O advogado Henri Dias, que recentemente foi reeleito presidente da 45ª Subsecção da Ordem dos Advogados do Brasil Secção de São Paulo - fez uma afirmação surpreendente: não acredita nos resultados do tipo de política que a região adotou para obter a duplicação da Rodovia Euclides da Cunha. Para ele, só a mobilização do povo fará com que os governantes se decidam a realizar a obra que há décadas vem sendo prometida. Henri fala também dos planos para o próximo mandato na OAB e sobre a sucessão na Associação de Amigos do Município de Fernandópolis, cuja diretoria, há um ano, lhe prometeu apoio para que assumisse a entidade em 2010.
CIDADÃO: O sr. foi reeleito presidente da seccional da OAB em chapa única, o que sinaliza como uma aprovação à sua primeira gestão. O que representa isso para a sua equipe?
HENRI: Entendemos como uma resposta positiva ao trabalho que fizemos. Quando assumimos a OAB, tínhamos a meta de colocar em prática algumas mudanças significativas que identificamos como necessárias. A principal era aproximar a diretoria da subsecção dos advogados e principalmente dos jovens advogados. Com base nisso, iniciamos esse processo de integração. Algumas medidas imediatas, como a página na Internet, eram uma forma de aproximar a 45ª desses jovens afinal, a Internet é muito importante, e dominada principalmente pelos jovens. Era a Internet uma ferramenta desperdiçada pela OAB local. A página nos aproximou dos advogados. Além disso, buscamos o aprimoramento dos funcionários, para que eles se capacitassem a resolver rapidamente eventuais dificuldades que apareciam. Houve cursos de treinamento e aperfeiçoamento para toda a equipe. Reativamos as comissões já existentes na subsecção, para que elas tivessem a colaboração desses advogados. Assim, com base nesse tripé, fizemos a subsecção andar naturalmente. A partir do momento em que houve essa integração, tudo fluiu bem. Isso acabou refletindo, ao final dos três anos, na resposta das urnas primeiro, com a consolidação da candidatura única, que é inegavelmente uma aprovação ao trabalho. Os grupos entenderam que seria positiva a continuidade da diretoria para que o trabalho que vinha sendo feito prosseguisse. Nas eleições, 85% dos votos nos apoiaram. Foi praticamente um sim plebiscitário não pelo continuísmo, mas pela continuidade do trabalho.
CIDADÃO: O presidente da OAB paulista, Dr. Flávio DUrso, também foi reeleito. Isso é bom para a 45ª?
HENRI: Para a nossa subsecção, foi importantíssimo. Nesses três anos, estabelecemos um canal com a seccional de São Paulo que não havia em outras épocas. Praticamente tudo que pedimos, no sentido de aprimorar e fortalecer o trabalho da advocacia, nós conseguimos, desde a aquisição de computadores até a parte de suporte na realização de cursos, eventos e palestras. Tivemos nesses três anos cerca de 60 palestras, tudo facilitado pelas comissões de suporte à advocacia. As portas da OAB/SP estiveram escancaradas para nós, chegamos a antecipar alguns trabalhos, como o do treinamento de funcionários só mais tarde, a seccional implantou o ISO, sistema de gestão de qualidade. Esse canal que abrimos criou as condições para que pudéssemos realizar com competência o nosso trabalho. É um trabalho de equipe, com a participação de todos, mas que contou com o suporte indispensável da seccional de São Paulo. Acreditamos que haverá a manutenção dessa relação positiva, com a conseqüente continuidade do trabalho, até ampliado.
CIDADÃO: As mulheres advogadas ganharam destaque na sua gestão, participando diretamente das ações da 45ª Subsecção. Essa política será mantida?
HENRI: Claro, não há dúvida. A participação da mulher advogada foi um dos grandes pilares da nossa administração. Digo que meu único mérito foi dar a elas essa oportunidade, identificando as pessoas certas e concedendo a oportunidade. A partir desse momento, o trabalho apareceu naturalmente. Chegamos ao ponto de ter que brecar o entusiasmo delas, porque mostram uma vontade e uma capacidade muito grandes, tanto de projetar quanto de realizar. Muitas vezes, seguramos o ímpeto delas por causa das limitações financeiras que temos. Elas têm ideias e projetos novos todos os dias! Esse trabalho vai continuar, sem dúvida, e queremos trazer ainda mais mulheres advogadas para participar dos projetos e comissões.
