Warley conta tudo

20 de Agosto de 2025

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Warley conta tudo
O ex-vereador Warley Luis Campanha de Araujo, depois de 85 dias de prisão preventiva decretada pela Justiça, da cassação por unanimidade que lhe foi imposta pelos demais vereadores no dia 16 e da acusação de crime de concussão contra o assessor jurídico Ricardo Franco de Almeida, foi libertado por ordem do juiz Evandro Pelarin, da 1ª Vara Criminal da Comarca, logo após a audiência de instrução do processo-crime.

Na manhã de sexta-feira, 30 - coincidentemente, dia de seu aniversário - Warley recebeu a reportagem de CIDADÃO para entrevista exclusiva em sua casa, onde estava rodeado pela família. O ex-vereador falou do inferno astral que viveu nos últimos tempos e confessou: teme por sua própria vida. Leia a entrevista na íntegra:

“Temo pela minha vida”, diz ex-vereador


Certamente, foram os 85 dias mais terríveis da sua vida, não?
Com certeza, eu jamais esquecerei esse episódio que aconteceu na minha vida, mas o destino, infelizmente, quis que eu passasse por isso. Graças a Deus, parece que pelo menos essa fase está superada.

Quando você estava em Estrela D’Oeste, qual era o pensamento mais recorrente?
O pensamento diário, de todas as horas, era na minha família – meus filhos, minha esposa, meus pais. Foi-me cerceado o direito de convivência com eles. Comentei com o Dr. Welson, meu advogado – a quem, de público, quero agradecer e cumprimentar pelo brilhante trabalho – que me tiraram o direito de contato com a família e o direito de trabalhar. Tenho compromissos, deixei de ter renda nesse período em que fiquei detido. Tenho quatro filhos: Lara, Vinicius, Enzo e Nicole. Achei muito rude o que foi feito comigo.


Como foi o reencontro?

Maravilhoso. Ficamos todos emocionados. Meu filho foi me buscar em Estrela D’Oeste. Nós nos abraçamos muito.

Você estava tenso antes da audiência?
Minha preocupação sempre foi a minha família, o seu bem-estar. Fui tranquilo. Na verdade, o momento de maior apreensão foi no dia da prisão, porque fui abordado com um revólver 38 na cabeça, tive que ficar aguardando a chegada do promotor, e sequer sabia o que estava acontecendo. O comandante da polícia, ali na hora, me disse para ligar para um advogado. Eu liguei três ou quatro vezes e não consegui falar – na verdade, estava ligando justamente para o Ricardo Franco, advogado da Câmara. Só posteriormente vim a saber que ele é que fizera a denúncia.

Até aquele momento, no dia 6 de agosto, você não sabia da denúncia?
Não. Ao chegar ao 1º DP, naquele dia, falei com os jornalistas e disse que não sabia nem o motivo, nem quem me acusava. Só depois me disseram que o acusador era o Ricardo Franco e a acusação era de concussão.

Em sua opinião, por que o Dr. Ricardo teve essa atitude?
O Dr. Welson me perguntou isso várias vezes, porque havia comentários na cidade de que eu saberia de coisas que podem trazer problemas para alguém. Eu desconheço, não sei se acham que eu estou escondendo algo ou talvez, que eu no futuro serei empecilho para alguma coisa que venha a ocorrer. Prefiro entrar nesse raciocínio.

Em síntese: acham que você sabe demais. É isso? Afinal, há alguma coisa que você sabe que pode prejudicar alguma pessoa ou grupo político?
É a única possibilidade que vejo, não há outra.

Por que aquele encontro filmado pelo Dr. Ricardo aconteceu na prefeitura?
Essa pergunta teria que ser feita ao Dr. Ricardo Franco. Na primeira declaração que ele deu, disse que fui eu que marquei o encontro na prefeitura. Se eu estivesse realmente fazendo uma extorsão, jamais iria escolher a prefeitura. Inclusive, na gravação há uma fala dele com uma funcionária da administração, perguntando onde havia uma sala que ele pudesse utilizar. Ora, como é que fui eu que chamei, se ele é que escolheu o lugar para conversarmos? Isso está gravado, tanto o pedido de utilização da sala quanto o pedido para que me chamassem até lá.

Como foram os seus dias na cadeia de Estrela D’Oeste? Os cinco presos que fugiram no dia 24 realmente o agrediram e ao “Gorila”?
Eu não fui agredido. Fiquei num quartinho chamado “solitária”, um banheirinho, onde me deixaram por umas quatro ou cinco horas. Fiquei preso ali pelos fugitivos, mas eles não me agrediram. O “faxina”, que é o “Gorila”, ficou amarrado num setor longe de mim. Onde eu estava, não tinha visibilidade nenhuma. Foi o “Gorila” quem me soltou, e vi em suas mãos as marcas das amarras. Estranhamente, o carcereiro me contou que, depois do ocorrido, pessoas da imprensa ligaram lá na cadeia, procurando saber como as coisas tinham acontecido “e se o vereador estava envolvido”. Fizeram mesmo insinuações de que eu teria ensaiado essa fuga, ou coisa parecida. Soube que num site da cidade escreveram isso, e que eu estaria fazendo isso para ser transferido para Fernandópolis! Ora, eles se esquecem que em Fernandópolis não existe mais cadeia e que o único vereador que estava empenhado em reativar a cadeia pública era eu.

