Celinha Garcia, eterna Miss Fernandópolis

20 de Agosto de 2025

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Celinha Garcia, eterna Miss Fernandópolis
Poucas mulheres tiveram o privilégio de parar uma cidade inteira ao passar, mas Iraceles Garcia teve. Fernandópolis parou em 1967 quando ela foi escolhida pelos Diários e Emissoras Associados - o sexto maior conglomerado de empresas de mídia do Brasil – para participar de um concurso que elegeria a Miss São Paulo. Celinha, como é mais conhecida, ficou entre as semifinalistas e foi eleita a miss simpatia. Quando retornou para casa, foi recepcionada com faixas e cartazes pelos munícipes que, orgulhosos, manifestavam sua satisfação. Apesar do glamour da conquista, Celinha levava uma vida simples. Chegou a nascer em berço de ouro, mas o pai perdera tudo o que possuía através de uma sociedade empresarial que não teve muito êxito. Sua beleza sempre despertou o interesse de muitas pessoas que acabavam, por vezes, se esquecendo de outros talentos e atributos que ela tinha. Isso sempre lhe trouxe muita tristeza.

Um ano depois de eleita miss, Iraceles teve que deixar a cidade – por problemas familiares – para trabalhar e morar em São Paulo. Mesmo tendo feito o curso Normal, especialização em Ciência e Inglês, não conseguiu emprego na área. O único serviço que arranjou foi em uma loja de calçados. O salário era ruim, mas logo arrumou um novo em um escritório de um amigo de seu pai. Ele lhe pagava parte em dinheiro e a outra parte em cursos de taquigrafia e inglês. O dinheiro dava para almoçar e pagar um quarto na casa de uma viúva. Na hora do jantar, bebia água para enganar a fome. Não bastasse tudo isso, por vezes era roubada pelo filho da pensionista.

Certo dia, leu em um jornal que estavam admitindo uma recepcionista para trabalhar em uma Corretora de Valores do banco Itaú e foi atrás da vaga, que acabou sendo sua. “O salário não era bom, fui mesmo porque lá ofereciam almoço. Mais tarde, comecei também a trabalhar de graça para o Itaú, das 18h às 22h. Eu não podia ganhar um salário porque era registrada pela Corretora e não pelo banco. Em compensação, me davam um lanche e uma coca-cola”, disse. O trabalho voluntário de Iraceles se espalhou pelo banco até chegar ao conhecimento dos diretores. Todos ficaram encantados e quiseram conhecê-la. Celinha sempre dizia que tinha vontade de ser secretária, por isso estava ali. Não levou muito tempo para que fosse contratada pelo banco como secretária do setor de marketing. Tempos depois foi promovida à secretária de divisão e, em seguida, de departamento, até chegar a ser secretária da diretoria de marketing.

Seu trabalho era admirado até mesmo pelos clientes do banco. Um deles - a agência publicitária DPZ - a convidou para trabalhar com eles e ela foi. Celinha passou a ganhar bem e até alugou um apartamento. Mais tarde, cansada de morar sozinha, foi viver com a família de uma amiga, que era natural de Salvador. Um dia eles resolveram voltar para a terra natal e convidaram Celinha para ir junto, ela foi. Por 20 anos da sua vida morou na Bahia. Seu primeiro emprego foi como secretária bilíngue da empresa Texaco. Logo se casou e foi plantar café na Chapada da Diamantina. De secretária bilíngue virou fazendeira, literalmente, pois anos depois seu esposo ficara doente e teve administrar os negócios. Chegou a plantar 60 mil pés de café, mas acabou voltando a trabalhar como secretária.

Nessa época, seu casamento ia de mal a pior. Iraceles era obrigada a sustentar a casa sozinha. Toda essa situação a cansou. Um dia não aguentou e pediu demissão do serviço. Pouco tempo depois descobriu que estava grávida. Para sustentar a casa novamente, aprendeu a fazer crochê, pães e chegou até a dar aula de inglês. Quando seu filho chegou aos 12 anos o casal se separou e Celinha voltou a Fernandópolis. Aqui, não conseguiu arrumar bons empregos, pois empresários ao avaliar seu currículo, diziam não ter condições de pagá-la. A solução foi voltar a vender pães como fazia em Salvador. Por cinco anos, saiu pelas ruas de Fernandópolis oferecendo o “pão delícia”. Vendia por dia, uma média de 100 pães. Até que um dia teve um câncer de pele e problemas na coluna e precisou parar de trabalhar. Mas, como sempre procurou compensar as perdas, desta vez, Celinha decidiu criar um novo estilo de vida para si. Deixou de lado a tristeza e angústia e se juntou à Unati (Universidade Aberta à Terceira Idade). “Quando me aposentei minha vida ficou muito ociosa, então resolvi fazer parte da Unati. Foi quando conheci a Maria José Pessuto, que fez com que em minha vida se criasse um divisor de águas. Ela investe, acredita nas pessoas, assim ela fez comigo. Hoje toco violão, canto, escrevo poesias e declamo. Meu sonho é escrever um livro de poesia e outro contando minha história de vida. Meu segundo maior sonho é montar um condomínio para idosos, vinculado com a Unati. Acredito que quando a gente quer tudo é possível. Eu creio”, concluiu.