Logo que venceu as eleições de 2008, Luiz Vilar telefonou para Iraci Pinoti e a intimou: Quero você na Diretoria de Cultura. Ninguém do grupo político do prefeito eleito reclamou. Todos sabiam da competência da experiente agitadora cultural. De volta de Rio Preto, Iraci reassumiu o posto que havia exercido na primeira administração de Vilar (1993-1996) e na de Armando Farinazzo (1997-2000). Tranquila, ela vai aos poucos dando a forma que deseja à diretoria, e tem grande expectativa de poder realizar, a partir de 2010, vários projetos importantes no setor tanto os novos quanto aqueles que, por uma razão ou outra, ela não pôde concretizar em épocas passadas.
CIDADÃO: Você teve outras experiências à frente da Diretoria da Cultura de Fernandópolis. Qual é o grande desafio desta vez?
IRACI: É claro que ficaram algumas frustrações do passado coisas que não consegui concretizar. Nem tudo que a gente sonha consegue executar. Eu defendo a bandeira da cultura intransigentemente, e quando saí, havia um pouco de cansaço, evidentemente, mas também certa frustração pelo que não foi feito. Agora é a oportunidade de tentar colocar em prática esses projetos.
CIDADÃO: Como foi que esse tipo de atividade entrou na sua vida?
IRACI: Vim parar nesta área na época em que a Sirlei Silvares era secretária de Educação e Cultura, mais ou menos em 1986, quando os projetos que vinham da Secretaria de Estado da Cultura vinham para Fernandópolis acabavam caindo na minha mão eu era chefe administrativo na Copave, e desde aquele tempo me envolvi num trabalho voluntário na Cultura. Em muitas reuniões em São Paulo de interesse da pasta fui eu, e não alguém da Cultura, que representou Fernandópolis. Recepcionava artistas na rodoviária, levava para os restaurantes, cuidava da parte logística de algum evento... Acabei naturalmente me envolvendo com isso. A partir daí, participei ativamente nos grupos de teatro amador da cidade, entrei para o grupo Filhos da Terra, e fui parar na prefeitura.
CIDADÃO: De alguma forma, o crescimento do corpo discente do ensino superior de Fernandópolis contribui para a implementação dos projetos culturais?
IRACI: Deveria contribuir, mas percebo que hoje a gente realiza projetos da Secretaria de Estado, como o Mapa Cultural Paulista, e há pouca participação dos estudantes locais. Enquanto isso, os prefeitos das cidades menores da região põem a rapaziada nos ônibus e mandam para cá. Então, está acontecendo o seguinte fenômeno: nossas promoções têm beneficiado mais ao pessoal da região do que ao de Fernandópolis. Com tanto jovem, temos que ter um projeto para atendê-los, mas sinto que por enquanto não estamos chegando nas faculdades. Sinceramente, eu sinto isso. Por exemplo: sábado passado, no espetáculo teatral que tivemos aqui, havia mais gente de Ouroeste, São João das Duas Pontes e outras cidades do que de Fernandópolis. É preciso detectar as razões disso.
CIDADÃO: Você chegou a ter fama de dar prioridade ao teatro. Isso tem algum fundo de verdade? Por quê?
IRACI: Não tem nada a ver, houve uma confusão e me rotularam como pessoa do teatro. Acontece que a administração do Armando Farinazzo teve muitos problemas por conta dos precatórios. A gente não dispunha de um único centavo para realizar o que quer que fosse. Foi um período muito difícil, e o teatro estava sendo construído. Quando terminou, precisávamos equipar o teatro, não tínhamos funcionários, nem verba. Fizemos projetos para captar dinheiro para montar o teatro, colocar as poltronas, etc. Nesse período acabei aprendendo muita coisa, obrigada pela necessidade. Consegui usar o Fundo Nacional de Cultura, a Lei Rouanet, foram quatro anos muito produtivos nesse sentido. E conseguimos concluir o teatro. Como não havia condições físicas nem financeiras para acudir a todos os setores da Cultura, e nós concluímos o Teatro Municipal, ficou essa coisa de que eu priorizava o teatro. O que as pessoas não entenderam na época foi que nós precisávamos terminar o teatro, para evitar que o desuso o deteriorasse. Além do mais, os grupos teatrais vinham para cá sem cobrar cachê, apenas pela bilheteria. A gente, às vezes, conseguia lhes dar um lanche, uma refeição, só isso.
