Um voto de fé que deu nova vida a 80 sonhadores

20 de Agosto de 2025

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Um voto de fé que deu nova vida a 80 sonhadores
Juntos eles somam 80, cada um com um sonho e com uma história de vida que, por diversas vezes, se confunde com a de Marcos Vilela, fundador do projeto a que eles pertencem: “Os Sonhadores”. Marcos veio de uma família pobre, seu pai trabalhava na roça e a mãe cuidava dos nove filhos que o casal teve. Vilela e sua irmã gêmea, Marta, eram os caçulas; mas nem por isso tinham privilégios, eles também eram encarregados de ajudar nas despesas da casa. Mesmo com todos trabalhando, já chegaram a passar necessidades. “Muitas vezes eu ia sem comer para a escola e fica esperando o intervalo para comer a sopa que não tinha carne, só vinha osso. Meus pais não tinham condições de comprar os livros que a escola pedia, nem o uniforme. Éramos bem pobres”.

Quando Marcos causou-se, aos 24 anos de idade, esperava dar uma vida melhor à sua família. Mas parte de seus planos foram logo frustrados quando nasceu o primeiro filho e o médico comunicou que o garoto nascera com um problema no esôfago. Com apenas dois dias de vida, o pequeno Guilherme teve que submeter-se a uma cirurgia. “O problema é que a cirurgia custava R$ 8 mil. Então disse ao doutor Humberto - que era o médico que cuidava do meu filho - que eu só tinha uma moto que valia R$ 2,5 mil e que poderia vendê-la. Mas o médico disse: se depender de mim eu serei um instrumento guiado por Deus para curar teu filho, ele não há de morrer”.

O bebê foi encaminhado ao Hospital de Base para fazer a cirurgia gratuitamente. Marcos deveria apenas pagar por três tubos que continham um medicamento que seria usado durante o procedimento. Ocorre que cada um custava R$ 2,5 mil. Novamente os pais ficaram com o coração apertado, pois sabiam que não tinham dinheiro suficiente para salvar a vida do filho. Mas graças à ajuda dos alunos do doutor Humberto, o medicamento foi comprado. Ao todo, Guilherme passou por oito cirurgias, ficou durante um ano internado no Hospital de Base de São José do Rio Preto e por três anos e oito meses se alimentou por uma sonda.

Entre uma cirurgia e outra, Guilherme foi desenganado pelo médico, que chegou a pedir aos pais para que levasse o garoto para morrer em casa. Sem mais poder contar com a ciência, Marcos e sua esposa Ivarneli decidiram contar, agora, com as forças divinas. Por um conselho da mãe, Vilela levou o garoto a uma igreja evangélica para que o pastor orasse por ele. Naquela mesma noite Guilherme começou a melhorar. Marcos fez, então, um voto a Deus dizendo que, caso o filho fosse curado, ele se dedicaria a um trabalho voluntário com crianças. Outras cirurgias vieram e Guilherme passou a responder ao tratamento, até que aos seis anos de idade foi curado.

Em 2001, Marcos começou a cumprir sua promessa. Pegou três garotos que moravam em seu bairro e levou para jogar bola no Ginásio de Esportes Beira Rio. Em pouco tempo o número aumentou para seis, depois para dez. Nesse ínterim, chegava à cidade o juiz da Vara da Infância e Juventude, Evandro Pelarin, que veio a se tornar um dos grandes colaboradores do projeto. “Eu ouvi o doutor Evandro falando na rádio e decidi chamá-lo para dar uma palestra para os meninos. Fui até o Fórum, entrei em sua sala de chinelo, cabeça raspada. Somente depois de algum tempo ele me revelou que pensou se tratar de mais um que vinha pedir para soltar alguém da família. Nem acreditei quando ele disse que daria a palestra. Organizei um almoço, foi ele e o doutor Eduardo Querobini. Naquela tarde eles até jogaram bola com a criançada”, disse.

Percebendo que as crianças não tinham chuteira para jogar, Pelarin fez uma doação a elas. Aos poucos foram chegando outras crianças e voluntários. A princípio, o grupo ainda não tinha um nome oficial. Foi então que uma criança, Vanderlei, teve a ideia de batizar como o nome de “Os Sonhadores”, pois segundo ele, cada um tinha um sonho. Hoje o grupo conta com 80 crianças que formaram, além de times de futebol, uma orquestra de violinos e uma fanfarra. Os instrumentos foram doados por empresários que se identificaram com o trabalho.

“Os Sonhadores” também possui uma diretoria que auxilia a Marcos. Entre eles está o empresário Devacir Pinto (Xté) que tem cedido sua chácara – que fica a poucos quilômetros da cidade – para as crianças se divertirem e terem um lazer aos finais de semana. Depois de quase dez anos à frente desse trabalho, Marcos diz estar cansado, pois levanta às 5h30, vai para o seu trabalho, no Tribunal de Justiça de Ouroeste, e só retorna por volta das 18h30. Durante a semana participa de todos os trabalhos que são desenvolvidos com os jovens e aos finais de semana também se dedica a eles. “Eu não levo uma vida fácil, às vezes me sinto um pouco cansado. Meu filho, Guilherme, fala em me substituir na presidência dos Sonhadores um dia. Isso é muito bom, pois o meu sonho é ver essas crianças realizadas e lá na frente poderem lembrar de mim e da oportunidade que tiveram através de tantos parceiros desse projeto”, conclui Marcos Vilela.