O Capitão PM Wilson Cardoso Junior tem a polícia nas veias. Filho do sargento Cardoso, de família tradicional de Fernandópolis, ele trocou um emprego no Banco do Brasil pela carreira militar. Cursou a Academia do Barro Branco, em SP, e depois de estágios na capital paulista e em Santos, voltou para a cidade onde nasceu. Casado com Eliane, pai de Luísa e Luís Fernando, formado em Direito, articulado e bem-informado, o oficial é membro integrante do CONSEG de Fernandópolis, onde articula, com os demais membros, ações que garantem sono tranqüilo à população. Um dos seus objetivos, atualmente, é fazer com que os estudantes voltem a ter respeito por diretores, professores e funcionários das escolas. Sem dúvida, um belo projeto.
CIDADÃO: Como foi que a carreira militar entrou na sua vida?
CARDOSO: Sou filho de policial militar meu pai é o sargento Cardoso, que serviu desde 1969, e fez praticamente toda sua carreira no 16º BPM-I, aposentando-se em 1996. Isso me influenciou na escolha. Fui bancário aqui em Fernandópolis e trabalhei no Banco do Brasil até 1990, quando prestei o concurso para a Academia de Polícia Militar do Barro Branco. Formei-me em 1993, tive passagens por São Paulo e Santos e em seguida vim para Fernandópolis, no ano de 1995, como subtenente.
CIDADÃO:O sr. é membro do CONSEG (Conselho Comunitário de Segurança). Poderia explicar quais são as funções desse órgão?
CARDOSO: Os Consegs foram criados em 1982, pelo governador Franco Montoro. Tratava-se de uma estratégia dos órgãos de segurança pública para incentivar a participação popular, comunitária, nos rumos da segurança pública. Trazendo a comunidade para opinar, ela repassa aos responsáveis pela segurança suas experiências, observações e sugestões. Isso ajuda a polícia a desenvolver estratégia para manter a criminalidade sob controle.
CIDADÃO: O CONSEG elege metas prioritárias? Como funciona essa ação?
CARDOSO: Definição de metas e estrutura das rotinas focadas no cumprimento dessas metas está dentro das políticas mais modernas de administração. Isso não é novidade nem nasceu com a segurança pública, e sim no meio empresarial. Há metas para serem cumpridas, e a segurança pública estabelece prioridades. No caso, o objetivo é garantir uma sociedade mais justa, com o controle dos índices criminais, o que proporciona maior sensação de segurança para a comunidade.
CIDADÃO: A qualidade de vida no interior ainda é muito melhor do que nas grandes cidades, do ponto de vista da segurança?
CARDOSO: Com certeza. É fácil detectar isso. Uma das marcas da Polícia Militar e isso faz parte da política da Secretaria da Segurança Pública é a transparência com relação aos dados quantitativos. Hoje, qualquer pessoa pode entrar no site da SSP e verificar como estão os índices de sua cidade, inclusive com análise comparada. Estudo recente apontou a nossa região como a mais tranqüila do Estado de São Paulo em matéria criminal. Apesar de alguns registros de variação num ou noutro índice, comparando-se com algumas outras cidades, nós estamos no céu.
CIDADÃO: As suas palestras sobre o problema das drogas já se tornaram conhecidas em Fernandópolis. Particularmente, o sr. vê perspectivas de que essa guerra contra a droga possa ser vencida?
CARDOSO: Esse problema não é de hoje, e não é nosso, e sim mundial. Está intimamente ligado à questão do consumo. Infelizmente, nossa política de combate à droga está tomando um caminho errado. A atual lei das drogas, a 11.343, trouxe uma medida que, em minha opinião, é ruim: o porte de drogas foi despenalizado. Isso é um convite ao consumo, que é o grande problema. Se o consumo não for freado, será difícil fazer um combate efetivo ao problema. Em curto prazo, portanto, não dá para imaginar grandes melhoras.
CIDADÃO: Outra questão preocupante em Fernandópolis tem sido o trânsito. Quais foram os resultados da recente Semana do Trânsito?
CARDOSO: A repercussão foi altamente positiva. Fernandópolis, assim como outras cidades, tem sofrido com o inchaço do número de veículos. Hoje é muito fácil adquirir um veículo, principalmente motocicleta. O que acontece é que as vias não são suficientes para absorver essa quantidade de veículos novos trafegando. Antigamente, o número de veículos de Fernandópolis dobrava a cada dez anos; agora, isso acontece em dois. Evidentemente, há o inchaço, e acontecem congestionamentos e acidentes. Temos feito campanhas de conscientização que dão bons resultados, e os índices não são preocupantes o que preocupa mesmo é o excesso de veículos.
