Nas Bodas de Ouro, Angelina Arakaki reafirma seu amor

20 de Agosto de 2025

Compartilhe -

Nas Bodas de Ouro, Angelina Arakaki reafirma seu amor
Angelina Kawakami Arakaki e seu marido, o empresário Kosuke Arakaki, estão felizes: amanhã, o casal completa 50 anos de uma união mais do que feliz. Nesse meio século imperaram na relação o respeito, a compreensão e a colaboração mútua. As dificuldades eram vencidas a partir do diálogo e de decisões tomadas de comum acordo. Segundo dona Angelina, hoje o amor é maior: “antes éramos só nós dois, agora temos uma grande família”. Um belo exemplo, sem dúvida. (Glenda Scandiuzi)

CIDADÃO-Quando a senhora e o sr. Kosuke se conheceram?
ANGELINA-A gente morava na Colônia Braga, que ficava entre as cidades de General Salgado e Magda, quando meu pai decidiu se mudar para Fernandópolis. Ele comprou uma chácara atrás do cemitério e moramos lá durante algum tempo. Nessa época ele costumava levar a gente ao cinema e eu sempre via o Luis na esquina. De dia ele trabalhava como mecânico, então eu via sempre, mas demorei um mês para ter certeza se era a mesma pessoa.

CIDADÃO-Mas quando o namoro começou?
ANGELINA-Meu pai comprou o Nosso Bar (tradicional sorveteria no centro da cidade, que hoje é de propriedade do cunhado de Luis, Fernando Uitenabara, casado com Tomiko) e o Luis ia chupar laranja lá quase todos os dias. Naquela época a minha família toda trabalhava lá, então foi assim que nos conhecemos. Depois meu pai resolveu que iria montar uma sorveteria, mas como não tinha energia, precisava de um motor. Foi o Luis que vendeu e montou o gerador. Depois disso, quando saía do serviço passava lá todos os dias para tomar sorvete. Eu me lembro que às vezes era mais de meia-noite quando ele chegava lá.

CIDADÃO -Vocês namoraram quanto tempo até casar?
ANGELINA-Namoramos 6 anos. Eu me casei com 26 e ele com 30 anos. Naquela época não tínhamos dinheiro para casar, então esperamos mais um pouco. Eu bordava peças de enxoval e com o que eu ganhava comprava as peças prontas para mim. Assim fui fazendo devagar.

CIDADÃO-Era comum se casar com essa idade naquela época?
ANGELINA-Não muito. Lembro até que quando meu pai viajava para Araraquara, cidade da minha família, voltava preocupado porque meus tios achavam que o Luis não queria casar comigo. Minhas primas já tinham se casado e eu não. A verdade é que a gente precisava ganhar dinheiro primeiro. Casamos no dia 20 de dezembro de 1959, aqui em Fernandópolis.

CIDADÃO-A senhora se lembra de alguns detalhes desse dia?
ANGELINA- A Igreja Matriz ainda era pequenina, semi-acabada. As colônias faziam quermesses para levantar dinheiro para ajudar na construção. Nós mesmos fomos muitas vezes em sítios e fazendas pedir doações. Lembro também do bolo de casamento que tinha o formato da igreja e da festa que foi nos fundos da casa do meu sogro. Colocamos um encerado no fundo e recebemos as pessoas lá.

CIDADÃO- Sempre que tem oportunidade, o senhor Luis agradece muito à senhora e à Dona Maria Helena, irmã dele. Por quê?
ANGELINA-Quando o Luis trabalhava na oficina, ele representava duas marcas de trator e o supervisor vinha todo mês. Ficava uma semana, quinze dias aqui, e como a gente não tinha condições, as refeições eram preparadas por mim e minha cunhada. Aqui também não tinha restaurantes. Lembro que fazia todo o serviço de casa, limpava, cozinhava, lavava roupa e passava. Gostava de costurar também e muitas vezes fazia shorts e camisetas para o Luisinho com as roupas do pai que estragavam. Ele viajava muito e as roupas ficavam gastas nas costas, aí eu aproveitava as mangas e das calças, as pernas.