Você acha que, no episódio de sua cassação, houve excesso ou precipitação de seus colegas?
Essa pergunta é muito complicada. Fiquei sabendo que um promotor deu entrevista dizendo que os vereadores que porventura votassem pela minha permanência seriam considerados coniventes. Esse é o primeiro ponto. Segundo: tenho conhecimento de que o promotor compareceu à sessão em que me cassaram. Acho estranho isso. Ele não deveria estar ali. Terceiro ponto: a nobre vereadora Candinha, pessoa de quem eu gosto muito, abriu sua votação dizendo que naquele dia lera na Bíblia – e eu acredito que isso tenha acontecido, porque ela é muito católica – uma passagem sobre julgar e ser julgado; e que ninguém tem esse poder, que compete a Deus. Em seguida, votou favoravelmente à cassação. Depois de ter sido ouvido na CPI, ocasião em que os vereadores mostraram simpatia e confiança em minha pessoa, e depois ser cassado com uma votação unânime, fico pensando: será que não houve alguma pressão externa? Isso fica no ar, não posso acusar ninguém. Ontem (quinta-feira), quando fui ouvido, deixei claro que atualmente temo até pela minha própria vida. Não sei quais são os interesses escusos que possam existir.

Você sente medo?
Com certeza. Fui acusado por uma pessoa que já teve diversos processos, que não tem amigos nem recebe elogios; que já foi condenada por falsidade ideológica. Essa pessoa, no mínimo, tem que ter as acusações que faz vistas com muita cautela. Todas as testemunhas de acusação que compareceram ao Fórum disseram que jamais viram qualquer ato condenável da minha parte, que apenas “ouviram o Dr. Ricardo dizer”. Ninguém presenciou nada. Moro em Fernandópolis desde 1972, resido na mesma casa há 30 anos, tenho família e trabalho na Previdência Social há 26 anos e meio. No mínimo, acho que não precisava ter passado por uma ação tão rigorosa como passei. Poderia responder em liberdade, e o faria da forma que fosse determinada, respeitando as determinações do juiz. Fiquei 85 dias privado da minha liberdade e de buscar o meu ganha-pão.

Você chegou a ver a fita?
Parece brincadeira – e espero que se dê ênfase a esta resposta: Eu vi a fita, sim. Foi ontem, quando o meu advogado pediu que o Dr. Evandro (Pelarin) me mostrasse a fita. E vendo-a, ali, na sala de audiência, junto com o próprio promotor, eu não vi nada que me desabonasse. Ele vai lá, realmente faz um cheque de R$ 1 mil, pede que eu segure o cheque, que era pré-datado, eu respondi que tinha palavra, e que não poria o cheque antes, o que provou que ali ele estava pagando uma dívida dele, além de deixar claro que essa dívida ainda não foi totalmente quitada: ele ainda me deve R$ 100, dos R$ 2,2 mil que ele me tomou emprestado. Digo outra coisa: se o intuito era confirmar que ele estava me pagando com cheque, ninguém faria uma extorsão recebendo de 60 em 60 dias, nem falaria que vai cobrar o juro pela demora do pagamento. E, se ele fala que eu recebi o cheque, no mínimo teria que sustá-lo. Por que o cheque foi compensado? Ora, porque ele sabe que me devia!

O que você pretende daqui para frente?
(Warley se emociona e chora): Primeiro, matar a saudade da minha família. Depois, viver tranquilamente e de cabeça erguida, voltar à minha vida normal, seguir a vida confiando em Deus.

Depois da audiência de ontem, você sentiu que as coisas estão melhorando? Está otimista em relação à sua absolvição?
Eu nunca tive dúvida da minha inocência. Sempre estive tranqüilo em relação a isso, apenas me preocupava com o encaminhamento do processo, estava tudo pesado demais. Não sou um bandido, que merecesse estar no meio de gente perigosa, que inclusive me fez de refém numa fuga. Hoje, temo pela minha vida, não sei quem pode estar por trás de tudo isso, quais são os interesses nisso tudo. Minha vida correu risco, esse é o medo. É um receio que tenho, porque realmente não consigo entender o que há por trás de todo esse pesadelo.

Há algo que você queira dizer à comunidade de Fernandópolis?
Sim. Quero agradecer de coração aos meus familiares, aos meus verdadeiros amigos, àqueles que me visitaram quando estava detido, e também pelos vários telefonemas que recebemos ontem e hoje, de amigos manifestando confiança, dos recados que recebi na cadeia. Quero deixar bem claro: não devo, nunca participei de nada contra o Sr. Ricardo Franco nem contra ninguém. Graças a Deus sempre tive família, meus pais me ensinaram o certo e o errado. Não tenho nada contra os nove vereadores que votaram contra mim, imagino que eles sofreram uma pressão muito grande. Quero registrar uma frase do presidente da Comissão de Ética, que disse que eles não queriam holofotes, achei isso interessante. E agradecer, dizer que estou tranqüilo, que esse episódio me fez voltar a conversar com Deus e a valorizar coisas que, quando se está em liberdade, passam despercebidas. Voltei a ler a Bíblia, isso é maravilhoso.