Técnica de implante agrega amplas possibilidades à Odontologia

20 de Agosto de 2025

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Técnica de implante agrega amplas possibilidades à Odontologia
Entrevistado esta semana por Observatório, o cirurgião-dentista Paulo Henrique Bortoluzo – especialista em Implantodontia e possuidor de título de Mestrado em Periodontia – vê no campo dos implantes dentários um amplo caminho aberto na luta pela recuperação da saúde bucal. Formado pela Universidade de Ribeirão Preto, esse jovem fernandopolense, filho de Dayse Liney Malavazi Bortoluzo e Mário Bortoluzo, casado com Paula e pai de Clara e Henrique, explicou alguns detalhes da técnica, desenvolvida a partir de pesquisas realizadas na década de 70.


CIDADÃO: Quais são as vantagens do implante em relação às próteses dentárias?
BORTOLUZO: Acho que não se pode pensar em termos de vantagens. É uma especialidade que veio para agregar. Temos que pensar no implante a partir do momento em que o paciente teve a perda do elemento dental; o implante, nesse caso, irá substituí-lo. Mas, se o paciente conservou a raiz, o dentista a aproveitará. Quer dizer, a técnica de implante veio agregar recursos para o tratamento de pacientes que, por acidente ou pelo desgaste natural, acabaram perdendo o elemento dental, seria uma terceira dentição. A vantagem, para os pacientes que tiveram essa perda total, e usam, por exemplo, prótese total removível, é que o implante dá estabilidade, firmeza na mastigação, além de ganhos estéticos que consequentemente inferem na auto-estima.

CIDADÃO: O que é cirurgia guiada?
BORTOLUZO: É uma cirurgia antecedida por um planejamento reverso, ou seja, começa no computador, onde se estuda a prótese que será colocada. Essas informações são inseridas no computador, que produzirá um guia cirúrgico, contendo a direção, a angulação, o local exato onde os implantes deverão ser colocados. O cirurgião entra na cirurgia praticamente com a prótese pronta, e essa técnica reduz a morbidade cirúrgica quase ao índice zero. Quase não há cortes. Imagine uma artroscopia de joelho, onde se faz dois furos, em vez de “abrir” o joelho, como antigamente. É feita uma tomografia do paciente do implante, que informa altura, largura e profundidade do osso. Medidas exatas. Isso orienta onde e quanto o cirurgião deve furar. As mandíbulas têm acidentes anatômicos e áreas anatômicas nobres, por onde passam condutos vasculares e nervosos. É preciso fazer um estudo completo do quadro. Antigamente, eram feitas panorâmicas, que davam uma visão dimensional. Você só tinha as informações de largura e altura. Com a tomografia, o cirurgião dispõe da visão de profundidade com precisão. O raio X tem uma distorção de 25%; a tomografia tem fidelidade real. Em cima dessas informações o computador confecciona o modelo do guia de resina que orientará o caminho da broca – comprimento, angulação, profundidade. Essa guia é acoplada ao paciente e os furos são feitos de acordo com a guia. Pelo método tradicional, o cirurgião faz uma incisão grande, para ver a realidade do arcabouço ósseo. Na cirurgia guiada, isso não é necessário.

CIDADÃO: Existem casos de rejeição do implante?
BORTOLUZO: Existem. O sucesso dos implantes gira em torno de 90 a 95%. O insucesso eventual se deve a fatores externos e locais, como o caso do paciente fumante. Também a hipertensão, a osteoporose, o diabetes, podem explicar uma rejeição. Esses fatores subjetivos do paciente devem ser analisados, mas isso não significa que, no caso deles, o implante é contra-indicado.
CIDADÃO: Há algum caso em que o paciente não pode receber o implante?
BORTOLUZO: Se ele tiver osso capaz de receber o implante, não. A decisão de realizar o implante só acontece, evidentemente, se houver área para recebê-lo. Mesmo em locais onde não há osso, é possível recorrer à técnica do enxerto, para aumentar a quantidade óssea. Hoje, há vários tipos de enxerto. O mais indicado é o autógeno, agregado com biomaterial. O autógeno, como o nome diz, é doado pela própria pessoa, e pode ser intra-oral ou extra-oral. Neste último caso, a área doadora pode estar na calota craniana ou na bacia. Essas técnicas podem se agregar à prática da implantodontia.

CIDADÃO: Qual é a durabilidade média de um implante dentário?
BORTOLUZO: Como se trata de uma especialidade ainda muito nova, em termos de ciência – ela se desenvolveu nos anos 70, através principalmente dos estudos do Branemark, tido como o precursor da implantodontia na odontologia. Na realidade, o Branemark era um ortopedista, que desenvolveu trabalhos em mutilados – cidadãos que tiveram câncer de face, perda acidental de mandíbula, da parte auricular, casos assim. Ele desenvolveu próteses de plástico e silicone, que devolviam ao paciente uma aparência mais próxima do normal. Uma empresa subsidiou as pesquisas do Branemark para que desenvolvesse a parte bucal. Essa empresa é a sueca Biocare. O cientista desenvolveu aquilo que pode ser chamado de pontapé inicial do implante. Mas, voltando à questão da durabilidade, as estimativas são em torno de 10 a 15 anos. Pode durar mais, se houver um planejamento. Como em tudo na vida, o planejamento é fundamental. Se você faz uma anamnese bem feita, analisando os fatores de risco, ou as hipóteses de insucesso; se você realiza exames complementares – tomografia bem-feita, boa análise intra-oral do indivíduo, sistema de oclusão, posicionamento dos dentes, distribuição de força de mastigação – enfim, se você realiza esse estudo detalhado, diminui muito os índices e probabilidades de insucesso.

CIDADÃO: Há perspectivas de que, no futuro, o custo dos implantes seja mais acessível?
BORTOLUZO: Já caiu muito. Primeiro, que só havia material importado. Como a demanda cresceu, no mundo inteiro, apareceram mais fabricantes, tanto de boa quanto de má qualidade. O número de profissionais também aumentou. Na realidade, o custo já diminuiu, mas não há como chegar a valores muito baixos, porque é uma técnica de alto custo operacional, de grande responsabilidade, o que agrega valor final ao trabalho.
CIDADÃO: No Brasil já existem similares do produto importado?
BORTOLUZO: Sim. O que diferencia é a pesquisa. Os importados ainda são melhores quanto à precisão e outros fatores. O que é a coqueluche nas pesquisas, hoje, é a diminuição do tempo da ósteo-integração. A briga tecnológica foi em cima desse tratamento de superfície. Antigamente, colocava-se um implante, fechava-se, esperava-se seis meses, abria-se e aí sim era feita a prova. Hoje, dependendo da indicação, o paciente pode sair com o dente no mesmo dia. Como se trata praticamente de uma novidade, vários paradigmas e protocolos vão aos poucos caindo por terra. Aqueles seis meses, por exemplo, já caíram para quatro. Há muitos aspectos técnicos nisso tudo. Por exemplo: geralmente, a qualidade óssea da mandíbula é melhor do que a da maxila, que é a parte superior. Esta é mais “esponjosa”. Assim, a fixação de um parafuso, evidentemente, se dá melhor no osso da mandíbula.

CIDADÃO: Por acaso há alguma diferença na “qualidade” óssea em virtude do sexo do paciente?
BORTOLUZO: Não. A mulher realmente tem maior propensão à osteoporose; mas o que é preciso fazer é considerar o caso individualmente, ou seja, se aquela paciente mulher sofre desse mal. É como disse: em cada caso, é preciso fazer análise e planejamento, considerando todos os fatores.