No paraíso da melhor idade

20 de Agosto de 2025

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No paraíso da melhor idade
Maria Aparecida Ramos, aos 77 anos, afirma estar no “paraíso da melhor idade”. Ela é um dos membros assíduos da Universidade Aberta à Terceira Idade (Unati) de Fernandópolis. Costura, faz artesanato, assiste às palestras sobre atualidades, participa das terapias ocupacionais, aproveita de tudo. E para não perder as datas e horários das atividades, traz folhetos da Unati para casa, que é para não ficar de fora de nenhuma delas. Apesar de ter levado uma vida bastante sofrida e ter perdido o filho há cerca de 60 dias e o marido há oito anos, depressão, nervosismo e solidão não encontram espaços na sua vida. Hoje, Cida – como é apelidada - realiza algo que sempre teve em mente: ter uma vida ativa ao se aposentar.

Após a morte do filho - que morreu de infarto fulminante aos 48 anos de idade - foi entre as amigas que fez na Unati que encontrou forças para prosseguir. “Somos uma família. Acredito que todas as pessoas que têm depressão, nervosismo se unissem a nós, com certeza sarariam. Há uma troca de experiências que faz com que a gente passe a ver o mundo de outro jeito”, afirmou.

Quem a ouve falar da vida percebe quão elevada é sua autoestima, mas não imagina tudo o que já enfrentou na vida.

Maria nasceu em uma família cujo pai era alcoólatra e não conseguia emprego para sustentar os cinco filhos e a mulher. Quando Cida tinha dez anos de idade, sua mãe – que sempre teve boa saúde, em 12 dias adoeceu e morreu de cólera. Logo após sua morte, cinco tios pegaram as crianças para cuidar. Cada um foi para um lado. Maria, que morava em Votuporanga, passou a viver em Álvares Florence; mas acabou voltando a morar com o pai depois que este, algum tempo depois, se restabelecera.

Aos 14 anos, em um dia de finados, Cida estava visitando o túmulo da mãe quando se deparou com um moço mais velho, moreno de olhos verdes, por quem ficara encantada. Bastou uma simples troca de olhares para que ela não mais esquecesse aquele rosto. Três meses depois acabou encontrando com o mesmo rapaz na casa de um tio e descobrindo que ele era muito amigo de sua família. Só então tiveram oportunidade e coragem de trocar as primeiras palavras. Com uma forcinha da família e de amigos, em pouco tempo estavam casados. Aliás, bem pouco tempo. Em 7 de junho do ano seguinte, Cida e Manoel se casaram e vieram morar em Fernandópolis.

Seis meses depois que estavam juntos, ele adoeceu e nunca mais foi o mesmo. Ao longo desses anos foram muitos os problemas de saúde, entre eles, chagas, dois infartos, três derrames, 18 cirurgias do intestino, entre outros. Um episódio que Maria não esquece, foi o dia em que ele teve um derrame cerebral enquanto dirigia e levou os dois para dentro de uma enorme cratera.

“O carro capotou várias vezes até cair naquela enorme cratera. A sorte é que estávamos com um carro maior naquele dia, pois se tivéssemos com o Fusca que tínhamos, teríamos caído de vez. Com o impacto, quebrei o braço e a perna. Para conseguir sair tive que quebrar o vidro do carro e puxar o Manoel com apenas um braço para fora do carro, subir o barranco - que toda hora eu escorregava devido à chuva - e arrastá-lo no meio do mato. Até que consegui a ajuda de um desconhecido que passou com uma caminhonete. Até hoje me pergunto como conseguimos sair de lá, pois se nem a polícia conseguiu achar o carro, tamanha era a cratera”, afirmou Maria.

Foi por ver o marido passando por tantos problemas de saúde que Cida resolveu fazer um curso e ingressar na primeira turma de Auxiliar de Enfermagem que a Fundação Educação de Fernandópolis (FEF) formava naquele ano. Nessa época, ela já não morava mais em Fernandópolis, mas em São João das Duas Pontes. A partir daí, sua rotina mudou muito. Tinha que levantar às 5h, pois entrava no trabalho às 7h. Nas duas horas de almoço aproveitava para deixar a casa em ordem. Às 17h saía do trabalho e às 19h tinha que estar na FEF. Voltava para casa só à meia-noite.

Como seu trabalho era próximo de sua casa, tinha a oportunidade de ver se seu marido – que estava acamado e já não conseguia andar - precisava de algo. Com orgulho conseguiu se formar, mas seu marido acabou falecendo em 2001. Apesar de ter uma história de vida triste, não deixou que nada disso a abatesse; pelo contrário, ela estimula os outros a que lutem pela vida, com muita garra, alegria e simpatia, como tem feito.