O fisioterapeuta Wagner Kamiyama é um interessado universal nas técnicas utilizadas na sua área profissional especialmente aquelas de origem oriental. Casado com Silmara e pai de Laís e Lucas, esse sul-matogrossense de Aparecida do Taboado especializou-se em tratamento de coluna, acupuntura, RPG, quiropraxia e shiatsuterapia. Nesta entrevista, ele fala dessas técnicas e de como ele foi mudando a sua forma de enxergar a profissão, a cada novo segredo descoberto.
CIDADÃO: Qual é a sua formação acadêmica?
WAGNER: Eu fiz Fisioterapia, com especialização em medicina chinesa. Tenho também especialização em fisiologia do exercício, que é aplicada para melhorar o atendimento na parte de reabilitação física. Mas, aqui em Fernandópolis, eu atuo mais como acupunturista do que como fisioterapeuta.
CIDADÃO: Você trabalha com tratamento de coluna, acupuntura, RPG, quiropraxia, shiatsuterapia. Certamente, muita gente não sabe o que é quiropraxia, por exemplo. Defina o que é.
WAGNER: A quiropraxia é uma ciência que trabalha com o segmento músculo-esquelético, visando ao equilíbrio dessa estrutura.
CIDADÃO: Quem deve procurar o quiropraxista?
WAGNER: Basicamente, o paciente que precisa desse tratamento é aquele que tem sintomas de dor, desvios de postura. Para aprofundar só um pouco mais na quiropraxia que também trabalha no segmento coluna é bom dizer que também interfere no funcionamento de órgãos internos, e fazendo os ajustes da coluna você melhora o metabolismo do paciente.
CIDADÃO: A quiropraxia pode ser aplicada paralelamente a um tratamento médico convencional?
WAGNER: Exatamente, como adjuvante a todos os tratamentos na área de saúde. Tome como exemplo um desvio de padrão de postura no dorso curvo, uma corcunda; o paciente que está em tratamento médico ortopédico, associado ao RPG: a quiropraxia é muito indicada, porque na mobilização desse segmento coluna, onde estão as vértebras, ela ajuda muito na reabilitação do paciente.
CIDADÃO: Sob a ótica da RPG, qual é o grande problema postural do povo brasileiro?
WAGNER: A gente ouve muitas queixas. O brasileiro, de uma maneira geral, vive reclamando de dores de todo tipo. Penso o seguinte: antropologicamente falando, o ser humano ainda está em processo de evolução. Há tempos atrás, o homem tinha mais atividade física, era menos sedentário. Além disso, há um descuido muito grande em relação à ergonomia, tanto no trabalho quanto no repouso. Antigamente, as pessoas andavam mais a pé, sentavam melhor, não dispunham de tantos objetos pseudo confortáveis, como sofás. Hoje em dia não dá pra saber se você está sentado ou deitado num sofá. Os automóveis são utilizados excessivamente. O sujeito mora a dois quarteirões da padaria, mesmo assim tira o carro da garagem para andar esse pequeno percurso. A questão da postura inclui muitos fatores, desde o emocional, a formação e desenvolvimento da pessoa, tanto física quanto emocional. Problemas como sobrepeso, desnutrição na infância, formação óssea, tudo isso interfere. Isso, na parte da patologia. Agora, quanto à RPG, a ajuda no tratamento é fantástica, a RPG tem um papel importantíssimo na reabilitação da postura, e consequentemente no controle das dores que a má postura acarreta. O ser humano, fisicamente, tem que ser fundamentado num tripé onde têm que estar em harmonia a flexibilidade, a força muscular e o equilíbrio. Quando você tem esses desvios de postura, você interfere em uma dessas bases, provocando dores e deformidades. A RPG, como o próprio nome diz, Reeducação Postural Global, corrige o padrão de postura através da reabilitação das cadeias musculares. Existindo harmonização desses fatores, certamente não haverá dores ou deformidades.
CIDADÃO: O que é pior: desforços físicos exagerados, como se verifica, por exemplo, com os lavradores ou os trabalhadores braçais, ou a tensão muscular que advém do stress por que passa, por exemplo, um empresário, um grande executivo?
WAGNER: Vamos por partes. Em primeiro lugar, é bom lembrar que hoje em dia ninguém está livre de acumular tensões na parte músculo-esquelética. Agora, nem todas as pessoas, como os executivos que você citou, que trabalham sob tensão, somatizam na parte músculo-esquelética. Cada ser humano tem uma característica de somatização para determinada região do corpo. Você pode ter uma função intelectual, sedentária, e não acumular tanta tensão na musculatura quanto uma outra pessoa que tenha hábitos semelhantes aos seus. Essa somatização pode perfeitamente acontecer em outras partes. Você já deve ter ouvido falar em úlcera nervosa, hipertensão emocional, tensão muscular emocional. Enfim, cada um tem uma característica de somatizar em uma determinada região do corpo. A pessoa que carrega peso, que trabalha desgastando o corpo, pode, dependendo de sua formação física, desenvolver problemas músculo-esqueléticos no futuro ou não, se tiver uma compleição física apropriada para isso. Lógico, isso depende da carga que essa pessoa sofre e o desgaste que tem. Para reabilitar qualquer um desses dois tipos de pacientes, não existe como dizer se um ou outro é mais difícil. Não tem jeito de tratar o ser humano por partes. É preciso saber a origem do problema e encontrar para ele uma válvula de escape. O tratamento tem que ser holístico, ou seja, como um todo.
CIDADÃO: O fato de você ser acupunturista tem a ver com a sua origem oriental?
WAGNER: Tem muito a ver, sim. Na verdade, quando a gente inicia na profissão, a gente percebe que fica muito restrito ao tentar tratar o paciente holisticamente. As informações que obtemos vão se complementando em prol da melhoria global do paciente. A acupuntura, para mim, tem a ver, sim, com o sangue, o DNA, já que o meu pai nasceu no Japão e veio para cá com vinte e poucos anos. O oriental lança mão sempre desses recursos, há muitos e muitos anos. Mas também tem o seguinte: é um recurso a mais que eu quis buscar para ajudar no tratamento holístico dos meus pacientes. A princípio, eu só trabalhava com reabilitação física. Hoje, trabalho com a reabilitação do ser como um todo. E, nisso, a acupuntura me ajudou bastante.
CIDADÃO: Essas técnicas com as quais você trabalha podem ser usadas em pessoas de mais idade?
WAGNER: Sim, as pessoas mais idosas normalmente apresentam tipos de patologias diferentes do jovem. Todas essas técnicas podem ser importantes para eles. É claro que técnicas como a quiropraxia, por exemplo, exigem certos cuidados, quando empregadas com essa população mais velha. Se o quiropraxista não tiver uma formação adequada na área de saúde, ele poderá não ser útil para o paciente. Nós sabemos, por exemplo, que o negro tem menor tendência ao desenvolvimento de doenças ósseas, como a osteoporose, se comparado aos caucasianos. O negro é mais vulnerável a problemas articulares, como artrite, ou vasculares. Então, se eu vou tratar uma paciente de 70 anos de idade, de pele clara, de origem alemã, ora, tenho que saber que há maior predisposição à osteoporose; consequentemente, até posso lançar mão de um recurso terapêutico desse tipo, só que com muito mais cautela. Já a acupuntura não; a acupuntura é fantástica para todas as idades, sem restrição para o idoso.