Para se formar em Medicina, Orlando Cândido Rosa teve que enfrentar sozinho muitas dificuldades, bem longe da família. Sua profissão, ele a escolhera aos dez anos de idade, enquanto trabalhava na farmácia de um dos seus irmãos em Votuporanga. Aos 18, deixou tudo para trás ao ser chamado para servir ao exército em Brasília. Acabou sendo dispensado por excesso de contingente e permaneceu por lá para fazer cursinho.
Chegou a prestar vestibular de Medicina na Universidade de Brasília (UNB), mas ficou como excedente. Novamente prestou exames, desta vez em Mogi das Cruzes, passou, mudou-se para lá e começou o curso. Por sorte, conseguiu um emprego em uma farmácia, mas acabou não aguentando a vida puxada, pois trabalhava das 19h às 4h e às 7h30 tinha que estar na faculdade, onde passava o dia todo.
Quando achava que seu sonho chegara ao fim, um amigo que cursava o primeiro semestre de Medicina em uma faculdade Federal em Manaus (AM) conseguiu sua transferência para lá. Para se sustentar, começou a dar aulas de Ciência Físicas e Biológicas fora do horário de aulas.
Passados dois anos, Orlando e um grupo de sete alunos resolveu criar uma banda universitária. Ele cuidava da parte empresarial, enquanto os colegas embalavam a noite da moçada. Orlando conta que durante esse período que ficou fora de casa nunca mais voltou para ver os familiares.
Cheguei a ficar dois anos sem vir para casa e minha mãe que tinha um apego muito grande por mim, o caçula ficou doente por isso. Depois, consegui parcelar uma viagem de avião em 12 vezes e vir. Quando retornei para Manaus, daí a 15 dias meu pai faleceu, vítima de um derrame cerebral. Eu não tinha mais dinheiro para outra passagem, então, meus amigos pagaram e pude chegar antes do enterro, disse.
As dificuldades e saudades de casa o fizeram molhar muitas fronhas de travesseiros, mas Orlando venceu. Em 1973, quando se formou, começou uma nova etapa de sua vida: não queria voltar para casa sem dinheiro. Para tanto, aceitou uma oferta de emprego na Transamazônica, a faraônica estrada aberta pelo governo militar no coração da selva tropical.
Trabalhou seis meses numa empresa e foi transferido para outra para iniciar a Rodovia Perimetral Norte. Ali pôde conhecer a cultura indígena, bem como o sofrimento dos povos ribeirinhos. Pude ajudar, com assistência médica, índios que começavam a ser aculturados. Às margens do rio construímos um ambulatório, em plena selva amazônica, onde dezenas de trabalhadores eram acometidos de doenças tropicais, como malária, febre amarela, leishmaniose. Prestar socorro lá era muito difícil, pois chovia muito. Tinha muitos pântanos, igarapés, mas mesmo assim aceitei trabalhar ali, não só pelo dinheiro, mas eu também queria retribuir para o povo amazonense o que havia recebido.
Ao todo, Orlando ficou sete anos em Manaus. Em 1975, veio para junto dos seus familiares em Votuporanga. Certo dia, visitou o irmão Milton, dono de uma farmácia na Brasilândia, em Fernandópolis, e acabou conhecendo o médico João Carvalho que faleceu no último dia 30. João o convidou para trabalhar no Hospital das Clínicas e ele, então, passou a morar na cidade. Um ano depois, abriu seu consultório, começou a fazer parte do corpo clínico da Santa Casa e foi também um dos médicos fundadores da Unimed. Em 1976, casou-se, Salete Maria Novaes Rosa, e tiveram três filhos: Orlando Filho, 28, Amanda, 24, e Ricardo, 23.
Hoje, com 35 anos de profissão, Orlando reconhece que tudo foi possível somente por intermédio de Deus e aconselha ao filho de 28 anos que se forma em Medicina este ano a jamais se esquecer também. Se hoje sou médico é graças à vontade de Deus, por isso procuro a cada dia honrá-Lo. O que eu mais converso com meu filho mais velho é o seguinte: em primeiro lugar, que esteja sempre ao lado de Deus e que faça uma medicina humanitária, tratando os pacientes com dignidade e respeito, porque é assim que eles merecem, concluiu Orlando.