CIDADÃO- Vocês estudaram juntos?
ANGELINA-Participamos da primeira turma do supletivo por incentivo dos nossos filhos Mariângela e Luisinho. Nós só aceitamos porque eles se comprometeram a se comportar. Ficavam com uma vizinha que já era de idade e nos intervalos a gente ia lá ver como eles estavam. Fizemos até o quarto ano. Quando resolvemos fazer o colegial precisamos parar por casos de doença na família. Hoje, fico feliz em ver meus filhos estudados e meus netos também estudando. Sinto orgulho da minha família.

CIDADÃO-Amanhã vocês completam 50 anos de casamento. Muita gente tem curiosidade para saber qual o segredo de uma união tão bonita.
ANGELINA-O segredo é o respeito. Nunca brigamos e quando conversamos sério nunca foi na frente dos filhos. Muitas vezes o Luis chegava nervoso e eu nunca falava nada. Depois de uns dias eu voltava no assunto, explicava e ele percebia que estava errado. O nervosismo do Luis é passageiro. Sempre conversamos muito. O nosso relacionamento continua o mesmo de antes. Essa semana, por estar perto do aniversário de casamento, fico me lembrando de tudo, desde o começo. Tivemos dificuldades, tristezas como doenças, alegrias e sempre passamos por tudo juntos.

CIDADÃO-Como a senhora analisa os casamentos de hoje?
ANGELINA-Hoje é tudo muito rápido. Antigamente a gente não se via com muita freqüência e quando se encontrava era para conversar. Ele falava do serviço e eu ficava ouvindo. Para pegar na mão era difícil, parecia que a mão da gente pesava uns 10 quilos (risos). Hoje está tudo muito avançado. Mas eu entendo e acho que quando as pessoas não se entendem mais, brigam muito, principalmente na frente dos filhos, tem que procurar o melhor. Casamento tem que ser baseado no amor, no respeito, senão perde o propósito. A minha criação ditava que o casal deveria ficar junto para sempre e não se separar mesmo não se entendendo mais. Agora não é mais assim.

CIDADÃO-O mais bonito e admirado em vocês pelas pessoas é o companheirismo. Sempre foi assim?
ANGELINA-Uma vez o Luis tinha uma formatura de um funcionário para ir e o Luisinho estava doente, com febre. Eu disse para ele ir sozinho, mas percebi que não queria. Liguei para minha sogra e pedi para ela ficar com o meu filho. Me arrumei rapidinho e fui. O Luis ficou contente e eu prometi que nunca mais ele iria sozinho aos lugares. Hoje ele já entende que eu tenho muitas coisas para fazer, mas até compras no supermercado fazemos juntos, mesmo ele sendo muito ocupado. Outra coisa também que fazemos questão é de comparecer a todos os lugares que somos convidados, mesmo chegando de viagem em cima da hora.

CIDADÃO-Tem alguma coisa que a senhora gostaria de fazer com o seu marido e que ainda não tenha feito nesses 50 anos?
ANGELINA-O Luis sempre me levou para viajar, mas muitas vezes fomos a trabalho. Agora quero viajar para passear. Quero conhecer a Europa, não tive essa oportunidade ainda.

CIDADÃO-Durante esses 50 anos, qual foi o momento de maior alegria para a senhora?
ANGELINA-Fora os nascimentos dos filhos e netos, me lembro com muita alegria dos meus 25 anos de casamento. Fui à missa com o Luis naquele dia e durante o almoço tinha a confraternização dos nossos funcionários. Então resolvi fazer um bolo bem grande de surpresa para comemorar a bodas de prata com eles. Quando cheguei lá os funcionários tinham feito uma festa-surpresa pra mim, com faixa e tudo. Fiquei muito contente, nunca vou me esquecer daquele dia.
CIDADÃO-O amor continua o mesmo depois de tanto tempo?
ANGELINA-Não, ele está maior agora. O tempo tem feito isso. Antes era o nosso amor, agora tem o amor dos filhos, netos, da família, que é muito importante.