Caminhoneiro: uma profissão não reconhecida

20 de Agosto de 2025

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Caminhoneiro: uma profissão não reconhecida
Em junho, fez um ano que os caminhoneiros de todo país paralisaram as atividades para reivindicar melhorias; segundo a classe, a profissão ainda continua desvalorizada

“Se os caminhoneiros pararem o país acaba; mas ninguém dá valor a essa profissão”. Essa frase foi dita essa semana pelo caminhoneiro José Galvani, 53, durante uma entrevista ao Jornal CIDADÃO.

Caminhoneiro há 40 anos, José sente que a classe nunca esteve tão desvalorizada como agora. O mesmo afirma um colega de profissão, Luís Antonio de Lima. “Antigamente a gente conseguia sustentar a família e comprar bens, como carro e casa. Hoje o caminhoneiro tem que vender a casa e o carro para poder sobreviver, porque só o salário que ganha não dá. Um amigo que trabalha com a gente passou por isso”, disse Luís.

Em junho, fez um ano que os caminhoneiros autônomos paralisaram para reivindicar melhorias. O movimento que durou quatro dias, ameaçava parar o País. De acordo com o presidente da Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam), José da Fonseca Lopes, o único objetivo da paralisação era chamar atenção para os problemas que os motoristas enfrentam, como falta de segurança nas estradas, aumento do óleo diesel e redução do valor do frete.

Um ano após a paralisação, caminhoneiros afirmam viver o mesmo dilema. Para eles, segurança na estrada é algo que nunca existiu. Depois de ver vários colegas morrerem em acidentes ou serem pegos de surpresa por bandidos, prudência e fé são as únicas esperanças.

A dica para quem sai para as estradas é sempre parar em locais seguros para descansar e antes de sair, fazer uma prece. “Não importa para quem é feita a prece, pois cada um tem a sua religião, mas é preciso pedir proteção, pois as estradas estão cada vez mais perigosas”, disse Luís.

Outro ponto que não teve grandes mudanças após a paralisação de 2008 foi com relação ao óleo diesel e redução do valor do frete. Segundo os motoristas, o valor do frente não acompanha o valor do óleo diesel.

Mesmo com redução de 9,6% do óleo diesel para o consumidor final, anunciada pelo ministro Guido Mantega no início de junho, alguns postos insistem e não repassar o valor verdadeiro ao consumidor.

Em Fernandópolis, o preço do óleo diesel varia entre R$ 1,89 e R$ 1,96. Já nos postos de combustíveis de outras cidades, os motoristas afirmam pagar bem mais de R$ 2. “O preço do óleo diesel continua um absurdo e o frete nunca consegue acompanhar o valor. Aqui o preço do diesel gira em torno de R$ 1,90 – mas lá na baixada tem lugar que está mais de R$ 2”, afirmou Lima.


Motoristas criticam Projeto de Lei vetado por Presidente

Outro ponto que não ficou de fora da entrevista foi a revogação do Projeto de Lei 2.660, de 1996, que acrescentaria dispositivo ao Código de Trânsito Brasileiro sobre o tempo de direção do motorista de caminhão e ônibus.

Segundo os caminhoneiros, a revogação do PL foi o melhor caminho, pois só atrapalharia a vida dos profissionais. “Quem criou esse projeto nunca conversou com um caminhoneiro para saber quais as suas reais necessidades. A aprovação só atrapalharia, pois a gente tem prazo de entrega para cumprir e parar a cada quatro horas atrasaria e muito. Produtos como carne e frutas estragariam”, disse um caminhoneiro.

O Projeto de Lei - mais conhecido como “Lei do tempo de direção” – estava em tramitação há 13 anos e tinha por objetivo regulamentar a jornada de trabalho dos motoristas e restringir o tempo de direção sem descanso. O texto da Lei determinava que, a cada quatro horas ao volante, todos profissionais deveriam fazer uma pausa para descanso. Este tempo podia ser extrapolado em uma hora, para que o motorista procurasse um local adequado para sua parada e descanso. O descumprimento da regra seria considerado infração gravíssima e acarretaria em multa e retenção do veículo.

Por meio do despacho 537, o presidente Lula vetou, no último dia 13, todo o texto do projeto de lei, argumentando que, após orientação do Ministério das Cidades, considerou que o PL 2660 prevê as regras para condução “apenas em rodovias, ou seja, via pavimentada, não abrangendo estradas”.

Diante da interpretação do PL, o presidente Lula argumentou que os agentes de fiscalização não teriam como verificar o tipo de via em que o veículo estaria trafegando e que, diante disso, a fiscalização não seria eficaz. Além disso, Lula também questionou a fiscalização por meio do tacógrafo.