CIDADÃO: A construção do teatro municipal tornou-o uma espécie de ponto de convergência das manifestações culturais. É possível aumentar essa convergência?
IRACI: Na verdade, penso que as quatro paredes do teatro são importantes, mas é preciso pensar também num projeto itinerante, que vá à busca do povo. No plano de governo do Vilar, há um projeto chamado Arena Cultural, que vem ao encontro de uma ideia minha de circular com a Cultura nos bairros. Queremos biblioteca ambulante, artesanato, música, dança, teatro. Enfim, vamos trabalhar aqui no teatro, desenvolvendo paralelamente projetos que vão aos bairros.
CIDADÃO: Os recursos destinados à sua pasta são suficientes para executar seus projetos?
IRACI: Olha, este ano de 2009 está sendo muito complicado, porque estamos trabalhando com recursos que vêm de outra administração. Temos conversado muito no sentido de que o orçamento que nos for destinado em 2010 permita que façamos um planejamento e que efetivamente contemos com esses recursos, senão ficaremos patinando. Não dá para trabalhar com um orçamento que acabe em agosto, setembro.
CIDADÃO: Quantas pessoas compõem a sua equipe de trabalho?
IRACI: Atualmente, somos quatro pessoas eu, o Tiãozinho, o Fábio e a secretária. No teatro só há um funcionário, o Paulinho. Essas cinco pessoas administram todos os eventos.
CIDADÃO: Há algum grande projeto que você gostaria de realizar na área cultural, mas que é momentaneamente impossível?
IRACI: Gostaria de realizar tudo o que a gente imagina. Tudo o que tenho levado até o seu Luiz (Vilar), ele tem ouvido atentamente, com a maior boa vontade, não posso me queixar. Sei que este ano está corrido, mas há muita coisa em pauta que pretendemos executar. Pra falar a verdade, não vejo nada impossível (risos).
CIDADÃO: Os estudantes das faculdades locais ultimamente têm feito trabalhos sobre os movimentos culturais de Fernandópolis nos anos 70. Como você vê isso?
IRACI: Fui procurada por alguns estudantes para falar dessa época. Efetivamente, participei de muita coisa naquele período, e acho interessante que exista esse interesse dos estudantes, temos que estimular que esses universitários tenham mais intimidade com as coisas de viés cultural. Eventos como as semanas universitárias de Fernandópolis da década de 70 eram importantes porque traziam pessoas questionadoras, que nos passavam informações, naquele período pré-globalização, a que não tínhamos acesso. Pessoas pensantes, que acrescentavam muito, como o Plínio Marcos, o Fernando Morais. Eram pessoas polêmicas, cultas, e que enriqueciam nossa capacidade crítica. Interessante, naquele período nós tínhamos ídolos, não é? Essa é mais uma coisa que perdemos. Hoje, essa coisa imediatista da Internet faz com que as pessoas se fechem num mundinho virtual e medíocre. É um desafio arrancar esses jovens da frente da telinha. Sinceramente, me dá pena. Meu Deus, que projeto mágico nós poderíamos desenvolver para obter esse milagre?! Temos que pensar num modelo cultural que motive as pessoas à participação direta, interativa. Estou apostando muito numa mudança radical da política cultural do país. No plano nacional de cultura, que será votado no Congresso em 2010, estão depositadas muitas das minhas esperanças. Acredito que a Cultura, a partir daí, deverá receber o respeito que merece, inclusive no plano financeiro. Espero que todas as conferências que vêm sendo realizadas desde julho redundem nesse fortalecimento. Aproveito para convidar a todos para a conferência intermunicipal de Cultura que acontecerá aqui, dia 30 de setembro, a partir das 8h. Vamos debater tudo isso e outras questões.