver ações em cima delas. Particularmente, nunca tive qualquer problema com os colegas, muito pelo contrário, há muito respeito e até paciência. Não tenho do que me queixar, acho que é um time entrosado.

CIDADÃO: Você voltou para Fernandópolis há dez anos. Nessa década, a cidade não progrediu ou, apesar das marchas e contramarchas, realmente mudou de cara?
FLAVIA: Não se pode dizer que paramos, mas não se pode negar que às vezes a cidade andou em marcha lenta. Eu sentia muita angústia quando via projetos empacarem por valores pequenos ou vaidades, isso me incomodava. Ia para São Paulo, participava de reuniões e via municípios da região, que participavam comigo dessas regiões, executando projetos que nós não conseguíamos botar de pé. Isso doía. Temos que ser ágeis, a disputa é grande. Os projetos precisam andar depressa. Acho que esse ritmo poderia – e poderá – ser mais acelerado. Eu tenho essa pressa. Não quero que Fernandópolis perca tempo.