Entrevistado esta semana por Observatório, o cirurgião-dentista Paulo Henrique Bortoluzo especialista em Implantodontia e possuidor de título de Mestrado em Periodontia vê no campo dos implantes dentários um amplo caminho aberto na luta pela recuperação da saúde bucal. Formado pela Universidade de Ribeirão Preto, esse jovem fernandopolense, filho de Dayse Liney Malavazi Bortoluzo e Mário Bortoluzo, casado com Paula e pai de Clara e Henrique, explicou alguns detalhes da técnica, desenvolvida a partir de pesquisas realizadas na década de 70.
CIDADÃO: Quais são as vantagens do implante em relação às próteses dentárias?
BORTOLUZO: Acho que não se pode pensar em termos de vantagens. É uma especialidade que veio para agregar. Temos que pensar no implante a partir do momento em que o paciente teve a perda do elemento dental; o implante, nesse caso, irá substituí-lo. Mas, se o paciente conservou a raiz, o dentista a aproveitará. Quer dizer, a técnica de implante veio agregar recursos para o tratamento de pacientes que, por acidente ou pelo desgaste natural, acabaram perdendo o elemento dental, seria uma terceira dentição. A vantagem, para os pacientes que tiveram essa perda total, e usam, por exemplo, prótese total removível, é que o implante dá estabilidade, firmeza na mastigação, além de ganhos estéticos que consequentemente inferem na auto-estima.
CIDADÃO: O que é cirurgia guiada?
BORTOLUZO: É uma cirurgia antecedida por um planejamento reverso, ou seja, começa no computador, onde se estuda a prótese que será colocada. Essas informações são inseridas no computador, que produzirá um guia cirúrgico, contendo a direção, a angulação, o local exato onde os implantes deverão ser colocados. O cirurgião entra na cirurgia praticamente com a prótese pronta, e essa técnica reduz a morbidade cirúrgica quase ao índice zero. Quase não há cortes. Imagine uma artroscopia de joelho, onde se faz dois furos, em vez de abrir o joelho, como antigamente. É feita uma tomografia do paciente do implante, que informa altura, largura e profundidade do osso. Medidas exatas. Isso orienta onde e quanto o cirurgião deve furar. As mandíbulas têm acidentes anatômicos e áreas anatômicas nobres, por onde passam condutos vasculares e nervosos. É preciso fazer um estudo completo do quadro. Antigamente, eram feitas panorâmicas, que davam uma visão dimensional. Você só tinha as informações de largura e altura. Com a tomografia, o cirurgião dispõe da visão de profundidade com precisão. O raio X tem uma distorção de 25%; a tomografia tem fidelidade real. Em cima dessas informações o computador confecciona o modelo do guia de resina que orientará o caminho da broca comprimento, angulação, profundidade. Essa guia é acoplada ao paciente e os furos são feitos de acordo com a guia. Pelo método tradicional, o cirurgião faz uma incisão grande, para ver a realidade do arcabouço ósseo. Na cirurgia guiada, isso não é necessário.
CIDADÃO: Existem casos de rejeição do implante?
BORTOLUZO: Existem. O sucesso dos implantes gira em torno de 90 a 95%. O insucesso eventual se deve a fatores externos e locais, como o caso do paciente fumante. Também a hipertensão, a osteoporose, o diabetes, podem explicar uma rejeição. Esses fatores subjetivos do paciente devem ser analisados, mas isso não significa que, no caso deles, o implante é contra-indicado.
CIDADÃO: Há algum caso em que o paciente não pode receber o implante?
BORTOLUZO: Se ele tiver osso capaz de receber o implante, não. A decisão de realizar o implante só acontece, evidentemente, se houver área para recebê-lo. Mesmo em locais onde não há osso, é possível recorrer à técnica do enxerto, para aumentar a quantidade óssea. Hoje, há vários tipos de enxerto. O mais indicado é o autógeno, agregado com biomaterial. O autógeno, como o nome diz, é doado pela própria pessoa, e pode ser intra-oral ou extra-oral. Neste último caso, a área doadora pode estar na calota craniana ou na bacia. Essas técnicas podem se agregar à prática da implantodontia.
CIDADÃO: Qual é a durabilidade média de um implante dentário?
BORTOLUZO: Como se trata de uma especialidade ainda muito nova, em termos de ciência ela se desenvolveu nos anos 70, através principalmente dos estudos do Branemark, tido como o precursor da implantodontia na odontologia. Na realidade, o Branemark era um ortopedista, que desenvolveu trabalhos em mutilados cidadãos que tiveram câncer de face, perda acidental de mandíbula, da parte auricular, casos assim. Ele desenvolveu próteses de plástico e silicone, que devolviam ao paciente uma aparência mais próxima do normal. Uma empresa subsidiou as pesquisas do Branemark para que desenvolvesse a parte bucal. Essa empresa é a sueca Biocare. O cientista desenvolveu aquilo que pode ser chamado de pontapé inicial do implante. Mas, voltando à questão da durabilidade, as estimativas são em torno de 10 a 15 anos. Pode durar mais, se houver um planejamento. Como em tudo na vida, o planejamento é fundamental. Se você faz uma anamnese bem feita, analisando os fatores de risco, ou as hipóteses de insucesso; se você realiza exames complementares tomografia bem-feita, boa análise intra-oral do indivíduo, sistema de oclusão, posicionamento dos dentes, distribuição de força de mastigação enfim, se você realiza esse estudo detalhado, diminui muito os índices e probabilidades de insucesso.
CIDADÃO: Há perspectivas de que, no futuro, o custo dos implantes seja mais acessível?
BORTOLUZO: Já caiu muito. Primeiro, que só havia material importado. Como a demanda cresceu, no mundo inteiro, apareceram mais fabricantes, tanto de boa quanto de má qualidade. O número de profissionais também aumentou. Na realidade, o custo já diminuiu, mas não há como chegar a valores muito baixos, porque é uma técnica de alto custo operacional, de grande responsabilidade, o que agrega valor final ao trabalho.
CIDADÃO: No Brasil já existem similares do produto importado?
BORTOLUZO: Sim. O que diferencia é a pesquisa. Os importados ainda são melhores quanto à precisão e outros fatores. O que é a coqueluche nas pesquisas, hoje, é a diminuição do tempo da ósteo-integração. A briga tecnológica foi em cima desse tratamento de superfície. Antigamente, colocava-se um implante, fechava-se, esperava-se seis meses, abria-se e aí sim era feita a prova. Hoje, dependendo da indicação, o paciente pode sair com o dente no mesmo dia. Como se trata praticamente de uma novidade, vários paradigmas e protocolos vão aos poucos caindo por terra. Aqueles seis meses, por exemplo, já caíram para quatro. Há muitos aspectos técnicos nisso tudo. Por exemplo: geralmente, a qualidade óssea da mandíbula é melhor do que a da maxila, que é a parte superior. Esta é mais esponjosa. Assim, a fixação de um parafuso, evidentemente, se dá melhor no osso da mandíbula.
CIDADÃO: Por acaso há alguma diferença na qualidade óssea em virtude do sexo do paciente?
BORTOLUZO: Não. A mulher realmente tem maior propensão à osteoporose; mas o que é preciso fazer é considerar o caso individualmente, ou seja, se aquela paciente mulher sofre desse mal. É como disse: em cada caso, é preciso fazer análise e planejamento, considerando todos os fatores.