80% dos cães de rua podem ter leishmaniose, afirma veterinária

20 de Agosto de 2025

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80% dos cães de rua podem ter leishmaniose, afirma veterinária
Cerca de 80% da população canina errante de Fernandópolis pode estar com leishmaniose. A afirmação foi feita pela veterinária Adriana Alonso Novais, do Hospital Domingo Alves, da Unicastelo, durante entrevista ao CIDADÃO nessa terça-feira, 10.

Adriana fez essa projeção após a confirmação da doença, em um curto espaço de tempo, em duas cachorras sadias que estavam fora do grupo de risco. O primeiro caso atendido pela veterinária foi de uma cadela da raça Husky Siberiano que chegou ao hospital saudável e sem sintomas de leishmaniose.

O dono do animal estava de posse de um exame que apresentava sorologia positiva baixa, 1/40, que pode resultar em um falso-positivo. Como um resultado verdadeiramente positivo precisa estar acima de 1/40, a veterinária fez novo exame conhecido como PCR (Reação em Cadeia da Polimerase), que detecta o parasita no DNA do animal. O exame foi encaminhado para o Laboratório Hermes Pardini de Belo Horizonte e deu resultado positivo.

Com a confirmação, Adriana deu duas alternativas aos proprietários: A eutanásia ou o tratamento paliativo, uma vez que doença é crônica. O parasita fica alojado no organismo e diante de reincidência da doença, há que se fazer novo tratamento. A cada seis meses o cachorro deveria passar por exames. Trata-se de algo que não depende apenas do empenho dos donos, mas da capacidade financeira.

Com medo da transmissão da doença para os netos, o casal optou pela eutanásia, que ocorreu no dia 30 de outubro. Após esse caso, outra cadela – também fora do grupo de risco - surgiu no hospital na semana seguinte.

A primeira providência da veterinária foi notificar o fato à Vigilância Epidemiológica e ao Centro de Zoonoses do município. Adriana foi, então, comunicada por um veterinário da Vigilância, que já tinha outros casos na cidade e que nenhum mosquito foi capturado, pois em Fernandópolis só há equipamento para a captura do mosquito da dengue.

“Quando ele (o veterinário) me falou que só tinha o equipamento para captura do mosquito da dengue, perguntei: mas como podem falar que não há mosquito se já temos vários casos de leishmaniose? Ele disse: é porque não temos a armadilha certa para capturar”.

A partir dessas informações, o hospital começou a dar mais atenção aos cães que aparecem com aparentes sintomas da doença. Adriana garante que mais da metade dos cachorros que são atendidos pelo hospital (média de 50 ao mês) têm chegado com anemia e lesão de pele, que são alguns dos sintomas da doença.

“Se a gente pegar a população canina errante da cidade e fizer uma triagem, creio que haverá 80% com leishmaniose. As duas cadelas que chegaram aqui não eram casos típicos da doença. Eram cachorras bem tratadas, que comiam do bom e do melhor e não saíam de casa. Considero esses números alarmantes, pelo curto espaço de tempo. Mas também não adianta divulgar esses dados de uma forma inconseqüente, para que todos saiam correndo para fazer a eutanásia”, explicou.

A veterinária narra o caso da cidade vizinha: “Isso aconteceu em Jales, as pessoas ficaram apavoradas e a Vigilância de Jales não tinha equipamento necessário para colher o material para enviar para o laboratório e nem para fazer a eutanásia. É preciso dialogar com a administração, vereadores, buscar parcerias para ajudar numa ajuda factual. Sem isso, os proprietários vão abandonar esses cachorros por não terem condições de cuidar deles. É preciso tem que tomar uma providência mais séria”, disse a veterinária.