MST monta acampamento e quer ocupar fazenda de Macedônia

20 de Agosto de 2025

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MST monta acampamento e quer ocupar fazenda de Macedônia
Um grupo composto por cerca de 60 famílias de militantes do MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – está desde o último sábado, 3, acampado à margem da estrada municipal que liga Macedônia a Indiaporã. As duas cidades pertencem à Comarca de Fernandópolis.

Os manifestantes se fixaram em frente à “Fazenda Barra V”, de 1100 hectares, considerada improdutiva pelo INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária. Segundo eles, a fazenda comportaria o assentamento de 80 famílias – o MST quer abrir espaço para dez famílias de Macedônia e dez de Indiaporã, “além dos empregados da propriedade que tiverem interesse em obter uma gleba”, segundo o militante Roberto D’Ângelo, de 45 anos, há um ano participando do movimento.

D’Ângelo, que é de Araçatuba e sempre morou no campo, explicou que algumas das famílias do grupo ainda não chegaram “por causa do calendário escolar”. Ele informou que, quando terminar o ano letivo dos filhos dos militantes, todos virão para o novo acampamento e serão matriculados em escolas de Macedônia ou Indiaporã, para prosseguirem os estudos em 2010.


HOMENAGEM

O novo local foi batizado como “Acampamento Maria Cícera Neves”, em homenagem a uma militante que morreu atropelada no início do ano numa estrada entre Campinas e Jundiaí, durante passeata dos Sem-terra.

O grupo veio da região de Araçatuba, onde vivia no “Acampamento Palmares”. A decisão de tentar ocupar a “Barra V" foi tomada assim que o INCRA decretou a improdutividade. Segundo eles, atualmente a propriedade está arrendada para pecuária extensiva.

Entretanto, nenhuma rês podia ser vista no pasto, na tarde de quarta-feira, 7. O acampamento fica a 15 km do centro de Macedônia, e a seis de Indiaporã. Os Sem-terra asseguram que 30% das terras da fazenda estão neste último município; o restante, em terras de Macedônia.

De acordo com os registros imobiliários, a fazenda pertenceu ao empresário Norberto Buzzini, de São José do Rio Preto. Tempos atrás, ele fez doação das terras aos netos. Ninguém da família se manifestou publicamente sobre a questão.


O LÍDER

“Eu nasci na luta”, afirma Jonas da Silva, 31, que chegou ao MST pelas mãos dos pais, em 1989. Na época, era um garoto de 11 anos de idade. “Ocupamos a Fazenda Pendenga, no município de Castilho. Depois, em agosto de 89, ocupamos a Fazenda Timboré. Houve tiroteio e tudo o mais. Ficamos por lá até 1993, eram 174 famílias”, diz.

Politizado, Jonas usa a linguagem típica dos militantes do movimento. Fala muito em reforma agrária e levanta a bandeira de “uma Justiça mais rápida e eficiente nas questões fundiárias”.

Jonas é respeitado pelos demais. Quando a reportagem visitava o acampamento, o proprietário da fazenda do lado oposto da estrada havia ofertado várias dúzias de melancias aos manifestantes. Quando a pick-up carregada com as frutas chegou, Jonas deu breves ordens e a distribuição foi feita de forma organizada.

Segundo o líder, o fazendeiro que deu as melancias também autorizou a coleta de água potável em suas terras, além de permitir que os Sem-terra cavem um poço, o que deverá ser feito nos próximos dias. No calor insuportável do acampamento, essa notícia foi recebida com regozijo.

Para Jonas, as coisas caminham bem. “Fomos muito bem recebidos pelas autoridades de Macedônia”, garante. Também o pessoal da Saúde de Indiaporã tratou bem os militantes. “Houve casos de insolação que foram prontamente atendidos”, revela Jonas.

No retorno a Fernandópolis, a reportagem optou pela vicinal asfaltada que liga Indiaporã a Ouroeste. Ao longo dos dez quilômetros da estrada, há dois acampamentos dos Sem-Terra – estes ligados à CUT (Central Única dos Trabalhadores).

Com menos de dois anos, esses acampamentos já se assemelham a cidades de garimpeiros. Há construções sólidas e até um centro de convivência – um grande galpão onde costumam distribuir cestas básicas.

Essa mesma solidez – no sentido de coisa duradoura – pode ser o destino do “Acampamento Maria Cícera Neves”. Como os manifestantes acamparam na estrada, e não em terras da “Barra V”, não cabe ação de esbulho possessório. Aparentemente, o novo grupo do MST chegou para ficar.