CIDADÃO: Há um ano, o sr. desistiu de disputar a presidência da Associação de Amigos do Município de Fernandópolis, por conta de um acordo firmado naquela ocasião. Por esse acordo, o sr. deveria ser apoiado pela atual diretoria em sua candidatura à presidência da entidade em 2010. Isso não está acontecendo?
HENRI: Na verdade, o que aconteceu na eleição passada não foi bem uma desistência. Entendemos na ocasião que um racha não era bom para a Associação de Amigos, que foi criada com o propósito de união, para dar suporte às iniciativas em favor do município. Achamos na época que era melhor não haver disputa, para não haver traumas pós-eleitorais, criando-se um clima de divisão. Sentamos com os membros e estabelecemos o propósito de fazer uma transição tranqüila tanto naquela eleição quanto na próxima. Quando fui convidado pelo ex-presidente Ubaldo Martins para participar da Associação de Amigos, aceitei para participar de um projeto de revitalização da entidade, que infelizmente não estava andando bem e corria até o risco de ser extinta. Aceitei participar desse projeto. Quando conversei com o Paulinho (Okuma) foi nesse sentido, ou seja, de dar seguimento a esse projeto primeiro de fortalecimento e revitalização; depois, de ação propriamente, o que deveria acontecer agora, a partir de 2010. Ainda não é oficial, mas recebemos a informação de que vai ser lançada uma outra candidatura. Se isso se confirmar, vejo como um fato decepcionante, e fico entristecido de ver que as coisas em Fernandópolis, ao que parece, continuam do jeito que eram no passado. Tudo o que nós questionávamos, principalmente a forma de decidir, continua igual. A vontade da maioria acaba sendo superada pela vontade de alguns poucos, motivada talvez por interesses pessoais ou, quem sabe grupais. Se isso se confirmar, ficarei muito decepcionado.
CIDADÃO: Mas esse compromisso não constou em ata da reunião?
HENRI: Pois é. Os antigos dizem que, antigamente, valia o fio do bigode; depois, a palavra. Aí, chegamos ao contrato escrito. A se confirmar ideia de lançamento de outro nome, chegarei à conclusão de que já não vale sequer o que está escrito. Infelizmente, essa é a conclusão que sobrará. O pacta sunt servanda (os pactos devem ser respeitados) estará descartado.
CIDADÃO: Sabe-se que o sr. tem sido uma das lideranças que lutam pela duplicação da Rodovia Euclides da Cunha. Esta semana, um acidente ocorrido nessa estrada feriu com gravidade a sua própria irmã e o noivo dela. Será que não chegou a hora da região noroeste paulista dar um basta ao imobilismo do governo estadual, com relação a essa obra?
HENRI: Já passou da hora. Não é por causa do acidente a que você se referiu: quantos outros já aconteceram e vêm e vão continuar acontecendo, sem que as autoridades tomem a iniciativa de resolver o problema? O que temos que fazer é pressionar, porque, infelizmente, as coisas só acontecem no Brasil quando há pressão popular. Não tem que partir dos políticos, tem que partir mesmo é do povo. Independentemente de políticos e partidos. Se a população se mobiliza, os políticos acabam indo atrás. O que acontece com a SP-320 é um descaso muito grande, uma verdadeira sacanagem. Estamos cansados de, em todo ano eleitoral, ver o estelionato que é a promessa de duplicação da Euclides da Cunha. Em ano de eleição, os políticos vêm falar que o processo está em andamento, que vai começar no outro ano já com inauguração de trechos da obra, etc. E nós continuamos do mesmo jeito. Passa ano, entra ano, e a duplicação não sai. Hoje, sou pessimista em relação a isso, apesar do oba-oba da audiência pública que é simplesmente uma formalidade mas daí a colocar o projeto em prática, vai longe. Pode crer a população: isso não vai acontecer rapidamente. Só se a população se mobilizar. Não sei de que maneira, mas deverá haver uma participação efetiva dos moradores, das comunidades de bairros e afins. Infelizmente, mais um ano eleitoral se passará sem que a duplicação saia do papel. Acredito na mobilização popular, porque a ação dos políticos, nós já vimos, não deu resultado.