CIDADÃO: Particularmente, qual é a sua opinião sobre o Toque de Recolher, que tem sido alvo de grandes polêmicas em todo o país?
CARDOSO: Se tem uma pessoa de quem eu sou fã incondicional, é do Dr. Evandro Pelarin. Conheço-o já de longa data, tive o prazer de tê-lo como professor no curso de Direito da Unicastelo sou da primeira turma de graduação e também da primeira de pós graduação. Já conhecia o trabalho dele na Comarca de Estrela DOeste, e damos total apoio ao Toque de Acolher. É fundamental para a segurança pública, temos estatísticas que apontam que o número de crimes envolvendo menores como autores ou vítimas diminuiu sensivelmente ao longo do período de implantação do Toque de Acolher, ou seja, desde 2005. Isso mostra que a medida que é legal do ponto de vista jurídico, é bom que isso fique bem claro, já houve manifestação do Conselho nacional de Justiça nesse sentido é fundamental para a estratégia da segurança pública. Temos ajudado e apoiado todas as operações e já se forma na sociedade uma cultura a respeito da questão do menor em situação de risco. A tendência é que mais e mais cidades aproveitem o modelo. O toque é viável, não depende de alteração de leis nem de grandes aportes financeiros. Toda e qualquer sociedade brasileira pode perfeitamente adotar a medida, por isso creio que ela vai se disseminar cada vez mais.
CIDADÃO: E a violência nas escolas? Como solucionar esse problema?
CARDOSO: Pelo que temos conversado com profissionais que militam na área da educação, e pela observação das ocorrências que atendemos, verifica-se que realmente tem aumentado a incidência desses crimes, principalmente nas escolas estaduais. Essa é uma constatação, e é outro foco pré pretendemos equacionar. Vamos discutir esse problema com as autoridades competentes, e há medidas que podem ser tomadas para sanar ou pelo menos diminuir esse problema. O CONSEG existe justamente para isso: para discutir e resolver os problemas afetos à segurança que atingem a comunidade. Recentemente, houve agressão de um aluno a um diretor de escola. Ora, tenho 36 anos de idade, concluí o segundo grau em 1990, e tenho grandes recordações de todos os professores e todos os diretores que passaram na minha vida. Havia um profundo afeto e um profundo respeito por eles. Lembro-me da dona Áurea, do professor Jesus Meleiro, já falecido, da dona Sibéria, que hoje atua no COC, da dona Wandalice...se for nominar os professores cometerei alguma injustiça, porque posso esquecer um nome ou outro, mas até hoje tenho um carinho enorme por todos eles. Naquela época, se um aluno levantasse a voz para o professor, sabia que suspensão era pouco. Nós respeitávamos os professores, os inspetores de alunos, os funcionários. Minha tia Nicinha até há poucos dias era inspetora aqui no JAP. Tinha-se grande respeito, o que parece estar desaparecendo. A autoridade dentro da escola está se perdendo, não sei o que está acontecendo com a sociedade. De todo modo, esse fenômeno é deletério, é altamente prejudicial e tenho receio do que acontecerá com a sociedade quando esses jovens sem referência de respeito e hierarquia se tornarem adultos. Precisamos debater isso, e o CONSEG está de portas abertas também àqueles que militam no ensino. O jovem tem que meter na cabeça que, para ser respeitado, terá primeiro que respeitar. É premissa básica, e precisamos resgatar aqueles velhos valores.
CIDADÃO: O 16º BPM-I, principalmente por causa de sua imensa área de atuação, tem grande responsabilidade na segurança do noroeste paulista. As estatísticas recentes têm apresentado bons resultados?
CARDOSO: Olhe, tenho acompanhado principalmente as estatísticas da 1º Cia., que é onde a gente trabalha, e que responde por doze municípios da região. Encontramos algumas cidades onde os índices estão aumentando, mas em linha geral o crime violento, graças a Deus, praticamente não existe na nossa região, e vamos lutar para que continue assim. O que tem aumentado são os furtos, em algumas cidades. Fernandópolis é uma delas. No momento, o furto é o crime que mais nos tem dado dores de cabeça, em termos de segurança pública. Como já disse, esses dados podem ser facilmente acompanhados pela população via Internet. Além disso, nós estamos abertos para críticas e sugestões. Tudo o que a população nos trouxer para auxiliar no combate à criminalidade será bem vindo.