Alguém com o dom de servir

20 de Agosto de 2025

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Alguém com o dom de servir
Maria José Pessuto Cândido nasceu em Valentim Gentil no ano de 1949. Quando tinha seis meses de vida, seus pais – Bernardo Pessuto e Anna Col Pessuto – decidiram mudar para Fernandópolis. Dos sete filhos que o casal teve, Maria era a única mulher. A predominância do sexo masculino na casa fez com que sua liberdade fosse – por diversas vezes - tolhida pelo ciúme. Tais atitudes fizeram com que Maria José se tornasse uma moça retraída, tímida e de pouca iniciativa.

Mesmo depois de casada, seu marido – Adeval Cândido Garcia – teve que insistir muito para despertar nela a vontade de conquistar o seu próprio mundo, tomar decisões e lutar pelos seus direitos. “Lembro-me que logo depois que casamos, pedi para o meu marido ir ao banco receber meu salário do mês. Mas ele se negou e insistia em dizer que o dinheiro era meu, portanto, eu mesma deveria sacá-lo. E assim ele fazia todas as vezes que eu sentia vergonha de fazer algo”

Maria José – que era professora - lecionou no Estado por 26 anos e durante seis em escola particular. Além do curso Normal, fez especialização em pré-escola, pedagogia e estudos sociais. Para dar conta das aulas, fazer cursos, cuidar da casa, do marido e dos três filhos (Henriana, André e Tiago), precisou de muita garra e disposição. Um dos filhos, o caçula, chegou ser amamentado – por diversas vezes - durante os intervalos de aulas.

Há quem diga que ela foi muito mais do que professora. A atenção que dispensava aos alunos sempre ia além da sala de aula. Já depois de aposentada, percebeu que faltavam aulas a muitos professores. Isso a levou a decidir deixar de lecionar e aposentar-se de vez.

Para não ficar parada, dedicou-se a trabalhos voluntários. Começou coordenando o Projeto Juventude Vida – que abriga jovens com a liberdade assistida. Ali permaneceu por dois anos. Maria também sempre esteve à frente de diversas pastorais da Igreja Católica. Foi em uma delas – na do idoso, durante a Campanha da Fraternidade de 2003 – que teve início a Unati (Universidade Aberta à Terceira Idade), onde atua como presidente há quatro anos.

Quando a Universidade foi criada, Maria José entrou como vice-diretora; mas em meados de 2005, a Unati quase foi fechada por problemas internos. Para não ver o trabalho morrer, ela assumiu a presidência e fez renascer um projeto que já estava em decadência. Sem nenhum dinheiro em caixa para saldar as dívidas, Maria começou o trabalho. Aos poucos foram surgindo voluntários, mais idosos foram se achegando, diversos cursos foram sendo criados, comerciantes e clubes de serviço iam se oferecendo para contribuir com o trabalho – que aos poucos foi se solidificando.

Hoje a Unati conta com cerca de 300 alunos matriculados; 68 puderam realizar o sonho de fazer um curso de nível superior através de um convênio firmado com as duas faculdades e a Universidade. “Meu lema é servir, tenho prazer em servir às pessoas. O trabalho da Unati me proporcionou isso. Posso dizer que minha vida tem um antes e depois da Unati”

No mesmo ano em que assumiu a Unati, entrou também para a carreira política ao se lançar candidata ao cargo de vice-prefeita na chapa do Padre Mário Faria, mas eles acabaram perdendo as eleições. Maria também atuou no setor de turismo, onde, por muitos anos, organizou excursões para diversas partes do país e para a Europa.

Sua vida sempre foi muito agitada, desde que seu marido lhe deu “carta branca” e incentivos para lutar pelos seus próprios ideais - ela nunca mais parou. É com carinho que Maria José se refere ao esposo. Com 39 anos de casados, Adeval e Maria não deixam de cultivar o amor que há entre eles. O segredo da harmonia do casal pode ser resumido nesta história contada por Maria José, no final da entrevista: “Depois de certa idade, meu marido disse que queria aprender a tocar violão. Todos os dias eu saía de casa para ir às reuniões das pastorais e deixava meu marido tocando o instrumento. Quando o chamava para me acompanhar, sempre respondia: vou ensaiar um pouco para ver se aprendo a tocar. Certo dia, estávamos em uma festa quando meu marido se levantou e disse que iria cantar e tocar no violão uma música para mim. E cantou a música “Amor sem limite”, do Roberto Carlos. No final da festa, várias pessoas vieram me parabenizar dizendo: “nossa, não sabia que seu marido tocava e cantava tão bem”. Dentro de mim eu respondia: “nem eu!”.